Pop

O império Zig: boate da vez começou com um Uno e conquistou Charli XCX

Boate já tem três endereços em São Paulo e é conhecida por festas de eletrônica e pop alternativo, com forte conexão com seus clientes

Charli XCX: Zig Studio foi um dos primeiros lugares onde a popstar apresentou seu álbum 'Brat' (Instagram/Reprodução)

Charli XCX: Zig Studio foi um dos primeiros lugares onde a popstar apresentou seu álbum 'Brat' (Instagram/Reprodução)

Paloma Lazzaro
Paloma Lazzaro

Estagiária de jornalismo

Publicado em 22 de novembro de 2025 às 08h00.

O álbum "Brat" foi um dos maiores fenômenos culturais de 2024. Grandes publicações como o New York TimesCNN e o The New Yorker correram para explicar o que era o "Brat summer" e o "verde Brat" em junho, durante a avalanche de memes nas redes sociais comemorando o lançamento do álbum de Charli XCX.

Aliás, "Brat" foi a palavra do ano de 2024 do dicionário Collins. Representa, em linhas gerais, um jeito confiante e bagunceiro de levar a vida. E tem tudo a ver com a Boate Zig, em São Paulo, um dos primeiros lugares em que a artista inglesa se apresentou com o repertório do álbum, lançado no dia 7 de junho de 2024. No dia 22 do mesmo mês, Charli XCX fez um show para os fãs brasileiros, meses antes da primeira data da "Brat Tour" em Manchester, na Inglaterra.

"Com o Brat, a própria Charli que procurou a gente. Não foi algo que gente que propôs, foi o contrário. Tanto que demorou muito tempo para a gente entender o que estava acontecendo", conta Rafael Maia, mineiro cofundador da Zig. A artista pop já tinha ido antes à boate, no evento "ClubShy" em novembro de 2022 durante o fim de semana do Primavera Sound São Paulo.

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Uma boate brasileira que uma estrela internacional pede para usar de palco, é uma história de sucesso que poucas casas noturnas paulistanas podem contar. Essa prosperidade, no entanto, é recente. Rafael admite: "2024 com certeza foi um ano de virada para a gente."

'Vendemos o Fiat Uno para abrir a boate'

A Zig foi fundada em 2017 para ser o local a receber a festa Kevin, que existe desde 2015 para promover a liberdade corporal. Com essa proposta ousada, a festa tinha dificuldade em encontrar uma casa noturna para realizar o evento quinzenalmente.

Rafael e seu namorado, Eric, encontraram na Rua Álvaro de Carvalho Nº 190, no centro de São Paulo, onde até hoje funciona a Zig Club, o local ideal para a festa. Durante uma caminhada, Rafael viu o imóvel, com a placa "aluga-se para eventos, local ideal para bar" pendurada na frente. O aluguel era relativamente barato e daria para ser pago com a venda de ingressos para a Kevin.

Apesar do bom preço, o aluguel não é o único custo necessário para a abertura de uma casa noturna. "A gente vendeu o Fiat Uno do Eric para dar entrada nos documentos necessários para abrir a boate. Na época, nós fizemos a venda por R$ 15 mil, foi muito pouco, mas era esse o dinheiro que a gente tinha", diz Rafael.

Com o local alugado, os fins de semana em que a festa Kevin não ocorria ficavam ociosos. Produtores e DJs, amigos do casal, começaram a realizar outros eventos no espaço e, assim, o calendário da Zig foi sendo preenchido.

"A gente não tinha dinheiro para pagar ninguém, aliás, mal tinha dinheiro para comer. Eu trabalhava no bar, aprendi a fazer drinks para isso, e o Eric trabalhava servindo as pessoas ou na porta", afirma Rafael. "Fizemos isso por muitos meses no começo da Zig e também durante o fim da pandemia."

Expansão da Zig

A Zig Club foi a primeira das três unidades da boate, espalhadas pelo centro de São Paulo.

Em 2019 foi inaugurada a Zig Duplex, na Rua Araújo, na República, a fim de abarcar mais festas com maior capacidade de público. A unidade conta com dois andares, um parecido com um bar e outro de pista de dança. Essa é a única unidade que não foi alugada, e sim comprada.

