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A técnica usada por Da Vinci que acelerou deterioração da "Última Ceia"

Pinin Brambilla, autoridade na conservação de afrescos renascentistas, se dedicou por mais de duas décadas à restauração da obra

Da Vinci utilizou técnica experimental na obra "A Última Ceia" que acelerou desgate (Valentina Petrova/AFP)

Da Vinci utilizou técnica experimental na obra "A Última Ceia" que acelerou desgate (Valentina Petrova/AFP)

Publicado em 18 de abril de 2025 às 12h58.

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A obra "Última Ceia", de Leonardo Da Vinci, foi finalizada em 1498 e retrata a última refeição de Jesus Cristo com seus Apóstolos antes de ser preso e crucificado. No entanto, apesar de sua importância histórica e artística, a pintura começou a se desintegrar logo após sua conclusão, devido a uma técnica utilizada pelo artista.

Segundo a BBC, embora o método tradicional da época fosse a pintura a fresco, em que a tinta era aplicada sobre uma camada de argamassa úmida, Da Vinci optou por uma técnica experimental, pois dessa forma, teria que finalizar a obra rapidamente, o que poderia afetar a complexidade dos detalhes. Em seu teste, ele utilizou têmpera ou óleo sobre uma superfície seca de gesso.

O resultado foi que os pigmentos não se fixaram na parede. Após ele concluir a obra, seis restauradores tentaram recuperá-la, e cada um deles alterou a fisionomia dos Apóstolos, conforme explicou Pinin Brambilla, autoridade na conservação de afrescos renascentistas, à BBC em 2016.

O escritor Walter Isaacson detalhou em seu livro "Leonardo Da Vinci" que após 20 anos de conclusão, a pintura já descascava e mostrava que a técnica de pintura escolhida não deu bons resultados. "Em 1652, a pintura estava tão desbotada que os monges se sentiram à vontade para abrir uma porta na parte inferior do mural, cortando os pés de Jesus, que provavelmente estavam cruzados de forma a pressagiar a crucificação", comenta.

Processo de restauração da obra realizado por Pinin

Além da técnica, fatores externos contribuíram para acelerar a deterioração. O mural com a pintura estava em uma parede que ficava úmida devido a um riacho subterrâneo que passava pelo mosteiro. A localização também era prejudicial por deixar a peça exposta ao vapor e fumaça da cozinha.

Os conflitos históricos também prejudicaram a obra. Durante a Revolução Francesa, grupos anticlericais riscaram os olhos dos Apóstolos; e, na Segunda Guerra Mundial, o refeitório com a obra foi atingido por bombardeio dos Aliados.

Pinin Brambilla foi escolhida para restaurar a obra em 1977. Entre lupas e instrumentos cirúrgicos, Pinin e um pequeno grupo de assistentes se dedicaram por mais de 20 anos a restauração, encerrando o processo em 1999. O processo foi interrompido diversas vezes por dificuldades técnicas e burocráticas e visitas de dignitários estrangeiros e membros da realeza europeia.

"O trabalho me fazia passar muito tempo longe do meu marido e do meu filho. Às vezes eu trabalhava sozinha, até mesmo aos sábados e domingos até o meio-dia. Em certo momento, meu marido me disse: 'Chega, isso já é suficiente para A Última Ceia, quero viver um pouco'. Mas eu estava completamente obcecada", lembrou Pinin a BBC.

Apesar do trabalho árduo, ela relatou que chegou a ficar triste com o final do trabalho pois precisaria deixar a obra, mas ficou satisfeita com o resultado final. "Agora os rostos dos apóstolos parecem realmente participar do drama do momento e evocam a gama de emoções que Leonardo quis retratar diante da revelação de Cristo", explicou.

Pinin Brambilla faleceu em dezembro de 2020, em Milão, na Itália.

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