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Vaporetto: o que aconteceu com o eletrodoméstico de vapor que virou febre nos anos 90

Símbolo de inovação doméstica nos anos 1990, o Vaporetto chegou a vender mais no Brasil do que na Itália — até que uma briga societária levou ao fim da operação nacional

Vaporetto: faturamento bateu 80 milhões de reais em 1996 e 100 milhões de dólares no ano seguinte — superando o desempenho da própria Polti na Itália (Vaporetto/Reprodução)

Vaporetto: faturamento bateu 80 milhões de reais em 1996 e 100 milhões de dólares no ano seguinte — superando o desempenho da própria Polti na Itália (Vaporetto/Reprodução)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 12 de julho de 2025 às 08h14.

Ele prometia limpar a casa inteira só com vapor — e entregava.

O Vaporetto, da marca italiana Polti, foi um dos eletrodomésticos mais cobiçados dos anos 1990 no Brasil.

Com visual robusto, jato potente e acessórios para todo tipo de superfície, o aparelho virou febre entre donas de casa e profissionais de limpeza. E tudo começou com uma revista.

O engenheiro brasileiro João Zangrandi descobriu o Vaporetto em uma reportagem sobre Franco Polti, criador do aparelho, publicada numa revista italiana. Interessado na proposta de limpeza ecológica sem produtos químicos, entrou em contato com a empresa e propôs trazer o produto para o Brasil. A negociação deu certo — e, em 1993, foi inaugurada uma fábrica da Polti em Araras (SP), com foco no mercado nacional e América do Sul.

Na época, grandes redes varejistas recusaram-se a vender o produto, considerando-o caro e “difícil de explicar”. Zangrandi apostou em outra via: vendas porta a porta. Promotores iam até condomínios, casas e feiras com o aparelho nas mãos. Mostravam o vapor eliminando gordura do fogão, desinfetando colchões e limpando azulejos sem detergente, só com água.

O público não só comprava — como indicava para vizinhos.

Entre 1995 e 1998, o Vaporetto virou um sucesso de boca a boca, com apoio de demonstrações em feiras e aparições pontuais na TV. Em 1996, foram vendidas 230 mil unidades, triplicando o volume do ano anterior. O faturamento bateu 80 milhões de reais em 1996 e 100 milhões de dólares no ano seguinte — superando o desempenho da própria Polti na Itália.

Com sede em Araras, a Polti do Brasil chegou a empregar cerca de 200 pessoas e se tornou referência de inovação no setor de eletrodomésticos. A marca vendia direto ao consumidor final, com treinamento especializado para equipes de vendas. A estratégia era clara: impressionar ao vivo.

Não era um produto barato. Mas o discurso era sedutor: substituía produtos químicos, limpava melhor e durava anos. Nas classes média e alta, o Vaporetto virou sinônimo de tecnologia doméstica, um “gadget” de limpeza premium — coisa de quem estava à frente do tempo.

Como um brasileiro transformou o negócio

Zangrandi não apenas trouxe o Vaporetto ao Brasil — ele moldou toda a estratégia de entrada da marca no país.

Com o apoio da Polti, ele se tornou presidente da operação brasileira e sócio preferencial da matriz italiana. A ideia era ambiciosa: não apenas importar os aparelhos, mas produzi-los localmente, adaptando design, voltagem e até acessórios ao mercado nacional.

A produção ficou concentrada na nova unidade fabril de Araras, interior de São Paulo. A planta atendia o Brasil e parte da América do Sul, com capacidade para escalar conforme a demanda. Mas o maior trunfo de Zangrandi não estava na engenharia — estava no modelo de venda direta.

O Vaporetto era vendido de forma pessoal e performática. As equipes batiam à porta com o aparelho nas mãos, ligavam o vapor, faziam a demonstração no chão da sala e respondiam a objeções em tempo real. O que parecia caro na vitrine virava convincente no tapete.

O boca a boca impulsionou as vendas. Em vez de investir pesado em mídia, Zangrandi investiu em treinamento comercial. Em poucos anos, o aparelho se tornou uma presença comum em casas de classe média alta, especialmente em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Curitiba.

Como foi o fim da Vaporetto no Brasil

Em 1998, no auge do sucesso, a sociedade entre Zangrandi e Franco Polti acabou.

As razões não foram detalhadas publicamente, mas o rompimento teve impacto direto na operação brasileira. Zangrandi se desligou da empresa, e o controle foi reassumido pela matriz italiana.

Sem o comando do empresário brasileiro e com o fim das vendas diretas, o negócio perdeu força. Poucos anos depois, a fábrica de Araras foi fechada e a produção passou a ser feita em unidades da China e da Europa. O modelo de demonstração também foi abandonado, e o Vaporetto tentou se reposicionar via varejo — onde nunca teve tração.

Ao mesmo tempo, o mercado de eletrodomésticos mudou. O consumidor passou a buscar soluções mais compactas, baratas e plug-and-play.

O que restou do Vaporetto no Brasil

Hoje, os modelos clássicos da Vaporetto ainda circulam — mas no mercado de segunda mão. É comum encontrar versões antigas, como o Vaporetto 2000 ou Eco System, à venda em sites como OLX, Mercado Livre ou Enjoei. Muitos ainda funcionam perfeitamente, mesmo com décadas de uso.

A Polti segue ativa na Europa, com uma linha de limpeza a vapor para uso doméstico e profissional. Seu portfólio inclui limpadores de piso, ferros de passar, sistemas de higienização e equipamentos para hospitais e lavanderias industriais.

O Vaporetto foi mais do que um eletrodoméstico. Ele representou uma nova forma de vender — olho no olho, com argumento técnico e demonstração prática.

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