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Marco de Porto Alegre, Cais Embarcadero recebe mais pessoas agora do que antes da enchente

Restaurado, o Cais Embarcadero já recebe mais público do que antes da enchente em Porto Alegre

Fabiana Marcon, CEO do Cais Embarcadero: “Reabrir o Cais foi quase como reabrir a cidade” (Leandro Fonseca/Exame)

Fabiana Marcon, CEO do Cais Embarcadero: “Reabrir o Cais foi quase como reabrir a cidade” (Leandro Fonseca/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de abril de 2025 às 06h00.

Entre os tantos estragos causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, poucos foram tão simbólicos quanto a ausência silenciosa do pôr do sol no Rio Guaíba, o cartão-postal da capital Porto Alegre. Por semanas, o que se viu pela orla da cidade foram nuvens carregadas e margens interditadas. O rio, que costuma emoldurar o fim de tarde mais querido dos gaúchos, avançou sem controle — e fez desaparecer, junto com o acesso, um dos principais pontos de encontro da cidade: o Cais Embarcadero.

Inaugurado em 2021, o projeto recuperou uma área degradada no antigo cais do porto e transformou a orla em destino. Mesclando gastronomia, lazer e cultura, o espaço virou símbolo da nova relação da cidade com o rio — parte de um movimento global que também reinventou margens urbanas em lugares como Puerto Madero, em Buenos Aires, e o South Bank, em Londres. Um lugar para estar, e não só para passar.

Em maio de 2024, o Guaíba não só chegou como entrou: rompeu os vidros, carregou os deques, arrancou o guarda-corpo e deixou no lugar apenas barro, buracos e uma pilha disforme de pedras tombadas.

“A gente perdeu tudo. Teve móvel que flutuou rio abaixo. Quando conseguimos entrar de novo, parecia terra arrasada”, diz Fabiana Marcon, CEO do Embarcadero.

As marcas da destruição não estavam só na altura da água, mas nos detalhes. O paralelepípedo, protegido por tombamento histórico, foi arrancado em vários pontos, transformando o chão em um quebra-cabeça revirado. Contêineres e geladeiras arrastados pela correnteza deixaram buracos na antiga praça de areia. “Foi do zero, ou melhor, do menos cinco. Havia coisas que a gente ainda precisava demolir antes de começar a obra”, diz a executiva.

É pelo tamanho do estrago que chega a ser surpreendente ver como está o Cais Embarcadero agora. Entre os dias 9 e 11 de abril, 23.000 pessoas passaram pelo espaço para acessar o South Summit Brazil, um dos principais eventos de inovação da América Latina. Certamente, a maioria delas nem sequer pensou que, há um ano, tudo por ali estava destruído. O Cais está praticamente 100% recuperado. Alguns lojistas saíram, mas novos entraram, e a ocupação aumentou. A pracinha de areia virou um espaço emborrachado para as crianças. Surgiram um chafariz de verão — batizado de Refresca Cais — e um pet park. Tudo gratuito, como no projeto original.

Como foi o trabalho de reconstrução

Foi um trabalho meticuloso: aterros refeitos, redes hidráulicas reconstruídas, novos geradores e subestação realocados 1,5 metro acima do solo. Sem perdão de dívidas ou subsídios, a reconstrução usou caixa próprio e um financiamento da linha de crédito ao turismo Fungetur. A luz voltou em julho. A obra física ocupou agosto, setembro, outubro e parte de novembro. A reabertura aconteceu em novembro. E não foi discreta. No mês seguinte, o público já era maior do que antes — 53% de crescimento médio. O faturamento dos lojistas subiu 39% em relação ao mesmo perío­do pré-enchente. “A gente teve o melhor janeiro, o melhor fevereiro e o melhor março da nossa história”, diz. “Reabrir o Cais foi quase como reabrir a cidade.”

Na semana anterior ao South Summit Brazil, uma nova tempestade causou estragos em parte da estrutura de alguns restaurantes. O susto foi inevitável, mas dessa vez houve resposta rápida e danos menores. Não à toa, tudo funcionou perfeitamente bem durante o evento de inovação, e quem passou por ali entendeu o propósito do local: ser um lugar para ficar — e para assistir ao melhor presente da cidade: o pôr do sol do Guaíba.

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril do ano passado.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Neste especial, veja histórias de empresas que foram impactadas pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma elAs são uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente.

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