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Febre do ouro: países africanos terão alta forte no PIB após cotação do metal subir

Senegal, Guiné e Ruanda estão entre as nações que terão maior avanço da economia nos próximos anos, segundo o FMI

Alta do ouro: países menos lembrados da África terão crescimentos do PIB em 2025 puxado pela alta da exportação do metal (Issouf Sanogo/AFP)

Alta do ouro: países menos lembrados da África terão crescimentos do PIB em 2025 puxado pela alta da exportação do metal (Issouf Sanogo/AFP)

Publicado em 22 de maio de 2025 às 06h00.

Alguns países menos lembrados da África estão entre os que deverão ter os maiores crescimentos do PIB em 2025, projeta o Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre eles estão Senegal (8,4%), Guiné e Ruanda (7,1% cada).

O avanço é puxado pela alta do ouro, metal que esses e outros cinco países africanos, que terão forte expansão neste ano, são grandes exportadores.

O ouro passou a ser mais procurado nos últimos meses como opção de ativo mais seguro em meio às incertezas com o dólar. O valor da onça (28,3 gramas) mais do que dobrou nos últimos anos: passou de 1.500 dólares em maio de 2019 para 3.300 dólares no começo de maio de 2025. Só neste ano, o metal subiu 500 dólares por onça desde que Donald Trump tomou posse nos Estados Unidos.

O FMI projeta que o crescimento deverá se manter por alguns anos na maioria desses países, que possuem economias com níveis de sofisticação variados. Na Guiné, o ouro representa 53% das exportações, segundo dados do Observatório da Complexidade Econômica. Já no Senegal, o metal responde por 18%.

Este indicador dá pistas para uma questão importante: se a boa fase será algo passageiro, como um voo de galinha, ou lançará as bases para uma evolução mais ampla e uma mudança de patamar. Para Carlos Lopes, professor de governança pública da Universidade Cape Town, na África do Sul, há sinais de uma transformação estrutural em andamento, embora ainda desigual.

“Senegal, Etiópia e Costa do Marfim são exemplos claros: apostaram pesado em infraestrutura, modernizaram o ambiente de negócios e conseguiram diversificar suas economias”, diz.

Bônus demográfico na África

Além disso, a África é favorecida pela demografia. Enquanto países do Hemisfério Norte enfrentam envelhecimento em massa e retração na força de trabalho, a África será responsável por mais de 50% do crescimento populacional global até o final do século, de acordo com projeções da ONU. 

Segundo o FMI, a alta população de jovens traz vantagens que precisam ser direcionadas corretamente para gerar crescimento consistente. “[Aproveitar essa vantagem demográfica] depende de reformas estruturais e de investimentos em saúde, educação e em capital humano”, disse Deniz Igan, chefe de pesquisas do FMI.

Entre os desafios africanos destaca-se a alta de preços. “A inflação de alimentos e energia, apesar de alguma desaceleração prevista, continuará comprimindo o poder de compra e testando a resiliência social, especialmente em grandes economias, como Nigéria, África do Sul e Angola”, diz Lopes.

Para o grupo seleto de países que crescerão empurrados por commodities em alta, fica a oportunidade — e o desafio: deixar de lado fundamentos básicos, como o controle da inflação, pode fazer com que o brilho dourado do crescimento seja fugaz.

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