Caso Jean Charles: série do Disney+ mostra caso de brasileiro morto por engano em Londres (Disney+/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 2 de maio de 2025 às 09h52.
Em um contexto de alerta máximo em Londres após os atentados terroristas de julho de 2005, o eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes se viu no lugar errado, na hora errada, em uma série de eventos que culminou em sua morte.
No dia 22 de julho daquele ano, Jean Charles foi morto pela polícia metropolitana de Londres após ser confundido com um terrorista islâmico procurado, Husein Osman, em uma ação marcada por falhas operacionais e abusos de poder.
Na manhã de quinta-feira, 7 de julho de 2005, Londres foi marcada por uma das mais trágicas catástrofes de sua história moderna.
Quatro atentados suicidas, orquestrados por extremistas islâmicos ligados à Al Qaeda, devastaram o sistema de transporte público da capital britânica. Os ataques, conhecidos como os atentados de 7 de julho, resultaram em 52 mortos e aproximadamente 700 feridos, tornando-se o maior atentado terrorista no Reino Unido desde o ataque de Lockerbie, em 1988.
As explosões ocorreram em um contexto carregado de simbolismo: no dia anterior, Londres havia sido escolhida como a sede dos Jogos Olímpicos de 2012, e o Reino Unido estava hospedando uma reunião do G8 na Escócia. Este cenário amplificou o impacto político e internacional dos ataques.
Naquele dia, o sistema de transporte público de Londres foi fechado imediatamente após as explosões, interrompendo o funcionamento das linhas de metrô e ônibus. Evacuações e caos tomaram as ruas, enquanto os londrinos lidavam com as consequências do atentado e buscavam se proteger.
Em resposta ao atentado, o governo britânico implementou medidas mais rigorosas de segurança, além de adotar uma estratégia antiterrorista mais assertiva. A agressividade dessa abordagem ficou evidente em ações posteriores.
Quinze dias após os atentados, em 21 de julho de 2005, um novo ataque foi tentado, mas as bombas falharam em explodir devido a erros técnicos. Este episódio gerou uma intensificação das operações policiais e um reforço nas políticas de segurança em Londres e no restante do Reino Unido.
Jean Charles de Menezes, um eletricista brasileiro, tornou-se vítima de um trágico erro de identificação pela polícia britânica. Na manhã de 22 de julho, um dia após a tentativa de atentado frustrada por Hussain Osman, Jean Charles foi assassinado por engano.
Quando Jean Charles deixou sua casa para o trabalho, a polícia, em uma falha crítica de identificação, acreditou que ele fosse Hussain Osman. A doutrina da Operação Kratos, que autorizava a polícia a atirar para matar em casos de suspeitas de terrorismo suicida, foi aplicada de forma implacável.
Quando Jean Charles entrou na estação de metrô Stockwell, a polícia, sem qualquer aviso, disparou contra ele, temendo que ele fosse um homem-bomba prestes a cometer um atentado. O eletricista morava no conjunto de apartamentos de Tulse Hill, o mesmo local onde Osman estava escondido.
Jean Charles foi baleado onze vezes — sete tiros na cabeça e um no ombro — e morreu no local. O mais chocante é que ele estava vestido de maneira comum, não apresentava comportamento suspeito e nem estava agindo para levantar qualquer tipo de alerta. Testemunhas e as câmeras de segurança da estação registraram suas ações: ele entrou calmamente, pegou um jornal e subiu para pegar o trem, sem pressa ou qualquer tentativa de fuga.
A polícia, ainda em um estado de pânico após os atentados de 7 de julho, interpretou erroneamente suas ações como sinais de que ele estava tentando esconder explosivos, algo que nunca ocorreu. Nenhum artefato explosivo foi encontrado em suas roupas ou pertences, revelando a falha da polícia em seu julgamento.
A morte de Jean Charles gerou um forte impacto, tanto no Reino Unido quanto no Brasil. À época, o governo britânico, em um gesto de pesar, pediu desculpas formalmente à família de Jean Charles e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Operação Kratos e a aplicação de uma resposta policial excessiva foram amplamente questionadas, com especialistas em segurança apontando os riscos de se agir com base em informações não confirmadas. A tragédia também gerou um incidente diplomático entre o Brasil e o Reino Unido, que culminou em uma ação na Corte Europeia de Direitos Humanos. No entanto, o caso foi arquivado sem haver qualquer responsabilização penal.
O caso gerou várias produções culturais que buscavam manter viva a memória de Jean Charles. Em 2009, o filme "Jean Charles", dirigido por Henrique Goldman e estrelado por Selton Mello, retratou sua vida e morte, mas foi alvo de críticas por algumas liberdades artísticas.
A abordagem mais recente do caso é a minissérie "Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano", que estreou no Disney+ em abril. Com Edison Alcaide no papel de Jean Charles, a produção tenta revisitar a história real do eletricista, mostrando a tensão dos atentados e o erro policial que levou à sua morte.
Maria de Menezes, mãe de Jean Charles, expressou sua satisfação com a minissérie, ressaltando que o projeto finalmente traria à tona a verdadeira história de seu filho. O irmão de Jean Charles também se manifestou positivamente, acreditando que a produção ajudaria a corrigir as distorções que circularam pela mídia na época do incidente.