Agência
Publicado em 21 de março de 2025 às 15h22.
No último ano, a China deu um grande passo na indústria de games. De um mercado inicialmente focado em jogos mobile, o país agora entrou na briga com grandes mercados globais como criador de títulos AAA, desafiando as grandes potências globais com uma abordagem ousada e inovadora. Empresas como Tencent, NetEase e miHoYo lideraram esse movimento, misturando cultura local e apelo internacional.
Para Lucas Peng, COO do Grupo IEST e ex-executivo da gigante de games chinesa Garena, o investimento da China em eSports abre caminho para a liderança do país nesse segmento. “A China já é um dos maiores mercados de eSports do mundo, com uma base de fãs apaixonada e infraestrutura de ponta. O sucesso de jogos como Honor of Kings e League of Legends em competições internacionais fortalece a imagem da China como líder no setor”, diz o especialista no mercado de eSports.
1 – Como a China evoluiu de um mercado focado em jogos mobile para um produtor de títulos AAA com apelo global?
A China começou sua trajetória no mundo dos games com um forte foco em mobile, impulsionada pela rápida adoção de smartphones e pela expansão da internet móvel. Jogos como Honor of Kings e PUBG Mobile dominaram o mercado local e, posteriormente, conquistaram o mundo.
Com o amadurecimento do mercado e o aumento da competição interna, os estúdios chineses começaram a investir pesado em títulos AAA.
Grandes empresas como Tencent, NetEase e miHoYo passaram a alocar recursos em tecnologia de ponta, talentos internacionais e narrativas universais. Hoje, jogos como Genshin Impact e Black Myth: Wukong competem em gráficos, inovação e apelo global, colocando a China entre os grandes produtores de games.
2 – O que diferencia os estúdios chineses dos concorrentes ocidentais e japoneses em termos de desenvolvimento e estratégia?
Os estúdios chineses são extremamente ágeis e escaláveis, capazes de lançar e iterar jogos com rapidez. Também dominam modelos de negócios como free-to-play e microtransações, altamente lucrativos.
Além disso, investem fortemente em tecnologia, desenvolvendo motores gráficos próprios e adotando IA e cloud gaming. Outra vantagem é a capacidade de criar jogos com apelo local e internacional, como Genshin Impact, que mistura elementos orientais e ocidentais de forma equilibrada.
3 – Qual o impacto da entrada de títulos como Honor of Kings, Black Myth: Wukong e Infinity Nikki no posicionamento da China no mercado global de games?
Esses títulos redefinem a percepção global sobre os jogos chineses. Honor of Kings consolidou a liderança da China no mobile; Black Myth: Wukong e Infinity Nikki demonstram capacidade técnica e narrativa comparável aos estúdios ocidentais.
Eles não só conquistam jogadores, mas também elevam a reputação da China como produtora de conteúdo AAA.
4 – As aquisições de estúdios ocidentais por empresas como Tencent e NetEase indicam uma mudança na estratégia do mercado chinês?
Sim. Essas aquisições representam uma estratégia de expansão global. Empresas como Tencent buscam talentos, tecnologias e conhecimento cultural para adaptar melhor seus produtos.
Esse movimento mostra a transição da China de um player local para uma liderança global.
Um exemplo disso foi a aquisição da Riot Games, criadora de League of Legends, finalizada pela Tencent em 2015.
5 – Como os estúdios chineses equilibram a criação de jogos com identidade cultural local e a necessidade de apelo internacional?
A resposta está na abordagem híbrida. Genshin Impact traz elementos da cultura chinesa em estética e mitologia, mas com linguagem visual e narrativa universais.
Já Black Myth: Wukong, inspirado em lendas clássicas chinesas, utiliza gráficos e jogabilidade de última geração que atraem públicos globais.
6 – Quais os principais desafios que os desenvolvedores chineses enfrentam para conquistar o público ocidental?
O principal desafio é lidar com as diferenças culturais e as restrições internas. Temas populares na China nem sempre têm o mesmo apelo no Ocidente.
Há também uma resistência quanto à percepção de qualidade, apesar de jogos como Genshin Impact estarem mudando essa visão. A concorrência com estúdios consolidados também é intensa.
7 – Quais tecnologias os estúdios chineses estão priorizando para se destacar no mercado global?
Estão focando em tecnologias como cloud gaming, inteligência artificial e motores gráficos próprios.
A IA ajuda a personalizar experiências e melhorar a inteligência dos NPCs. A realidade aumentada (AR), virtual (VR), mista (MR) e estendida (XR) também estão ganhando espaço nos projetos mais ambiciosos.
8 – Como o uso de motores gráficos próprios influencia a competitividade dos jogos chineses?
O uso de motores gráficos próprios, como o da miHoYo em Genshin Impact, permite mais controle sobre desempenho e qualidade visual.
Isso reduz a dependência de tecnologias ocidentais e acelera a inovação, oferecendo vantagem estratégica.
9 – Existe a possibilidade de os estúdios chineses influenciarem o design e a narrativa dos jogos ocidentais, assim como o Japão fez no passado?
Sim. O impacto já é visível. Genshin Impact influenciou o design de mundo aberto e o sistema de gacha no Ocidente. A riqueza cultural e narrativa da China começa a inspirar estúdios ocidentais a explorar novos temas e formatos.
10 – O investimento crescente em eSports na China pode fortalecer ainda mais a posição do país no mercado global?
Sem dúvida. A China já é uma das maiores potências em eSports, com base de fãs engajada e infraestrutura de alto nível.
O sucesso em títulos como Honor of Kings e League of Legends, somado ao investimento em eventos e talentos, consolida o país no cenário competitivo global.
Um exemplo é a Hero Esports (ex-VSPO), maior empresa de eSports da Ásia, que foi escolhida para organizar eventos como a Esports World Cup e os Asian Games.
Crédito: Daiane Mendes