Estagiária de jornalismo
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 11h08.
Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 15h06.
"E eu que pensei que alguma coisa tinha mudado nesse país", pelo visto nem tanto, Odete. As novelas acompanham as transformações da sociedade, mas algumas histórias resistem ao tempo e ganham novas camadas.
É o caso de Vale Tudo, clássico que marcou a teledramaturgia nos anos 80 e retorna em 2025 com um remake que repercute o espírito da obra original enquanto mostra os desafios contemporâneos do Brasil.
Com direção de Manuela Dias, a trama atualiza não só cenários e figuras, mas também a complexidade dos personagens e os dilemas morais que ainda ressoam na sociedade.
Se em 1988 a vilã Odete Roitman, na impecável interpretação de Beatriz Segall, era amplamente odiada — a ponto de 38% do público da época em São Paulo querer vê-la morta —, em 2025 a percepção mudou. Uma pesquisa recente do Datafolha mostrou que 47% dos brasileiros sabem que Odete cai na pobreza, 35% querem ver a prisão e apenas 4% apoiam sua morte.
A vila de hoje, apelidada de “loba” nas redes sociais, recebeu admiração por seu lado libertário e pela maneira como conduz os interesses da família, evidenciando o contexto de transformação social e valorização de personagens femininas complexas.
Beatriz Segall interpretando a vilã Odete Roitman (TV Globo/Reprodução)
Diferentemente da versão original, em que a morte de Odete foi um evento marcante que gerou uma febre nacional — com mais de 3 milhões de cartas em um concurso para descobrir o assassino —, o remake traz uma camada extra de mistério.
A autora Manuela Dias escreveu dez possíveis para o crime, envolvendo cinco suspeitos principais: Marco Aurélio, Celina, César, Maria de Fátima e Heleninha.
Durante a gravação, até mesmo o elenco esteve em dúvida sobre quem seria o verdadeiro culpado, com várias cenas filmadas para manter o suspense até o último capítulo, que irá ao ar em 17 de outubro de 2025.
O remake conversa com os tempos atuais, trazendo reflexões sobre desigualdade, racismo, empoderamento feminino, e liberdade sexual, temas que ganham destaque graças à sensibilidade da narrativa contemporânea.
A própria autora Manuela Dias analisa que a exclusão à proteção extrema — como a morte — do personagem se conecta à dureza do cotidiano brasileiro para os menos favorecidos, tornando a vida muitas vezes um castigo maior.
É curioso como personagens coadjuvantes e situações foram adaptadas para dialogar com o público jovem e antigo. A novela registra forte popularidade nas redes sociais e no streaming Globoplay, onde 82% dos usuários que interagem com a hashtag “Vale Tudo” têm entre 18 e 34 anos, comprovando o sucesso dessa reinterpretação.
Em 1988, a audiência da novela chegou a 81 pontos no Ibope no dia da morte de Odete no Rio de Janeiro, um índice estrondoso para a época.