Belém: uma das cidades mais atrativas para novos empreendimentos no país (Julia Jabour/Exame)
Repórter
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 06h00.
Bastante esperada, a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30) chegou a Belém neste mês como um marco para a Amazônia e para o Brasil. Pela primeira vez realizada na região, a cúpula reuniu líderes globais e ativistas para discutir o futuro do planeta, enquanto a capital paraense se reinventou para receber o megaevento, num processo que acelerou o aquecimento do mercado imobiliário.
Desde que a candidatura à sede da COP foi anunciada, em 2022, a cidade virou um canteiro de obras, com 11 bilhões de reais em investimentos destinados a projetos de saneamento, mobilidade e requalificação urbana.
Parte das obras continua inacabada, mas o impacto econômico já é visível. O mercado de trabalho reagiu, a taxa de desocupação caiu para 6,9%, e o preço de venda e aluguel de imóveis disparou.
Plataformas de hospedagem registraram valores inéditos, e em alguns casos abusivos, com diárias na casa dos 10.000 dólares. Meses antes da COP, a cidade tinha o segundo aluguel mais caro do país, com média próxima de R$ 57 por metro quadrado.
“A COP30 impacta o mercado de curta temporada, especialmente hotelaria e locações temporárias”, diz Paula Reis, economista do Grupo OLX.
O último balanço do Índice FipeZAP mostra um movimento estrutural de longo prazo no mercado de imóveis usados, com variação média positiva de vendas subindo de 7,2% para 11,6% em 12 meses encerrados em setembro, e uma alta expressiva nos aluguéis, de 11,9% para 17,4%.
"O mercado de trabalho está dinâmico, a renda real cresceu, e isso permite que as pessoas absorvam reajustes mais altos", afirma a economista.
O momento também é captado pelo Índice de Demanda Imobiliária (IDI) desenvolvido pelo Ecossistema Sienge, CV CRM, Grupo Prospecta e Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O estudo mostra que a cidade saltou da 35ª posição no primeiro trimestre deste ano para a 12ª em setembro, consolidando-se como uma das mais atrativas para novos empreendimentos no país.
Os investimentos públicos em infraestrutura urbana estão impactando a qualidade de vida, em um contexto em que cerca de 75% das moradias são irregulares e 57% da população vive em favelas.
"Belém já se tornou mais atrativa para quem busca moradia, e o impacto da COP tende a alimentar um ciclo de desenvolvimento mais longo", diz Gabriela Torres, gerente de Inteligência Estratégica do Ecossistema Sienge.
O movimento também é percebido pelas incorporadoras locais. Para empresas do alto e altíssimo padrão, como a Leal Moreira, no mercado desde 1986, o setor primário vive um dos momentos mais maduros dos últimos anos.
Segundo o CEO Igor Moreira, o comprador está mais informado e exigente, enquanto a verticalização avança de forma mais qualificada, com projetos mais completos, tecnológicos e sustentáveis. A empresa, que hoje tem 13 empreendimentos ativos, acumula no ano R$ 1,5 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV).
A procura por lançamentos ainda na fundação também aumentou, impulsionada, segundo ele, pela perspectiva de valorização da cidade e pelos investimentos estruturantes.
"Sem dúvida, a COP30 mudou a temperatura do mercado. Belém passou a ser observada pelo Brasil e pelo mundo sob uma lente mais estratégica, e isso naturalmente influencia o comportamento do comprador e do investidor. Mas a COP não cria demanda do nada — ela acelera o que já estava em movimento", afirma.
José Carlos Martins, presidente do Conselho Consultivo da CBIC, tem ressalvas. Ele acredita que parte dos indicadores positivos da capital paraense pode estar inflada por um fenômeno temporário.
"Muitas pessoas seguraram os imóveis para vender só depois da COP. É natural, preferiram aproveitar o aluguel altíssimo durante o evento. Então, o mercado pode ter dado a aparência de melhora, mas ainda há distorções."
Martins também chama a atenção para um problema estrutural: "A legislação urbana de Belém é muito restritiva. É difícil viabilizar habitação popular. Isso faz com que o mercado de baixa renda praticamente não exista".
Ainda assim, especialistas afirmam que o mercado de compra deve ganhar algum fôlego, enquanto os reajustes do aluguel tendem a perder força nos próximos meses.
"Essa nova infraestrutura urbana deve sustentar a demanda imobiliária mesmo após a COP30. A expectativa é de que 2026 seja um ano de consolidação desse crescimento, com um mercado mais maduro e oportunidades tanto para investidores quanto para quem busca qualidade de vida", diz Peixoto Accyoli, CEO e presidente da Re/Max Brasil, uma das maiores redes de franquias imobiliárias do país.