Pierre Lucena, CEO do Porto Digital: “Ninguém quer roer o osso do começo” (Porto Digital/Divulgação)
Repórter
Publicado em 28 de agosto de 2025 às 06h00.
“O sertão é o mundo”, dizia Guimarães Rosa. Embora a região ocupe um lugar central na história e na literatura nordestina, a realidade é muito mais complexa. O que antes era visto como sinônimo de secas e paisagens áridas, agora se transforma em um caldeirão fervente de inovação. Principalmente as capitais são palco de uma revolução tecnológica que passa a ganhar destaque dentro e fora do Brasil.
Um dos maiores exemplos é o Porto Digital (PE), hoje casa de quase 500 empresas. O hub de inovação já gerou mais de 20 mil empregos e aproximados R$ 6 bilhões em faturamento. Para chegar a esse ponto, foram necessários milhões de reais, parcerias com o governo e muita, mas muita carne de sol.
“Fomentar um ecossistema exige mais do que infraestrutura; é preciso que todos se movam em direção a uma cultura empreendedora”, diz o CEO Pierre Lucena.
O hub é um dos responsáveis pelo Rec‘n’Play, evento que convida toda a juventude pernambucana para conhecer (e viver) tecnologia nas ruas do Porto Digital. São dias de palestras, workshops, experiências interativas com tecnologias e uma feira de startups.
Recentemente, o Porto Digital anunciou o início das obras de um núcleo de empreendedorismo feito em parceria com o Governo do Estado de Pernambuco e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O projeto, intitulado de NERD (Núcleo de Empreendedorismo e Residência Digital) receberá um investimento de R$ 18 milhões e vai transformar um imóvel histórico da região em um espaço para fomentar inovação, conectar empresas e reter talentos.
Além de já estar presente na cidade de Aveiro, em Portugal, o Porto Digital também será responsável por gerir o novo hub de inteligência artificial de Goiás. Com investimento total de R$ 2 milhões, o programa vai selecionar as dez melhores startups de IA da região, e as inscrições estão abertas até 21 de setembro.
O fato é que o empreendedorismo nordestino explodiu — um crescimento de 3.497% no número de startups, tudo em menos de dez anos. Pela primeira vez na história, o Nordeste ultrapassou o Sul em número de startups em 2024, ficando atrás apenas do Sudeste.
O que vem por aí é um cenário em que o Nordeste não apenas faz história, mas também se torna protagonista do futuro das tecnologias emergentes no Brasil. Veja algumas reflexões de Lucena sobre o ecossistema da região:
EXAME: Um aprendizado?
Pierre Lucena: A inovação precisa de mais do que boas ideias: ela precisa de apoio constante que transforme a possibilidade de empreender em algo acessível a todos. Precisamos expandir isso para toda a população com a ajuda de políticas públicas,
e o Porto tem sido um campo de teste para isso.
Um desafio?
O “osso” do começo ninguém quer. Investir nas primeiras etapas de uma startup é assumir um risco enorme. A falta de tração e os protótipos iniciais fazem com que muitos investidores se afastem, mas é justamente nesse momento que a inovação está sendo moldada.
Um orgulho?
Durante muito tempo, o imaginário coletivo [do Nordeste] estava ligado a carreiras tradicionais. O que fizemos no Porto Digital foi abrir espaço para um novo imaginário, em que empreender se tornou viável.