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Ele criou uma IA que caça tarifas escondidas (e faz empresas economizarem milhões)

A startup mineira Voll acaba de lançar três agentes de inteligência artificial dedicados a cortar os custos de viagens de trabalho

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 11 de agosto de 2025 às 11h15.

Última atualização em 11 de agosto de 2025 às 11h21.

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Na tela do computador, o voo para São Paulo às 9h da manhã custa R$ 2.000. Quando você vai pagar, já está saindo por R$ 1.200. Uma economia de 800 reais num trocar de página, tão rápido que você quase não nota. E sem nenhum esforço humano. É isso que a Voll quer multiplicar a partir de hoje, com o lançamento de um novo marketplace de agentes de inteligência artificial (IA) dedicados a cortar custos de viagens corporativas.

O anúncio oficial acontece num evento setorial nesta segunda-feira, 11, mas a startup mineira — que atende três das cinco empresas mais valiosas do Brasil e prevê faturamento superior a R$ 1,7 bilhão em 2025 — decidiu antecipar os detalhes à EXAME.

“Queremos sair da conversa conceitual sobre IA e entregar aplicações práticas que geram economia real e liberam o gestor para atuar de forma estratégica”, diz Luciano Brandão, CEO e cofundador.

O lançamento surge num momento em que a gestão de custos ganha urgência no setor. O turismo corporativo brasileiro movimentou R$ 131 bilhões em 2024, crescimento de 5,5% em relação a 2023, segundo levantamento da FecomercioSP e Alagev.

Em um cenário de tarifas instáveis — seja pelo câmbio ou por tensões globais, como as recentes tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump nos EUA —, encontrar a melhor oferta não é apenas uma questão de eficiência, mas de sobrevivência financeira para empresas que fazem milhares de deslocamentos por ano.

“Você imagina o gestor de viagens de uma companhia que faz 100 mil deslocamentos anuais tentando garantir manualmente que todos estão no melhor custo-benefício. É humanamente impossível”, resume Brandão.

A solução da Voll foi criar o Smart Hub, um ambiente dentro do próprio app da empresa que funciona como uma “loja de aplicativos”, onde cada app é um agente de IA programado para resolver um gargalo específico das viagens corporativas.

Os três primeiros agentes da VOLL

1. AirSave – o caçador de tarifas aéreas em tempo real

Entre todas as despesas de uma viagem corporativa, as passagens aéreas representam até 75% do orçamento.

O AirSave atua entre o momento em que o funcionário solicita a passagem e o gestor aprova. Ele varre o mercado em segundos, encontrando opções com mesmo destino, horário e classe — mas por preços menores.

Se encontra uma tarifa mais barata, substitui automaticamente a reserva e avisa o funcionário, explicando o motivo da troca. “É como se a empresa ganhasse um comprador especialista que nunca dorme”, afirma Brandão. “Ele atua 24/7 e documenta cada economia feita, algo impossível para um time humano manter em larga escala”.

2. RatesAudit – o guardião das tarifas de hotel

No setor hoteleiro, a fragmentação é regra: acordos corporativos muitas vezes deixam de ser aplicados na hora da reserva.

O RatesAudit simula reservas diariamente no sistema para confirmar se as tarifas negociadas estão ativas.

Se encontra divergências, aciona o fornecedor e informa o gestor. Com poucas semanas de aprendizado, o agente pode até renegociar preços automaticamente com base em padrões históricos e flutuações do mercado. “A hotelaria é uma dor complexa para as empresas, e aqui a gente entrega controle total ao gestor”, explica o CEO.

3. ExpenseAudit – o auditor invisível de despesas

Voltado para controlar gastos durante a viagem, o ExpenseAudit analisa comprovantes, reembolsos e pagamentos, cruzando informações para detectar anomalias. Se identifica inconsistências, interage diretamente com o funcionário para pedir justificativas ou aciona o gestor para decisão final.

“Ele é implacável: separa automaticamente o que está dentro da política da empresa e o que precisa ser revisado, prevenindo fraudes e economizando tempo”, diz Brandão.

Cada agente é ativado com dois cliques no aplicativo da Voll. “A lógica é a mesma de baixar um aplicativo no celular. Você escolhe o agente, ativa e ele começa a trabalhar”, completa o executivo.

De mobilidade urbana a referência em IA para viagens

A história da Voll começa com a carreira de Luciano Brandão na Localiza, onde ele iniciou como estagiário e, pouco depois, decidiu empreender no setor de viagens corporativas — ainda dominado por modelos tradicionais, baseados em prestação de serviço e tecnologias alugadas.

Incomodado com as limitações e a dificuldade de inovar nesse formato, Brandão percebeu que havia um espaço inexplorado: a mobilidade urbana dentro das empresas, que ainda era tratada como algo secundário.

Em 2017, no auge da chegada de aplicativos como Uber ao Brasil, ele e seus sócios criaram um marketplace corporativo que integrava diferentes serviços de transporte — como EasyTaxi e 99 — num único app, com pagamento centralizado e regras de uso definidas pela empresa.

A solução cortava custos pela metade em comparação aos táxis tradicionais e eliminava burocracias como adiantamentos e reembolsos. “Era uma experiência incrível para o viajante e uma economia inquestionável para a companhia”, lembra Brandão.

O modelo ganhou força com clientes como Telefônica, Claro, Heineken e Sodexo, até que um case de economia na Telefônica chamou a atenção da matriz na Espanha. Pouco depois, o fundo de investimentos da operadora aportou capital na Voll — um alívio que chegou 30 dias antes da pandemia e permitiu que a empresa sobrevivesse ao colapso das viagens em 2020.

Quando o setor retomou em 2021, a Voll já tinha pronta uma solução mobile first para viagens corporativas, oferecendo ao usuário de negócios a mesma agilidade que conhecia como pessoa física, mas com governança e compliance robustos. O Itaú foi o primeiro grande cliente, trocando quatro fornecedores pela operação digital da Voll, que passou a atender mais de 100 mil funcionários. A base se expandiu para o setor financeiro e educacional, incluindo XP, Nubank, Banco Inter e Vitru Educação.

Em 2022, veio a segunda rodada de investimento — desta vez, com a Localiza, empresa onde Brandão começou sua carreira, entrando como sócio. Com o capital, a Voll lançou uma carteira digital corporativa, permitindo que o viajante recebesse e gastasse recursos durante a viagem sem papelada e dentro das regras da empresa.

Agora, a companhia aposta nos agentes de IA como a próxima grande virada. “O Smart Hub é uma mudança de paradigma. Estamos entrando na era dos agentes e ajudando empresas a atuarem com mais eficiência, autonomia e redução real de custos”, afirma Brandão.

O que vem pela frente?

Segundo o CEO, a Voll planeja lançar novos agentes até o fim do ano, sempre mirando pontos críticos que mais geram despesas para as empresas. A estratégia é usar os casos de sucesso com grandes clientes como vitrine para escalar a solução globalmente. Hoje, a plataforma já opera em múltiplas moedas e idiomas, com clientes na América do Sul, Europa e Estados Unidos.

A meta é transformar tarefas inviáveis para equipes humanas em processos automáticos, com impacto direto no orçamento. “Queremos que cada viagem seja feita no melhor custo-benefício possível, sem abrir mão de governança e experiência do viajante”, conclui Brandão.

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