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Locomotiva da Europa: Espanha cresce acima da média do continente

País vive bom momento, impulsionada pela imigração. Mas incertezas políticas preocupam

Economia da Espanha: salários crescem acima da inflação (Pablo Blazquez Dominguez/Getty Images)

Economia da Espanha: salários crescem acima da inflação (Pablo Blazquez Dominguez/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.

Espanha e Estados Unidos adotam posturas opostas em relação à imigração. Enquanto Washington endurece as regras, Madri facilitou as regras para estrangeiros. Essa política, com várias outras, ajudou a Espanha a ser um dos países que mais crescem na Europa.

“O dinamismo do emprego, a redução das taxas de juro e a entrada de imigrantes impulsionaram a demanda interna, permitindo que a economia espanhola seja neste momento uma locomotiva de crescimento da União Europeia”, diz Santiago Peñas, professor de economia aplicada da Universidade de Santiago de Compostela.

Em 2025, a Espanha deverá crescer 2,5%, enquanto a Zona do Euro subirá 1%. O avanço é uma virada em relação à década passada. Os anos 2010 foram difíceis, pois os efeitos da crise financeira de 2008 demoraram a passar.

Um deles era o alto desemprego dos jovens que, sem perspectivas, planejavam emigrar. Agora, é a Espanha que atrai profissionais de outros países, com medidas como a redução do tempo para obter a permissão de residência. Desde 2019, a Espanha recebeu 1,2 milhão de estrangeiros no mercado de trabalho.

O turismo também está em alta: de janeiro a agosto de 2025, foram 66,8 milhões de viajantes, que deixaram 92 bilhões de euros no país, um volume 7,2% maior do que no mesmo período de 2024. Do exterior chegam também investimentos para novas fábricas, em busca de energia limpa e mais barata. O avanço da energia solar veio após uma redução de impostos feita depois da crise de 2008.

Pedro Sánchez: premiê da Espanha enfrenta pressão interna e tem confrontado Donald Trump (Carlos Alvarez/Getty Images)

Na política, o cenário é mais nebuloso. O primeiro-ministro Pedro Sánchez, do Partido Socialista, no cargo desde 2018, tem minoria no Congresso, é alvo de escândalos de corrupção e da pressão do Vox, partido de direita.

“A polarização e os bloqueios institucionais estão paralisando reformas essenciais que permitiriam a implementação de mudanças pendentes no sistema tributário, no financiamento dos governos subnacionais e no funcionamento da administração pública”, diz Peñas.

Entre as questões a resolver estão a redução do déficit público e a falta de moradias a preços mais acessíveis, um tema que afeta especialmente as grandes cidades, como Madri e Barcelona. 

No campo externo, o premiê tem buscado confrontar o presidente Donald Trump, com medidas como cortar o envio de armas a Israel e se recusar a aumentar sua contribuição para a Otan. Em resposta, o americano ameaça expulsar a Espanha da aliança militar ocidental. O país precisa achar saídas para esses impasses políticos, de modo a evitar que a locomotiva espanhola corra o risco de descarrilar.

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