Miguel Proença: pianista brasileiro de prestígio internacional (Divulgação)
Repórter
Publicado em 23 de agosto de 2025 às 12h57.
O pianista Miguel Proença, um dos maiores expoentes da música clássica brasileira, com reconhecimento internacional, morreu nesta sexta-feira, 22 de agosto, aos 86 anos.
Proença sofreu uma falência múltipla de órgãos e faleceu no Hospital São Vicente, no Rio de Janeiro, onde residia. A notícia foi confirmada ao blog do crítico musical Mauro Ferreira, do g1, pelo cantor Márcio Gomes. O velório acontecerá neste domingo, 24, na Sala Cecília Meireles, das 10h às 14h, segundo informações do jornal O Globo.
“Miguel foi uma das pessoas mais queridas que já conheci, respirava arte”, escreveu Márcio Gomes em suas redes sociais. “Sempre foi um amigo leal e um grande incentivador. Sua trajetória como pianista clássico foi brilhante, mas sua paixão pela música popular também era evidente. Suas risadas ecoam no coração de todos que o conheceram. Sentiremos sua falta! Vá em paz, ao som das mais lindas melodias”, homenageou o cantor.
Natural de Quaraí (RS), Proença se apaixonou pelo piano ainda na infância, quando ouviu o som vindo de um casarão. Tocou em bares, clubes e festas no Rio Grande do Sul, além de se apresentar nos mais renomados palcos internacionais. Dedicou-se a popularizar a música clássica no Brasil.
Durante sua juventude, estudou piano nas cidades de Hamburgo e Hannover, na Alemanha. Após retornar ao Brasil, estabeleceu-se no Rio de Janeiro e focou na interpretação de compositores brasileiros, como Alberto Nepomuceno, César Guerra-Peixe, Edino Krieger, Ernesto Nazareth, Oscar Lorenzo Fernández, Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos. Em 2005, lançou “Piano brasileiro”, uma coleção de dez CDs com suas interpretações de compositores clássicos.
“Sempre fui um defensor incansável da música brasileira. Lembro que o pianista Jacques Klein brincava comigo, dizendo: ‘Miguel, como você adora Xangô!’”, disse Proença à revista Concerto, em 2006. Ao longo de sua carreira, o pianista gravou mais de 30 álbuns e colaborou com músicos de renome, como o violinista italiano Salvatore Accardo e o flautista francês Jean-Pierre Rampal. Também trabalhou ao lado da atriz Bibi Ferreira. Proença era frequentemente comparado ao ator britânico Anthony Hopkins devido à sua semelhança física.
Além de sua carreira artística, Proença também atuou como educador e gestor cultural. Foi diretor da Sala Cecília Meireles em 1987 e novamente entre 2017 e 2018. Também liderou a Escola de Música Villa-Lobos e foi secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro entre 1983 e 1988, quando fundou a Orquestra de Câmara da Cidade do Rio de Janeiro. Proença ainda deu aulas no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Universidade de Música de Karlsruhe, na Alemanha.
Em 2019, durante o governo Jair Bolsonaro, Proença assumiu a presidência da Funarte, mas foi demitido em novembro do mesmo ano, após se unir a outros artistas em apoio à atriz Fernanda Montenegro, que havia sido atacada publicamente pelo dramaturgo Roberto Alvim, então diretor do Centro de Artes Cênicas da instituição. Alvim havia chamado a atriz de “sórdida” e “mentirosa”.
“Ao se despedir aos 86 anos, Miguel Proença deixa um legado que vai além de sua obra musical, abrangendo a promoção do piano brasileiro em todo o Brasil”, escreveu Mauro Ferreira. “Seu trabalho como músico e educador guiou sua vida, vivida com fidelidade e dedicação ao amor à primeira vista que teve pelo som do piano quando caminhava com sua mãe pelas ruas de sua cidade natal, Quaraí (RS), rumo ao destino artístico que o consagrou.”
Proença deixa três filhos: Paulo, Daniel e Laura.