Vagão do metrô, no Rio: música tradicional ganhará letra sobre cariocas e passageiros
Agência de notícias
Publicado em 17 de agosto de 2025 às 09h10.
Tanananã nananã... O leitor que já tenha andado de metrô na capital carioca vai reconhecer a onomatopeia. Trata-se de uma referência à música tema do MetrôRio, cujo registro de marca pertence à Zanna Sound, da cantora Zanna.
Na próxima quinta-feira, 21, a melodia vai ganhar uma letra inédita inspirada na história de cariocas e demais passageiros que usam as linhas 1 e 2 para atravessar bairros da cidade.
Os versos foram escritos pela dona da voz dos anúncios de estação dentro dos vagões. A partir do dia 21, a música letrada será conhecida pela população. O pré-save já pode ser feito nas plataformas digitais.
— A letra de “Metrô do Rio” fala das histórias que passam pelo metrô. Eu quis refletir as pessoas, os “metrozeiros”. Numa parte em que falo algumas estações, a letra diz que eu dormi numa e tive que voltar na contramão. “Perdi, perdi a estação, voltei na contramão”. Tem a paquera... É como se fosse um filme, né? Tento traçar esse paralelo — revela a cantora.
O futuro profissional de Zanna parecia traçado desde o nascimento. Fruto do amor de um maquinista de trem, Angelo Lopes, por Ivone Bruno, uma mulher que trabalhava com arte dando orientações de moda, a filha é a artista que todos ouvem em trens e metrôs de todo Brasil.
A voz ecoa nas ondas sonoras dos veículos sobre trilhos de capitais como Rio, Belo Horizonte, Salvador e São Paulo, além de estar no ar também nos saguões de dezenas de aeroportos brasileiros.
— A gente ressoa para 22 milhões de pessoas por dia, em média. Consideramos o que soa na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que é o trem de São Paulo, no metrô de São Paulo, Rio, Salvador e Belo horizonte, nos Veículos Leves sobre Trilhos (VLT)... — enumera.
Na última quinta-feira pela manhã, Zanna posou para as fotos desta reportagem na estação Antero de Quental, no Leblon, Zona Sul do Rio, uma das mais próximas de sua casa.
Entre um clique e outro, um passageiro reconheceu a artista, e o supervisor de segurança Marcelo Ramalho elogiou o projeto de acrescentar versos letrados à bossa contemporânea que embala os passageiros.
— Queria descobrir de quem era a voz do metrô. Aí vi uma entrevista dela num talk show, um tempo atrás. É bacana essa ideia de pôr letra na melodia. A voz dela é leve, o passageiro se tranquiliza na viagem — diz ele, que se locomove entre as estações que ligam o Leblon à Barra. — A música pode ajudar o metrô a se tornar um transporte que inspira ainda mais a cultura.
A faixa tem como co-produtor Kassin, também baixista, e os músicos Kainã do Jêje na percussão e na bateria. Uma orquestra com 22 violonistas e cellistas compõe o grupo de envolvidos no projeto musical, com arranjo de Eduardo Farias.
Ser reconhecida ao falar é comum no dia a dia da carioca. Acontece, segundo ela, nas ruas, nos comércios. Entre anônimos ou conhecidos, também surgem perguntas sobre favoritismo por alguma das 41 estações das linhas cariocas.
— Muitas pessoas já me perguntaram se torço pelo Flamengo porque acham que dou uma entonação diferente a essa estação. A verdade é que não sou ligada em futebol, não (risos) — afirma a artista. — A música me interessa mais, obviamente.
A curiosidade do público é replicada nas redes sociais. Nos comentários em perfis de Zanna na internet, é comum encontrar quem peça para ela anunciar bairros de toda a Região Metropolitana por onde o metrô não passa. Já apareceram em vídeos da artista, referências, por exemplo, a São Gonçalo, cidade que consta no planejamento da Linha 3.