Com a pandemia, o funcionamento ficou restrito ao andar de bar, que, segundo Rafael, gera menos receita do que os ingressos para festas. Esse foi outro período de dificuldades financeiras para a boate.

"A história financeira da Zig é de muito perrengue nos primeiros 6 anos de existência, a gente passou por uma pandemia", diz o cofundador. "Foi uma situação que a gente só conseguiu melhorar bem depois da pandemia. Até então, a gente estava construindo o lugar, então era muito comum fazer festas de graça para conquistar público."

Público é justamente o segredo da Zig.

Em maio de 2022, quando a boate já se estabelecia como uma das principais da cena LGBT+ de São Paulo, a Zig Studio abriu as portas na Barra Funda. "Era antigamente um estúdio de fotos, por isso o nome", conta Rafael. Essa é a maior unidade e foi a que recebeu o show de Charli XCX em 2024.

As três unidades estão localizadas em bairros que têm crescido na cena noturna e cultural paulistana nos últimos anos. A Barra Funda, considerada um dos bairros mais cool do mundo pela revista Time Out, a República e a região do Anhangabaú se tornaram polos de bares e boates no centro. O fundador diz que isso foi um algo orgânico, não planejado.

A venda de ingressos como motor do negócio

O crescimento da Zig tem um motor central: a venda de ingressos.

A frequência mensal nas três boates gira em torno de 4.000 pessoas. Essa é a fonte central de renda, de acordo com Rafael. "A gente também tem a entrada financeira pelo bar, mas não é igual ao ingresso. O bar tem um custo, não só da bebida, mas também da operação do bar em si e da regularização. A margem de lucro é muito pequena", diz.

Os ingressos são vendidos por preços acessíveis, o que também ajuda na fidelização do público. O fundador explica: "até hoje na Duplex, o nosso primeiro lote de todas as festas custa R$ 15 e o segundo lote R$ 20. Esses dois lotes correspondem a 70% dos ingressos. Então as pessoas podem ir aos eventos por um preço bem razoável."

Além disso, a Zig faz desde o ano passado seu próprio festival de música, com ingressos mais caros.

O Zig Festival começou como uma brincadeira na internet, mas, em 2024, se tornou realidade. "Trazemos muitos artistas brasileiros que frequentam a própria Zig. O festival surgiu como uma festa de final de ano, mas conseguimos juntar tanta gente que decidimos fazer algo mais robusto".

A edição de 2025 contou com apresentações de Duda Beat, Rose Gray, Bree Runway, Cyberkills, Urias, Clementaum e outros artistas.

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Status na cena cultural

Além da fidelização do público, outro fator importante para o funcionamento da Zig é o seu posicionamento na própria cena cultural.

A boate se tornou conhecida por tocar artistas de pop e de música eletrônica fora do mainstream, o que conquistou os fãs e os próprios artistas.

"Eu e o Eric estávamos procurando construir um espaço que tocasse na pista o que nós ouvíamos em casa. Fizemos coisas como festa temática da Björk desde o começo. Acreditamos que naquele momento conseguiríamos nos conectar com pessoas que tinham o mesmo pensamento, e funcionou", diz Rafael.

Além da Charli, outros músicos internacionais já se apresentaram na Zig, como Arca, Shygirl e diversos outros nomes que participaram das duas edições do Festival.

Há um trabalho de prospecção de artistas, mas, de acordo com o fundador, boa parte dos contatos são iniciativa dos próprios performers e de suas equipes, que conhecem a boate inicialmente como frequentadores. Essa parceria fortalece a identidade da Zig e permite aos músicos fazer shows para um público nichado em um ambiente festivo.

Quanto aos planos de expansão, Rafael diz que não pode revelar as possíveis novidades. "A gente sempre quer atingir mais pessoas, eu acho que faz parte do nosso DNA na Zig." Apesar desse desejo de crescimento, a estabilidade é também prezada. "A gente está muito contente com o que tá acontecendo agora. Acho que precisa de um tempo de estabilidade, tanto financeira quanto de posicionamento", diz.

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