Televisão; streaming (Julia Garan/Getty Images)
Repórter
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 06h59.
Os brasileiros entraram de cabeça (e bolso) no mercado de streaming. O Brasil já representa 36% de toda a receita das empresas de entretenimento e mídia na América Latina e ocupa a 11ª posição no ranking global do setor, segundo a PwC. A projeção é que os brasileiros gastem US$ 39,4 bilhões — cerca de R$ 215 bilhões — neste ano em streaming, música, games e outros serviços digitais.
O crescimento da base de assinantes é parte desse movimento: em 2024, 32,7 milhões de lares no país tinham pelo menos um serviço de streaming, 1,5 milhão a mais que no ano anterior, o que gerou um faturamento estimado em R$ 70 bilhões por ano. O avanço, porém, pressiona a balança de pagamentos: no primeiro semestre de 2025, as remessas ao exterior para pagar serviços digitais subiram 24%, a um total US$ 9,94 bilhões.
Em média, o brasileiro gasta R$ 118 por mês (R$ 1.416 por ano) em assinaturas digitais e de streaming, com média de 3,8 serviços por pessoa. Nos Estados Unidos, segundo pesquisa da Deloitte divulgada em março de 2025, o gasto médio é de US$ 69 por mês, enquanto outros levantamentos apontam valores que variam de US$ 42,38 a US$ 90, com 25% dos consumidores gastando mais de US$ 100 mensais.
No mundo, segundo a PwC, em 2024, o setor de entretenimento e mídia faturou US$ 2,9 trilhões no mundo, alta de 5,5% sobre 2023. A expectativa é atingir US$ 3,5 trilhões até 2029, com crescimento médio anual de 3,7% — acima do ritmo da economia global, de 2,9%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No período, a publicidade digital deve ser o principal motor do avanço, crescendo mais de três vezes mais rápido que o consumo direto de produtos e serviços.
No streaming, o modelo com anúncios (AVOD, na sigla em inglês) deve ampliar sua participação na receita mundial de 20% em 2020 para 27,1% em 2029, com empresas como Netflix, Amazon Prime Video e Disney+ adaptando ofertas para mercados emergentes como o Brasil, segundo a PwC. Globalmente, a receita de OTT (over-the-top) passará de US$ 169 bilhões em 2024 para US$ 230 bilhões em 2029, enquanto os games, outro segmento em alta, devem subir de US$ 223,8 bilhões para quase US$ 300 bilhões no mesmo período.
Para lidar com o impacto econômico do crescimento digital, o Ministério da Cultura e a Agência Nacional do Cinema (Ancine) discutem aplicar a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine) sobre plataformas. Cálculos da agência apontam que, com alíquota de 3%, a arrecadação anual poderia chegar a R$ 2,28 bilhões. No cenário de 12%, o valor subiria para R$ 9,14 bilhões — frente ao R$ 1,2 bilhão recolhido em 2024.
Segundo a Ancine, o mercado de plataformas no Brasil movimenta cerca de R$ 69,7 bilhões por ano, valor que engloba serviços de streaming por assinatura, como Netflix, Disney+ e Amazon Prime Video, e plataformas com vídeos gerados por usuários, como YouTube, TikTok e Instagram. A metodologia utilizada para estimar as receitas parte de dados agregados da Receita Federal, complementados com relatórios anuais das empresas e estudos de mercado.
A agência explicou que a participação brasileira no faturamento global de cada plataforma foi estimada entre 3% e 15%, de acordo com as características de operação no país.
Entre as plataformas líderes de consumo no Brasil, a Netflix fatura R$ 10,4 bilhões ao ano, seguida por Disney+ (R$ 7 bilhões), YouTube (R$ 6,5 bilhões), Amazon Prime Video (R$ 5,29 bilhões) e Globoplay (R$ 4,8 bilhões), segundo estudo a Ancine.