The Beatles: álbum aclamado da banda também marcou o final dela (Chris Walter / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 8 de maio de 2025 às 09h56.
Há 55 anos, os Beatles lançavam o que viria a ser seu último álbum como banda.
Let It Be, lançado em 8 de maio de 1970, chegou ao público como um dos registros mais emblemáticos e, ao mesmo tempo, um dos mais conturbados da carreira do grupo.
Gravado antes de Abbey Road (1969), mas lançado após a separação oficial de seus membros, o álbum se tornou o epitáfio de uma das bandas mais influentes da história da música.
O projeto nasceu com o título inicial de Get Back, que pretendia ser uma volta ao formato mais cru e simples dos primeiros anos dos Beatles, com gravações ao vivo e sem os excessivos arranjos de estúdio que marcaram álbuns anteriores.
Paul McCartney imaginava um retorno à energia dos shows ao vivo, com filmagens que registrassem os bastidores das sessões. No entanto, as tensões internas na banda dificultaram esse processo e mudou a direção do projeto e transformando o trabalho em um álbum de estúdio marcado por discordâncias e desgaste emocional.
As gravações de Let It Be ocorreram em um ambiente de crescente tensão.
O grupo já não possuía mais a coesão de antes, e as disputas pessoais se tornaram um fardo para a produção. John Lennon, cada vez mais distante emocionalmente e envolvido com Yoko Ono, já havia anunciado sua saída da banda em 1969.
George Harrison, por sua vez, chegou a abandonar as sessões temporariamente, antes de retornar com a imposição de suas próprias condições para continuar a trabalhar com os outros membros.
The Beatles (Central Press/Hulton Archive/Getty Images)
As gravações passaram a ser um reflexo das divisões que tomavam conta dos Beatles, com a falta de motivação e o desinteresse de alguns membros tornando o processo ainda mais desafiador.
Diante de tantos obstáculos, a produção original foi interrompida e, mais tarde, finalizada com a intervenção de Phil Spector, conhecido por seu estilo de "parede de som".
Spector aplicou arranjos orquestrais em algumas faixas, como "The Long and Winding Road", o que gerou ainda mais discordância, especialmente com McCartney, que não aprovou a adição das cordas. Esse desentendimento representou mais um ponto de atrito entre os membros da banda, especialmente em um momento em que o grupo já não tinha mais a unidade de antes.
Em abril de 1970, pouco antes do lançamento do álbum, McCartney anunciou sua saída pública da banda, oficializando o que já era uma realidade nos bastidores. O anúncio significou o fim definitivo dos Beatles como um quarteto, com cada um dos membros já seguindo carreiras solo.
Mesmo com as controvérsias e o clima de despedida, Let It Be se tornou um sucesso, alcançando o topo das paradas e recebendo o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original, como parte do filme homônimo que documentava as gravações.
Curiosamente, nenhum dos membros dos Beatles compareceu para receber o prêmio, entregue a Quincy Jones, o responsável pela adaptação musical.
O disco também foi um grande sucesso comercial, alcançando a primeira posição nas paradas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Embora tenha sido alvo de críticas mistas no momento de seu lançamento, Let It Be foi se solidificando como uma das obras-primas da banda, alcançando o posto de 342º melhor álbum de todos os tempos segundo a revista Rolling Stone.
O álbum é particularmente lembrado pela capa icônica e por singles de enorme sucesso como "Get Back", "Let It Be" e "The Long and Winding Road".
Em 2021, uma edição especial ampliada trouxe ainda mais material inédito, com gravações extras das sessões de estúdio, dando aos fãs uma visão mais intimista das últimas fases da banda.
Com a dissolução do grupo já iminente, algumas das faixas podem ser interpretadas como mensagens indiretas, especialmente entre Paul McCartney e John Lennon, que enfrentavam desacordos profundos durante a gravação.
"Let It Be"
Composta por Paul McCartney, Let It Be é provavelmente a música mais emblemática do álbum, trazendo uma mensagem de aceitação e conforto. A inspiração para a canção veio de um sonho de McCartney, em que sua mãe falecida lhe dizia para "deixar estar" (let it be), uma expressão que transmite serenidade diante das adversidades.
Embora a música não seja uma crítica explícita, ela pode ser vista como uma reflexão sobre a necessidade de aceitar as dificuldades e os conflitos internos que a banda estava enfrentando na época.
A referência a "Mother Mary" (Mãe Maria) tem um tom pessoal para McCartney, mas também pode ser interpretada como uma metáfora espiritual, sugerindo que, em tempos de crise, a paz pode ser encontrada ao aceitar a situação como ela é. Este conceito se encaixa perfeitamente no contexto de ruptura entre os Beatles, com a banda em processo de separação.
John Lennon e Paul McCartney (Michael Ochs Archives/Getty Images)
"The Long and Winding Road"
Outra faixa que se destaca é The Long and Winding Road, também escrita por McCartney. Esta música é frequentemente vista como uma metáfora para o longo e difícil caminho que a banda percorreu até chegar à sua separação.
A letra expressa sentimentos de frustração, desilusão e uma busca por algo mais, que pode ser interpretado como uma indireta para as dificuldades e os conflitos entre os membros da banda, especialmente entre McCartney e Lennon.
O tom melancólico da canção reflete a desintegração da amizade e da colaboração criativa entre os Beatles, simbolizando o "caminho sinuoso" que os levou ao fim.