Revista Exame

De 2 milhões a 5 milhões de reais: eles transformaram o perrengue em faturamento recorde

A Citymatch, que une gestores públicos e empresários a investidores, ofereceu o próprio produto de graça até validar o modelo de negócios

Leon Le Senechal, fundador e CEO da Citymatch: “vamos dobrar de tamanho em 2025” (Leandro Fonseca (foto) e Catarina Bessell (Ilustração)/Exame)

Leon Le Senechal, fundador e CEO da Citymatch: “vamos dobrar de tamanho em 2025” (Leandro Fonseca (foto) e Catarina Bessell (Ilustração)/Exame)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 31 de julho de 2025 às 20h00.


1• LUGAR:

CITYMATCH | Curitiba

LEON LE SENECHAL | Fundador e CEO

O que faz | Conecta cidades e empresas para facilitar investimentos

Receita em 2024 | 2,6 milhões de reais

Ritmo de expansão | 26.218%

Motivo do crescimento | Expandiu atuação geográfica para boa parte dos 399 municípios do Paraná


Muitos empreendedores se deparam com desafios logo na abertura do negócio — e alguns deles parecem insuperáveis.

Quando pegou as chaves do galpão onde planejava montar sua primeira fábrica, em 2016, o manauara Danniel Pinheiro mal podia esperar para tirar do papel a operação da fabricante de cosméticos Biozer da Amazônia.

Seria a realização de um sonho do pai, um cientista do respeitado Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia que pesquisa há décadas as plantas da região — e virou um defensor ferrenho do potencial da biodiversidade brasileira.

O que havia começado de um jeito informal oito anos antes estava dando um passo importante com a chegada de um sócio com dinheiro para investir numa nova sede. Ao chegar ao espaço, a sensação foi de decepção.

“O antigo dono havia levado portas, janelas, divisórias, tudo”, diz Pinheiro. “Para piorar, um cano estourou no mês seguinte e preencheu o local com meio metro de água.”

Embalado pelo modelo de negócios da Biozer, Pinheiro foi à luta. Ele e o sócio Amaral Neto pintaram o galpão, compraram equipamentos e apostaram numa linha de óleos corporais com funções terapêuticas e de géis de limpeza facial com matérias-primas típicas da Amazônia, como pracaxi, copaíba e cupuaçu.

Além disso, passou a fabricar cosméticos também para concorrentes. Foi uma aposta acertada. Em 2024, a Biozer teve receita operacional líquida de 2,3 milhões de reais, alta anual de 21%. Neste ano, a meta é crescer 80%.

Assim como os sócios da Biozer, a maioria dos empreendedores brasileiros arrisca o próprio capital, ou o de amigos e conhecidos, ao abrir um negócio. Entre os empreendedores selecionados para o Ranking EXAME Negócios em Expansão 2025, 74% começaram a empresa sem o apoio de investidores. Geralmente, os tempos e movimentos da empreitada são ditados exclusivamente por um senso de oportunidade aguçado do empreendedor.

Vide o caso do curitibano Leon Le Senechal. Na pandemia, ele viu prefeitos às voltas com a urgência de atrair investidores privados para reavivar a economia de suas cidades. Formado em administração, com uma década de experiência em times de vendas, Le Senechal montou a Citymatch, em 2020.

Num aplicativo, gestores públicos e empresários podem trocar figurinhas sobre temas úteis aos investidores, como os incentivos fiscais e a infraestrutura das cidades. A primeira versão foi oferecida de graça a mais de 50 cidades do Paraná para Le Senechal e os sócios validarem o modelo de negócios. “Os primeiros anos foram assim: só investimentos e aprendizados com as cidades”, diz ele.

A virada veio no ano passado, quando a Citymatch venceu uma licitação do governo do Paraná para colocar a tecnologia à disposição dos 399 municípios do estado. Em razão do certame, a empresa faturou 2,6 milhões de reais em 2024, alta de 26.218% em 12 meses, o que garantiu à empresa o primeiro lugar na categoria de negócios entre 2 milhões e 5 milhões de reais. “Agora, os municípios podem contratar a gente diretamente, sem precisar de novas licitações”, diz ele. “Vamos dobrar de tamanho em 2025.”

Numa empresa cujo modelo de negócios já foi aprovado pelos clientes e a operação está rodando azeitada, o aporte de capital costuma resultar numa expansão acelerada. Foi o caso da startup carioca AtmosMarine, fundada em 2017 para fornecer previsões do tempo e das marés a empresas à mercê das condições climáticas. É um serviço essencial para gigantes do setor de óleo e gás, indústrias, empresas do agronegócio e do entretenimento, como cruzeiros e produtoras de festivais ao ar livre.

Em 2023, uma parte da companhia foi vendida por 1,8 milhão de reais à consultoria OceanPact, do Rio de Janeiro. O aporte foi reinvestido na empresa e alavancou o desenvolvimento de uma inteligência artificial capaz de gerar relatórios ultrapersonalizados aos clientes. Em 2024, a receita da AtmosMarine, de 3 milhões de reais, foi 145% acima do ano anterior. O objetivo para 2025 é chegar aos 5 milhões de reais. “Estamos apenas começando”, diz a fundadora Laura Azevedo.

Por situação semelhante passou o empreendedor paulista Anselmo Lindolfo, da NavMetal, empresa com o segundo maior crescimento de receita operacional líquida na categoria de 2 milhões a 5 milhões de reais. Em 2024, a fabricante de porta-pallets, gôndolas e prateleiras para varejistas cresceu 1.036%, chegando a 2,7 milhões de reais. No período, a injeção de recursos permitiu à NavMetal ampliar o portfólio de acordo com as necessidades dos clientes. “O que eles pedirem a gente faz”, diz Lindolfo. “Isso contribui para tornar o cliente fiel.”

A chegada de recursos — seja por investimentos, seja pela própria geração de caixa — dá segurança para ampliar o horizonte de atuação da empresa e, de quebra, contratar mais gente para tocar junto o negócio. No Censo feito com as lideranças selecionadas para o Negócios em Expansão 2025, 72% planejam contratar mais pessoal nos próximos meses.

Em alguns casos, o recrutamento é um gargalo crítico em razão do crescimento acelerado. É o caso da Jornada Top, segunda colocada nesta categoria, com expansão da receita operacional líquida de 2.667% em 2024, quando faturou 3 milhões de reais.

Fundada em 2019, em Bauru, no interior paulista, a Jornada Top quer ensinar uma pessoa comum a ser uma influenciadora online e, assim, ganhar dinheiro com publicidade. Com o passar dos anos, os sócios Luciano e Thiago Augusto perceberam o potencial da audiência de suas próprias contas que, somadas, têm mais de 20 milhões de seguidores.

Dessa forma, a Jornada Top passou a vender espaços publicitários ali mesmo. “Transformamos nossa audiência em uma fonte constante de receita”, diz Luciano. O próximo passo é uma expansão internacional para Espanha e Portugal, fontes de boa parte da audiência estrangeira da Jornada Top. “A demanda não para de crescer”, diz.

Veja a lista completa das empresas selecionadas para o ranking aqui.


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