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Vale a pena investir em startups com a Selic a 15%?

Em artigo, Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil e sócio da Alya Ventures, argumenta que o momento é propício para o investimento, mas é preciso seguir alguns cuidados para minimizar o risco

Cassio Spina: "O investidor que aporta capital hoje não está mirando o cenário econômico atual, mas o ambiente que prevalecerá no futuro — quando essas startups estarão mais maduras ou prontas para uma liquidez, seja via aquisição ou IPO" (Feodora Chiosea/Getty Images)

Cassio Spina: "O investidor que aporta capital hoje não está mirando o cenário econômico atual, mas o ambiente que prevalecerá no futuro — quando essas startups estarão mais maduras ou prontas para uma liquidez, seja via aquisição ou IPO" (Feodora Chiosea/Getty Images)

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Redação Exame

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 16h16.

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Por Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil e sócio da Alya Ventures

Quando a taxa Selic se encontra em patamares elevados, como 15%, muitos investidores são tentados a concentrar seus recursos em ativos de renda fixa, atraídos pela previsibilidade e altos rendimentos nominais.

No entanto, para o investidor que pensa no médio e longo prazo, essa pode ser justamente a melhor hora para direcionar parte de seu portfólio para startups. Entender os ciclos de investimento e o impacto das taxas de juros no valuation das empresas é essencial para tomar decisões estratégicas.

Investir em startups é, por definição, um movimento de médio a longo prazo. O horizonte médio de retorno para um portfólio de venture capital gira em torno de cinco a sete anos.

Ou seja, o investidor que aporta capital hoje não está mirando o cenário econômico atual, mas o ambiente que prevalecerá no futuro — quando essas startups estarão mais maduras ou prontas para uma liquidez, seja via aquisição ou IPO.

Nesse contexto, a perspectiva é de redução gradual da taxa de juros ao longo dos próximos anos, acompanhando o ciclo econômico. Ao investir hoje, o investidor compra participações em empresas que, no futuro, tendem a ser avaliadas com múltiplos mais altos, beneficiadas por um custo de capital menor.

Essa valorização potencial pode gerar retornos significativamente superiores aos de quem entra no mercado quando as taxas já estão baixas e os valuations inflados.

Os valuations das startups são diretamente impactados pelo custo de capital. Em períodos de juros altos, o dinheiro é mais caro e o apetite por risco diminui. Isso reduz a quantidade de capital disponível para rodadas de investimento, pressionando os valuations para baixo. Para o investidor que está disposto a diversificar agora, isso significa a possibilidade de adquirir participações a preços mais atrativos.

Historicamente, o mercado demonstra um comportamento cíclico. Em 2021, por exemplo, com juros em mínimas históricas, o volume de investimentos em startups disparou, inflando valuations em vários setores.

Quem entrou nesse momento, muitas vezes, viu suas participações perderem valor quando as taxas subiram novamente e o mercado corrigiu. A lição é clara: os melhores retornos tendem a vir de investimentos feitos nos momentos de retração, quando poucos estão dispostos a investir.

Momento oportuno

Portanto, o momento de juros elevados pode ser considerado uma “janela de oportunidade”. Ao investir quando o capital está escasso, o investidor se posiciona para colher os frutos quando o mercado se recuperar.

A valorização tende a acontecer rapidamente no início de ciclos de queda de juros, elevando os valuations de forma significativa. Perder esse timing pode significar entrar no mercado em um ponto menos favorável, pagando caro pelas mesmas empresas.

Como exemplo indicativo a relevância da sua oportunidade, o Itaú Unibanco anunciou recentemente o lançamento do Itaú Ventures, seu novo fundo de Corporate Venture Capital, alocando R$ 500 milhões para investir em startups e não dúvida de que bancos sabem melhor do que ninguém aonde e quando é o melhor momento de investir.

Também importante lembrar que o investimento em startups deve ser limitado a 10% do seu portfólio, assim, mesmo não tendo liquidez de curto prazo e maior risco, não irá comprometer significativamente o mesmo no caso de um retorno menor que o esperado, por outro lado, considerando que a taxa interna de retorno média do investimento em startups supera os 25% ao ano, em 5 anos poderá triplicar seu valor, potencializado os ganhos da sua carteira.

Boas práticas para investidores

Apesar do potencial de retorno, é fundamental seguir boas práticas para reduzir riscos. A primeira delas é a diversificação do portfólio. Investir em apenas uma ou duas startups aumenta exponencialmente o risco de perda total, dado o alto índice de mortalidade dessas empresas.

O ideal é compor um portfólio amplo, com pelo menos dez a quinze participações, para que o sucesso de poucas possa compensar eventuais fracassos.

Outra prática recomendada é investir de forma contínua, evitando concentrar todo o capital em um único período ou rodada. A constância permite capturar diferentes momentos do ciclo econômico e reduzir o impacto de oscilações de curto prazo.

Os investidores de maior sucesso no mercado de startups são aqueles resilientes e disciplinados, que mantêm suas teses de investimento ao longo do tempo e resistem à tentação de seguir modismos ou interromper aportes em períodos de retração.

Investimento coletivo e governança

Uma estratégia adicional é investir em conjunto com outros investidores, seja por meio de sindicatos (syndicates), fundos ou grupos de investidores anjo como a Anjos do Brasil. Essa abordagem dilui o risco individual e agrega inteligência coletiva, aumentando as chances de selecionar bons empreendimentos.

Além disso, mais investidores engajados significam maior apoio estratégico à startup, desde conexões com clientes até suporte em temas de gestão.

É fundamental, contudo, que essa relação seja pautada por uma governança bem definida, tanto entre os investidores quanto com a própria startup. Acordos claros sobre direitos, deveres e mecanismos de tomada de decisão são essenciais para evitar conflitos futuros e proteger o capital investido.

Investir em startups com a Selic a 15% pode parecer contraintuitivo, mas, para quem pensa no longo prazo, é uma decisão estratégica. O atual cenário de juros altos pressiona valuations para baixo, criando oportunidades para adquirir participações a preços mais acessíveis.

Quando a taxa de juros começar a cair, os valuations tendem a subir de forma acelerada, e quem se posicionou antes poderá colher retornos expressivos.

A chave está em seguir boas práticas: diversificação, constância, investimento coletivo e governança clara. Dessa forma, o investidor se coloca em uma posição privilegiada para aproveitar o próximo ciclo de valorização e transformar o cenário desafiador de hoje em uma oportunidade de geração de riqueza no futuro.

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