Camila Securato, CSO da EXAME Educação, Betina Zanetti Ramos, fundadora e presidente da Nanovetores, Dayane Titon, diretora comercial e de marketing da Baly Brasil, e Cláudia Rosa, conselheira e investidora-anjo: painel debateu a necessidade de inovar para ganhar novos mercados (Eduardo Frazão/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 22 de maio de 2025 às 06h00.
Última atualização em 22 de maio de 2025 às 12h23.
O caminho de 1 hora entre o Aeroporto de Florianópolis, no sul da ilha, e o Sapiens Parque, bairro planejado para receber empresas inovadoras no norte da capital catarinense, é um convite para entender por que a cidade ganhou o título de Capital Nacional das Startups.
Às margens da SC-401, um dos principais caminhos entre esses dois pontos da cidade, levanta-se um corredor de empresas de tecnologia e hubs de inovação, como o Acate Primavera, o centro de inovação da associação estadual de empresas de tecnologia.
Os bons ventos da inovação se espalham também por outras regiões de Santa Catarina. O setor de tecnologia do estado já emprega mais de 86.000 pessoas e representa 7,5% do PIB local, com expectativa de alcançar 10% até 2026. O impulso criativo não está restrito às empresas de base tecnológica. Mesmo companhias com vocação industrial tradicional vêm adotando o espírito inovador como bússola. É o caso da Baly, fabricante de energéticos de Tubarão, que lança dezenas de sabores inusitados a cada ano — tem até os sabores caipirinha e champanhe.
Essa mistura entre indústria, inventividade e tecnologia é um traço distintivo da economia catarinense e ajuda a explicar por que o estado se tornou um dos territórios mais férteis para o empreendedorismo no país.
A EXAME acompanha essa transformação de perto. Como maior veículo de negócios do Brasil, cobriu apenas nos últimos seis meses mais de 600 histórias de empresas catarinenses. A vitalidade desse ecossistema é inegável, e por isso mesmo a escolha para abrir o calendário de 2025 do Negócios em Expansão (NEEx) Road Show foi natural: Florianópolis.
O setor de tecnologia e inovação movimenta 38 bilhões de reais em Santa Catarina. A EXAME acompanha essa transformação de perto e já contou a história de 600 empresas catarinenses nos últimos meses
A primeira edição do ano aconteceu no início do mês no Passeio Sapiens, com mais de 220 convidados.
Foram 4 horas de conteúdo, painéis com nomes de peso e uma happy hour final dedicada ao networking.
O Road Show é parte do projeto Negócios em Expansão, ranking realizado pela EXAME em parceria com o BTG Pactual Empresas, que reconhece as pequenas e médias que mais crescem no país. No palco, o protagonismo foi compartilhado entre diferentes vozes.
Alberto Kuba, CEO do gigante de eletroeletrônicos WEG, Isabela Blasi, fundadora da startup de dados Indicium, e o ex-nadador e empresário Gustavo Borges dividiram espaço com autoridades como o prefeito Topázio Neto e o secretário estadual Paulo Bornhausen. Cada um à sua maneira apontou um diagnóstico comum: Santa Catarina virou polo de inovação não por sorte ou subsídio, mas por trabalho de base e coesão social. “O pré-sal de Santa Catarina é seu povo”, resumiu Bornhausen. “O sucesso de hoje levou décadas para ser construído. A Florianópolis de agora é mais conectada, mais produtiva e mais inclusiva”, afirmou o prefeito.
Produtividade, aliás, foi um dos temas mais recorrentes da noite.
Gabriel Motomura, sócio do BTG Pactual, lembrou que a produtividade brasileira despencou para um quinto da americana. Ionan Fernandes, da Softplan — empresa de tecnologia âncora do Passeio Sapiens, espaço que recebeu o evento da EXAME —, mostrou como a inteligência artificial já resolve metade dos chamados técnicos. “Não se trata de cortar pessoas, e sim de prepará-las para novas funções”, afirmou.
O evento também deu destaque às vozes femininas. Em um painel exclusivo, a investidora-anjo Cláudia Rosa, a diretora da Baly, Dayane Titon, e a presidente da Nanovetores, de nanotecnologia, Betina Zanetti, falaram sobre os desafios e as conquistas de liderar em um ambiente ainda predominantemente masculino. “Você precisa ter fãs em casa também”, disse Titon, da Baly. “Tem de ter quem te admire quando você chega.” A presença da WEG simbolizou o que é possível quando inovação e gestão andam juntas. Fundada em Jaraguá do Sul, a companhia chegou a 38 bilhões de reais de faturamento em 2024 e mantém fábricas em 42 países. O avanço, segundo Alberto Kuba, veio com estratégia de longo prazo e investimento em gente. “Muitos dos nossos diretores começaram como estagiários — inclusive fora do Brasil”, afirmou.
Já Gustavo Borges, que participou de um dos painéis, levou ao palco uma metáfora esportiva que fez eco no público. “Negócio é como treino: tem dia bom, dia ruim — e você vai mesmo assim.” A frase pode valer para empreendedores de todo o Brasil. Mas, em Santa Catarina, a impressão é de que a consistência virou cultura. E é isso que tem feito o estado chegar cada vez mais longe — com método, com ambição e com os dois pés no chão.