Liberdade: tradicional bairro de influência nipo-brasileira se torna um dos principais destinos turísticos do mundo (Paloma Lazzaro/Exame)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 1 de novembro de 2025 às 10h00.
Nesta semana, a Liberdade, bairro do centro de São Paulo, foi eleita como um dos 25 melhores destinos turísticos do mundo pelo guia Lonely Planet. O reconhecimento oficial pode ser recente, mas as ruas lotadas no fim de semana e o número crescente de estabelecimentos na região já deixam claro seu status de polo turístico há alguns anos.
"Eu acho que o aumento de turismo aqui é constante. Ocorre desde antes da pandemia, mas antes ele acontecia de um jeito e depois cresce linearmente. Nos finais de semana aqui, a partir das 10h30, tudo trava com o fluxo de pessoas", diz Veronica Castro, guia de turismo na Central de Informação Turística (CIT) Móvel da Liberdade.
CIT Liberdade: localizada próxima à Estátua de Madrinha Eunice, guias turísticos auxiliam visitantes (Paloma Lazzaro/Exame)
Ela diz também que a onda de divulgação no TikTok e por influencers aumentou ainda mais a visibilidade e interesse na região. Para atender a demanda, a Secretaria Municipal de Turismo, responsável por gerenciar as CITs, instalou a unidade na Praça da Liberdade em 2024.
Também atendendo ao aumento de circulação, a Prefeitura investirá R$ 4,6 milhões em um projeto de requalificação do bairro, com previsão de conclusão em 2026. O local receberá calçadas amplas e acessíveis, cruzamentos mais seguros para pedestres, novos espaços de permanência e arborização.
"Alguns anos atrás, os turistas que vinham aqui eram principalmente os amantes de animes e mangá, um perfil mais geek. Hoje em dia não há um perfil bem traçado, tem muitos visitantes diversos", diz Veronica.
Antes da "invasão geek", a Liberdade era majoritariamente frequentada pela comunidade nipo-brasileira e trabalhadores e funcionários públicos do centro histórico.
Alice e Jorge são um casal que frequenta o bairro desde a 1961, quando vieram morar em São Paulo após anos em Hokkaido, no Japão.
Nipo-brasileiros: a Liberdade também tem livrarias e locadoras especializadas em produtos japoneses (Paloma Lazzaro/Exame)
Eles gostam de visitar a Liberdade pelo menos duas vezes na semana, mas evitam os sábados e domingos devido à lotação de turistas."Mudou muito. Aqui antigamente tinha pouco movimento. Agora virou uma área turística, é muito diferente", diz Jorge.
Com mais turistas, novos estabelecimentos surgem no bairro, e os que já estavam lá precisam se adaptar.
O Banri existe desde 1963. O restaurante serve diversos tipos de comida leste-asiática. Humberto Higa é gerente do Banri e está lá desde 2008.
Ele diz que nos últimos seis anos houve aumento da atividade turística do estabelecimento, o que causou mudanças como a disponibilização de cardápios em inglês e espanhol para clientes estrangeiros. Argentinos, franceses e norte-americanos são os principais grupos que ele atende. "Buscamos recepcionar como se fosse o país deles", diz Higa.
Ainda assim, a maioria dos clientes são brasileiros. Nordestinos, sobretudo de Ceará e Bahia, têm sido um dos grupos que mais frequentam o Banri.
"Há uns 15 anos, o perfil dos clientes era do interior do estado de São Paulo e das periferias da cidade. Hoje, eu vejo que metade é de São Paulo e metade, de fora", afirma.
Outra mudança foi a extensão do restaurante. Higa diz que foram feitas melhorias, como a adição do mezanino. Além disso, a parte de baixo do imóvel era uma mini mercearia, que foi desativada para expandir a área de atendimento do restaurante.
Lamen Kazu: cerca de 700 tigelas de lamen são vendidas por dia nos fins de semana (Paloma Lazzaro/Exame)
O Lamen Kazu, um dos principais pontos do bairro (escolhido também pelo Lonely Planet), é outro restaurante que aumentou de tamanho para atender à nova demanda de clientes. A casa de lamen funciona há 17 anos na rua Thomas Gonzaga.
André está desde 2019 trabalhando no restaurante e percebeu o crescimento de turistas. Ele acredita que quem vai ao Kazu tem a curiosidade como principal motivo.
"As pessoas querem saber como é comer lamen. Vários clientes vêm falando que querem provar o lamen do Naruto", diz o gerente.
Nos fins de semana, em média, são servidas 700 tigelas de lamen. Entre as pessoas que possibilitam isso, está Hilton, cozinheiro do Kazu há sete anos.
"É uma comida tradicional do Japão, e nossos ingredientes são importados diretamente de lá. Nem todas as casas de lamen em São Paulo têm os ingredientes japoneses. A gente se diferencia nisso", afirma Hilton.
Nos finais de semana, os clientes podem chegar a esperar por 1h20 para entrar no Kazu. Mesmo após mudar, em 2019, para um imóvel maior para atender mais pessoas e diminuir o tempo das filas, o fluxo de turistas e frequentadores não para de crescer.