Fazenda com gado no Pará: setor de agropecuária registrou o maior número de M&As de janeiro a agosto deste ano (Nelson Almeida/AFP/Getty Images)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.
A fusão entre Marfrig e BRF neste ano chamou a atenção do mercado pela magnitude do negócio — que envolve receita somada de 160 bilhões de reais. Essa transição, no entanto, faz parte de um movimento maior de crescimento do volume de fusões e aquisições (M&A, em inglês) no agronegócio brasileiro, como revela um levantamento exclusivo da empresa de auditoria PwC Brasil.
Segundo o estudo, de janeiro a agosto deste ano, 46 fusões e aquisições foram realizadas no país, com um valor estimado de 2,5 bilhões de dólares (13,6 bilhões de reais na cotação atual) — estimado porque nem toda transação divulga o valor envolvido. Trata-se de uma alta de 39% em comparação ao mesmo período de 2024.
Juros altos, crédito escasso e a guerra comercial em curso constituíram o cenário ideal para o aumento no número desse tipo de operação nos primeiros oito meses de 2025.
Para Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC no Brasil e responsável pela área de finanças corporativas, o aumento evidencia o grau de incertezas econômicas e políticas em que o agronegócio está inserido.
“É um movimento estratégico de sobrevivência. Em um cenário de margens apertadas, busca por melhor rentabilidade e geração de caixa operacional, esse movimento contribui para a otimização de custos”, diz.
Desde 2008, quando a PwC começou a fazer esse tipo de medição, os anos marcados por crises econômicas ou inseguranças sanitárias, como a da covid-19 entre 2020 e 2022, foram os momentos de maior pico. Em 2025, em especial, a guerra tarifária em curso, liderada pelos Estados Unidos, reforçou o cenário de volatilidade, diz Dell’Oso.

Entre os setores que mais realizaram fusões e aquisições, a agropecuária, que reúne cultivo de alimentos e criação de animais, teve um crescimento expressivo: as transações saltaram de três em 2024 para 12 em 2025.
Outro setor que apresentou alta foi o de frigoríficos e abatedouros, cujas operações aumentaram de três para seis no mesmo período. O setor de avicultura manteve o número de sete transações, igual ao do ano anterior.
Segundo Dell’Oso, esperava-se um número ligeiramente menor de M&As no setor. Mas as taxações impostas por Trump e a gripe aviária no Brasil, em maio, deixaram o setor de proteína animal exposto.
“Os sócios e donos de empresas estão evitando investir mais capital e buscando diversificação para reduzir riscos. Com o mercado de IPO pouco atrativo, a alternativa para essas empresas se tornarem financeiramente mais viáveis é vender ou se fundir”, afirma.
Nas projeções de Dell’Oso, as fusões e aquisições ao longo de 2025 devem crescer 40% em comparação a 2024, atingindo 62 transações, número próximo ao registrado em 2021, quando o mundo ainda vivia os impactos da pandemia.
Para 2026, a estimativa também é de alta, já que as incertezas econômicas e geopolíticas devem permanecer, e o Brasil tem mais um ingrediente. “A eleição presidencial também gera instabilidade. A tendência é de que as empresas do agro enfrentem, infelizmente, dúvidas e dificuldades”, diz.