A proposta de expansão foi anunciada há dois meses, dentro do Plano Diretor Metroviário, atribuição do governo do estado. No escopo do projeto, são feitos estudos para entender como se poderá conectar a capital do Rio a Niterói e ao município vizinho, também à margem da Baía de Guanabara.
Zanna lembra que vídeos seus anunciando cidades ou bairros ainda não contemplados pelo metrô costumam fazer sucesso na web:
— O de São Gonçalo foi um dos que mais viralizaram. As pessoas gostam de se identificar, de se sentir representadas.
No fim dos anos 2000, quando o vaivém de passageiros ainda era embalado com música clássica, Zanna se inquietava. Para ela, um transporte usado por tantos cariocas e fluminenses tinha que refletir a cultura do Rio de Janeiro.
— Uma vez, entrei no metrô e estava tocando Vivaldi (compositor italiano). Pensei: “Gente! Vivaldi no Rio 40 graus? Tem alguma coisa muito errada nisso”. É essa a forma de pensar de maneira eurocêntrica, de valorizar o que é de fora, da Europa ou dos Estados Unidos — afirma. — A ideia (de uma música “carioca”) surgiu em 2009, mas emplacamos em 2011.
O projeto foi levado adiante quando Mônica Lamas passou a dirigir o marketing do MetrôRio. A música-tema, então, acabou virando um grande case.
Paralelamente ao sucesso que começava a surgir com voz e melodia do metrô, Zanna aperfeiçoou, ao longo da vida, seus conhecimentos em branding. Ela teve passagens por Itália e Estados Unidos, onde estudou marketing.
Seus projetos com a Zanna Sound tiveram reconhecimento internacional, entre eles o de melhor case de Sound Branding, pela Audio Branding Academy (ABA) na Alemanha. Ela recebeu, ainda, três indicações ao Grammy Latino e já foi convidada para palestrar na Columbia University, nos Estados Unidos, e no Festival de Cannes, na França. O tema dos encontros foi a influência positiva do som na longevidade das marcas e na vida dos ouvintes.
Os voos para aprender, no entanto, não provocaram na artista o desejo de ir embora para sempre. Seu pouso é no Rio, onde “faz a cabeça” surfando na Praia da Macumba ou pedalando envolta pela Floresta da Tijuca de madrugada até de manhã.
— Preciso muito dessa floresta. Preciso respirar, dar um mergulho na cachoeira. Tenho necessidade de pegar uma praia — diz Zanna, que passou a infância em Jacarepaguá, na Zona Oeste.
A afeição pelo Rio aparece em outras faixas do disco que ela lançará em novembro, “Reflexo”. O álbum apresentará, além da música “Metrô do Rio”, outras canções inspiradas na Cidade Maravilhosa.
— A música “Cartão-postal” fala de uma relação que está terminando. Esse fim é ambientado no Rio — diz Zanna, que cantarola: — É assim: “Faço o meu filme no cartão-postal, vou rodando meu olhar pela Perimetral sobre o carro que passa (...), pela Lagoa-Barra...”
No dia 27 de agosto, a cantora e os músicos do projeto farão uma apresentação às 20h na AudioRebel (Rua Visconde de Silva 55, Botafogo). Antes, haverá o lançamento da música, que foi pensado minuciosamente por Zanna:
— Antes disso, vai ter o lançamento do single do metrô, claro. No dia 21 de agosto às 11h52m, por motivos astrológicos.
A cantora, fã de numerologia e também de estudos científicos que envolvem publicidade, tem seu itinerário para conquistar e se manter no trilho do sucesso:
— Eu junto tudo: dos dados às coisas invisíveis. O mais importante é a gente conseguir ser a gente mesmo. Temos que acreditar no que nos pulsa o coração. Segundo: saber que caminho quer seguir. Terceiro: utilizar todas as ferramentas, pesquisas, métrica e tudo mais, para entender como está o mercado. E é preciso ainda muita paciência porque o sonho se concretiza, mas tem seu tempo. Se perseverar, o sonho da gente pode se materializar.