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É o fim das 'boybands'? Como o modelo de negócio das bandas entrou em declínio

Transformações no público jovem, no streaming e na estética pop enfraqueceram um formato que dominou a indústria por três décadas

One Direction: boyband anunciou uma pausa em 2016 e integrantes seguem em carreira solo.  (Chris Hyde/Getty Images)

One Direction: boyband anunciou uma pausa em 2016 e integrantes seguem em carreira solo. (Chris Hyde/Getty Images)

Publicado em 21 de novembro de 2025 às 06h10.

Quando a One Direction anunciou sua pausa em 2016, a decisão parecia apenas mais um capítulo previsível na trajetória de grupos exaustos de rotinas que variavam entre turnês mundiais e gravações incessantes de álbuns.

O que não se sabia à época é que a separação simbolizaria algo maior: o fim de um modelo que dominou a indústria pop por décadas.

Pesquisas e análises de mercado apontam que as boybands perderam espaço não apenas por mudanças culturais, mas por transformações estruturais no consumo musical — e por fragilidades internas desse tipo de formação.

Modelo que não se sustentou no século XXI

Os números mostram que a crise das boybands não foi um acidente. Ela vinha sendo anunciada à medida que a indústria musical se reorganizava em torno de novas tecnologias, novos hábitos de consumo e um mercado cada vez mais concentrado em poucos artistas.

Segundo o NBER, que analisou dados da economia da música popular ao longo de mais de duas décadas, o setor passou a operar sob a lógica dos superstars. Em 2003, 1% dos artistas já concentrava 56% de toda a receita de shows, deixando pouco espaço para grupos médios ou formações grandes. Esse fenômeno, descrito por Alan Krueger e Marie Connolly, desfavorece bandas com múltiplos integrantes, custos elevados e participação financeira diluída.

A centralidade dos shows também se tornou uma barreira. O estudo mostra que, em 2002, as turnês rendiam 7,5 vezes mais do que vendas de gravações para os artistas de maior receita — um cenário mais viável para carreiras solo, mais baratas de escalar e menos suscetíveis a conflitos internos.

A fragmentação do público e o fim do 'coletivo'

Mas os próprios fãs possuem a responsabilidade por uma parcela considerável do declínio do negócio.

Uma reportagem da India Today, mostra que as boybands dos anos 1990 prosperaram porque a cultura de massa era centralizada: rádio, TV e revistas ditavam tendências e transformavam grupos em fenômenos globais. Com a internet, esse ecossistema se desfez.

A análise da Skoove, produzida com o DataPulse Research, mostra a velocidade da ruptura:

  • Em 1995, 41% das músicas nas paradas eram de bandas.
  • Em 2023, esse número caiu para 4%.
  • No mesmo ano, nenhuma banda alcançou o topo da Billboard Hot 100.

Segundo a pesquisa, plataformas de streaming favorecem artistas individuais — que constroem marcas pessoais reconhecíveis e se encaixam melhor nas recomendações algorítmicas. Além disso, a ascensão das colaborações pontuais, que atingiram 42% das entradas nas paradas em 2018, reduziu ainda mais o espaço de grupos fixos.

Jovens não consomem música como antes

Segundo estudo da Forbes em parceria com a Sweety High, 97% das jovens da Geração Z consomem cinco ou mais gêneros musicais regularmente. A diversidade de gostos impede que um único grupo domine as playlists dos jovens, como acontecia no auge de Backstreet Boys, *NSYNC e a One Direction.

Enquanto isso, as plataformas preferidas dessa geração também mudaram:

Cerca de 75% descobrem música pelo YouTube, mas apenas 25% usam YouTube para escuta diária — esta acontece majoritariamente no Spotify.

Essa pluralidade dificulta fenômenos centralizados e reduz o impacto de estratégias tradicionais que sustentaram boybands por décadas.

A estética da perfeição deixou de convencer

A cultura pop também mudou — e rápido. No estudo de Mario Laghos para o WhyNow UK, o autor mostra que as boybands eram coerentes com o otimismo econômico e visual dos anos 1990: estética impecável, coreografias alinhadas, cabelos tingidos e imagem calculada. Mas esse ideal perdeu sentido em uma sociedade marcada por crises econômicas, precarização e a valorização da autenticidade.

Hoje, a cultura digital premia espontaneidade, humor, vulnerabilidade e imperfeições — elementos difíceis de encaixar na estrutura altamente controlada de uma boyband clássica.

Essa leitura é reforçada pela pesquisadora Carlyssa Reilly, da Syracuse University: segundo sua análise, a imagem fabricada de grupos pop não se sustenta em um ambiente onde artistas são avaliados pela narrativa pessoal que constroem nas redes sociais.

O K-pop ressignificou o formato — mas não reverteu a tendência global

O sucesso de bandas coreanas como BTS, EXO e TXT alimenta a impressão de que o formato ainda vive um renascimento. Mas, segundo a India Today, essa é uma exceção sustentada por um ecossistema muito diferente daquele que moldou as boybands ocidentais.

A lógica do K-pop depende de:

  • fandoms digitalmente organizados;
  • campanhas globais coordenadas;
  • produção audiovisual constante;
  • marketing multiplataforma em tempo real.

A tese de Huy Quang Le, da Seinäjoki University, confirma que estratégias digitais intensivas — especialmente no YouTube e no Instagram — são centrais para a expansão de grupos que operam com ciclos acelerados de conteúdo.

Ou seja: o K-pop não replica o modelo antigo. Ele o substitui por outro, inteiramente moldado pela era digital.

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