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De rebeliões a presídios modelo: conheça a verdadeira história de Tremembé

Ambas as P2 de Tremembé, no interior de São Paulo, são consideradas modelos de qualidade de vida e administração prisional

P2 de Tremembé: conhecida por abrigar criminosos famosos, a prisão é referência em qualidade de infraestrutura e administração (MARIO RODRIGUES /VEJA SÃO PAULO)

P2 de Tremembé: conhecida por abrigar criminosos famosos, a prisão é referência em qualidade de infraestrutura e administração (MARIO RODRIGUES /VEJA SÃO PAULO)

Paloma Lazzaro
Paloma Lazzaro

Estagiária de jornalismo

Publicado em 4 de novembro de 2025 às 06h00.

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Conhecidas como "Prisões dos Famosos", a Penitenciária Feminina II e a Penitenciária II "Dr. José Augusto César Salgado" de Tremembé, no interior de São Paulo, foram retratadas na série "Tremembé" da Prime Video. O programa estreou na última sexta-feira, 31, e contou com representações de famosos que passaram pelas prisões. Mas como elas surgiram?

A unidade feminina foi inaugurada em 2011, pelo governo de Geraldo Alckmin. Já a masculina foi criada em 1955, mas reinaugurada em 2002, quando mudou o perfil de encarcerados. As P2 também são reconhecidas pelo alto padrão de qualidade de vida para presos e boa gestão. Elas estão abaixo do nível de lotação máxima, diferentemente das P1 de Tremembé, que estão superlotadas.

Ambas as unidades II de Tremembé ficaram conhecidas por receber "presos especiais", sob risco de vida devido ao tipo de crime cometido ou grau de repercussão das ações.

No presídio masculino, estão ou já estiveram: irmãos Daniel e Christian Cravinhos (caso Richthofen), Mateus da Costa Meira (massacre no Morumbi Shopping), Alexandre Nardoni (pai de Isabella Nardoni), Marcos Valério (escândalo do Mensalão), Roger Abdelmassih, Francisco de Assis Pereira (conhecido como Maníaco do Parque), Robinho (caso de estupro na Itália) e Ronnie Lessa (Assassinato de Marielle Franco).

Já a unidade feminina teve a presença de Suzane von Richthofen, Anna Carolina Jatobá (madrasta de Isabella Nardoni) e Elize Matsunaga (caso Yoki). Todas estão representadas na série da Prime Video.

Penitenciária masculina

A Penitenciária II "Dr. José Augusto César Salgado" de Tremembé foi inaugurada em 1955. Nos últimos 70 anos, o perfil do presídio mudou profundamente.

Antes de se tornar a "Prisão dos Famosos", a P2 era um presídio conturbado. Em 1995, uma longa rebelião de presos ganhou destaque na mídia. "Importante também é que agora a revolta foi contra alegadas agressões sofridas pelos presos, havendo inclusive denúncia contra um suposto centro de tortura em um anexo da casa de detenção", noticiou a Folha de São Paulo, na época.

Em 2000, outra rebelião estourou na unidade, também com demandas de melhoria de condições para os presos.

O episódio durou cerca de 24h e foi noticiado pelo Diário do Grande ABC na época: "Eles colocaram fogo em parte das oficinas de trabalho e fizeram de refém os agentes penitenciários Adalberto de Almeida, Alexandre José Nunes, Maurício França, Francisco Chagas, Antonio Lima, Emerson Azevedo, Rubens Mariotto e Jurandir Oliveira Franco. Todos saíram ilesos, apesar de muito nervosos."

Ao fim dessa revolta, houveram a reconstrução parcial e a mudança de perfil da penitenciária.

Por meio do Decreto N. 46.618, de 20  de março de 2002, o então governador Geraldo Alckmin definiu que os novos presos seriam aqueles que poderiam ser perseguidos em outros presídios.

"Presos do sexo masculino, que estejam enquadrados no § 2º do artigo 84 da Lei federal nº 7.210, de 11 de julho de 1984, e outros condenados que a Administração Penitenciária entender que possam sofrer constrangimento físico ou moral, por parte da população carcerária custodiada em estabelecimento comum, em razão da função pública ou atividade particular que tenham exercido ou, ainda, pela reprovação decorrente da natureza do crime cometido", afirma o decreto.

Além da mudança nos presos, a própria estrutura do local foi mudada. Antes acusada pelos presos de oferecer condições precárias, a partir de 2002 a P2 masculina disponibiliza oficinas, fábricas, espaços para artesanato, aulas de teatro e grupos de leitura, comida de qualidade e celas espaçosas. Em 2003, ela foi premiada como "Modelo de Gestão Penitenciária".

A diferença dessa unidade é visível ao ser comparada com a P1 masculina do Tremembé. Ocupada por 2271 pessoas, sua população excede em 786 a capacidade de 1485. Já a P2 está com 83 pessoas a menos que sua capacidade máxima de 536, com apenas 453 presos.

Penitenciária feminina

A segunda unidade feminina do complexo penitenciário do Tremembé foi apenas inaugurada em 2011 pelo governo de Geraldo Alckmin, que ainda era o governador de São Paulo. Na época, a P2 feminina foi elogiada por sua infraestrutura e administração.

“Hoje nós temos uma conquista importante porque é inaugurada, senão a primeira, a melhor unidade prisional penitenciária construída exclusivamente para presas mulheres. Não é adaptada, ela foi construída para presas mulheres, inclusive aquelas que tenham criança, que tenham que amamentar. É uma penitenciária extremamente moderna”, declarou o governador durante a inauguração.

O custo total da unidade foi de R$ 43 milhões, resultando em um complexo com áreas voltadas à saúde feminina, setores de trabalho, biblioteca, serviços, inclusão e ressocialização. O presídio conta até com uma padaria artesanal, com forno inox, batedeira, liquidificador, balança, assadeiras de alumínio e botijão de gás.

Conhecida por ter abrigado Suzane Von Richthofen, Anna Carolina Jatobá e Elize Matsunaga, a unidade, assim como sua correspondente masculina, é uma das poucas no estado de São Paulo que não ultrapassa a ocupação máxima, contando com exatamente 834 detentas.

Já sua irmã mais velha, a Penitenciária Feminina I "Santa Maria Eufrásia Pelletier", foi inaugurada como presídio em 1978 e contou com a presença de diversas presas políticas. Uma delas foi a madre Maurina Borges da Silveira, posteriormente banida para o México. 

Antes disso, o mesmo local era um hospital para tuberculosos na década de 1930 e depois se tornou um reformatório, comandado por freiras. Em 2000, a P1 feminina de Tremembé voltou aos jornais devido a uma rebelião de presas, o que até o momento nunca ocorreu na P2.

Outra diferença entre as duas unidades é a condição das presas. Diferentemente da P2 feminina de Tremembé, a unidade mais antiga está superlotada, com 552 mulheres detentas, 90 a mais que a capacidade de 462.

Mudança de rumo

Em agosto de 2025, Robinho e Thiago Brennand foram transferidos da P2 do Tremembé para a Penitenciária 2 de Potim, também no interior.

Isso marca uma mudança do perfil de presos na unidade. De acordo com apuração do Jornalismo da Band, os "presos especiais" deixarão de ser recebidos em Tremembé, que passará a receber apenas presos em regime semiaberto.

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