'Freed From Desire': retorno ao topo das paradas? (Angela Weiss / AFP)
Redação Exame
Publicado em 3 de julho de 2025 às 19h30.
Última atualização em 3 de julho de 2025 às 19h31.
Quase três décadas após o lançamento original, "Freed From Desire" voltou com força total — desta vez, impulsionada por arquibancadas, redes sociais e torcidas brasileiras. A música virou a trilha não oficial do torneio mundial de clubes e explodiu no Spotify nas últimas semanas, com aumento de 854% no número de streams no Brasil, na comparação com o mesmo período do ano passado.
Nas últimas semanas, o refrão, do tipo "nananana", se transformou em mantra coletivo. Lançado pela cantora italiana Gala em 1996, o hit tem marcado presença constante nas transmissões esportivas, em vídeos de torcedores e nas trends que tomaram conta das plataformas digitais.
Embora tenha ressurgido em estádios europeus a partir de 2016, a música ganhou impulso definitivo em 2024, durante a Eurocopa, quando se consolidou como trilha de celebrações e momentos pré-jogo. No entanto, foi com o início da edição de 2025 do torneio de clubes que "Freed From Desire" atingiu outro patamar — sobretudo no Brasil, onde viralizou em ritmo de memes e dancinhas no TikTok.
Segundo dados do Spotify, o crescimento global do hit foi de 13% durante a segunda metade de junho. No Brasil, o salto foi ainda mais expressivo: 422% apenas entre a primeira e a segunda quinzena do mês. O streaming, impulsionado por fãs de futebol e criadores de conteúdo, transformou a canção em trilha oficial das arquibancadas, mesmo sem selo ou contrato com a organização do campeonato.
A jornada do hit de eurodance até a FIFA revela como torcidas dão nova vida a músicas e criam hinos que atravessam gerações.
O nascimento de "Freed From Desire" remonta aos anos 1990, quando Gala, estudante de fotografia na época, foi convidada a cantar durante uma turnê nos Estados Unidos com um DJ europeu. A música, que inicialmente capturou a essência das baladas de dança, logo se espalhou pela Europa como um grande sucesso.
Dali para o futebol foi um caminho intuitivo: bastou algum jogador famoso cantar. Foi o que aconteceu em 2016, quando o torcedor do Wigan Athletic, time da terceira divisão inglesa, adaptou a canção para homenagear o atacante Will Grigg. A letra que ficou famosa dizia: "Will Grigg’s on fire, your defense is terrified". Ele postou no YouTube e a partir daí, a magia começou.
A canção viralizou, com fãs na Europa, especialmente durante a Euro 2016. Se espalhou pelas arquibancadas de clubes como Milan, Ajax, Manchester City e muitos outros, até uma versão oficial foi lançada, feita pelo duo Blonde.
Hoje, o próprio Will Grigg joga pelo Chesterfield, da quarta divisão inglesa. Mas o legado de sua “fogueira sonora” continua vivo.
A FIFA, atenta ao potencial viral da melodia, escolheu uma adaptação da música como trilha da Copa do Mundial de Clubes 2025. A versão atual, com vocais digitais e sem letra, mantém a estrutura original e o refrão chiclete, que foi o suficiente para reacender a obsessão do público.
O fenômeno não é isolado. A cultura musical das arquibancadas é parte essencial do futebol, especialmente no Reino Unido e na Europa. Canções e gritos de torcida criam identidade, empolgam jogadores e conectam gerações. Há canções que, inclusive, retornam: "Waka Waka", da Shakira, sempre aparece quando é tempo de Copa do Mundo.
Torcedores frequentemente adaptam músicas populares, criando versões próprias para celebrar ídolos, provocar rivais ou simplesmente marcar presença sonora. As letras evoluem com o tempo, acompanhando jogadores, fases dos clubes e até crises políticas. O resultado é uma mistura de nostalgia e criatividade, que na era do vídeo, viraliza em redes sociais, graças a vídeos de torcidas cantando em estádios, bares ou até no ônibus a caminho do jogo.