Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner: “Nos guiamos pelo propósito de encantar todos os stakeholders, dos clientes aos investidores” (Leandro Fonseca /Exame)
Publicado em 26 de junho de 2025 às 06h00.
Numa análise das principais barreiras para a indústria da moda avançar na agenda sustentável a partir de 2025, a McKinsey e o Business of Fashion identificaram como obstáculos centrais a fragmentação da cadeia de valor e a relutância do consumidor em pagar por produtos sustentáveis.
Antecipando-se a esse cenário, a varejista de moda Lojas Renner desenvolveu uma estratégia com três pilares: relações humanas diversas, soluções climáticas circulares e conexões com o ecossistema. “A sustentabilidade está no centro dos nossos valores corporativos e objetivos estratégicos, porque sabemos da nossa responsabilidade enquanto líderes do varejo no Brasil”, explica Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner.
Um marco decisivo veio em 2021, com a inauguração da primeira loja de varejo no país construída em princípios de circularidade. Os resultados foram validados pela aprovação da Science Based Targets Initiative (SBTi) em 2024 para seu compromisso net zero até 2050.
Em decorrência das transformações, suas emissões diretas despencaram 60,9%, antecipando em seis anos a meta de 46,2% anteriormente prevista para 2030. A diversidade se consolidou na estrutura corporativa, com 34,4% de pessoas negras nos cargos de liderança, enquanto mulheres comandam 47,9% das posições executivas. O conselho conta com 37,5% de participação feminina, colocando a empresa entre as listadas na B3 com três ou mais conselheiras, patamar atingido por 8% das companhias brasileiras.
Em maio, uma nova coleção com algodão agroecológico — a quinta com o uso dessa matéria-prima, um pioneirismo da Renner — materializou os compromissos de engajar toda a cadeia produtiva. Cultivado em Minas Gerais e no Ceará sem agrotóxicos, o algodão passa por beneficiamento, fiação, tecelagem e confecção com parceiros da rede de fornecimento, o que garante rastreabilidade e menor impacto ambiental. O projeto beneficiou mais de 330 famílias, colhendo 65 toneladas de algodão em duas safras.
Atualmente, oito em cada dez peças já incorporam critérios sustentáveis, com meta de 100% até o fim da década. O programa transcende a produção têxtil via Instituto Lojas Renner, que apoia a geração de renda, sobretudo para mulheres agricultoras, com o objetivo também de enfrentamento da violência de gênero em comunidades rurais. “Fazemos isso porque somos guiados pelo propósito do encantamento de todos os nossos stakeholders”, destaca Faccio, sintetizando a estratégia que transcende resultados financeiros para construir impacto sistêmico sustentável no varejo brasileiro.
Desde 2023, a C&A, companhia de moda e vestuário, opera com 100% de energia renovável. Em 2024, alcançou 70,6% de matérias-primas sustentáveis na produção. Agora persegue uma nova meta de redução de emissões de CO₂, que aumentou de 30% para 42% até 2030. A estratégia de economia circular já abrange 34% dos produtos, incluindo certificações Cradle to Cradle® nível Ouro para peças têxteis. Parte dos resultados se deve ao Movimento ReCiclo, iniciativa de reaproveitamento e reciclagem lançada em 2017.
De lá para cá, já foram coletadas mais de 350.000 peças, evitando o descarte de 114 toneladas de roupas no meio ambiente. Outros destaques recentes dentro da agenda ESG foram a conquista de 66% de mulheres em liderança e 30% de negros e indígenas em cargos gerenciais. Com investimento de 8,16 milhões de reais em projetos de inclusão social e produtiva, a empresa beneficiou mais de 26.000 pessoas por meio do Instituto C&A.
O Grupo Malwee, fabricante têxtil, vem colhendo os frutos de seu Plano ESG 2030, estruturado em 2021 durante a COP26, que estabelece metas ambientais, sociais e de governança para investimentos transformadores no setor. Em 2024, priorizou projetos de mitigação do impacto ambiental têxtil ao desenvolver tecnologia para aquecimento de água e reúso na produção, ampliando a aplicação em novas cores.
Também firmou parceria com a ONU para promover direitos humanos na cadeia de valor. O marco estratégico é o produto Ar.voree, primeira camiseta mundial que sequestra carbono do ar e o elimina durante a lavagem. Após dois anos de pesquisa, a companhia planeja expandir essa linha além do modelo básico. Para 2025, focará a expansão do Fio do Futuro, priorizando circularidade em coleções, além de investimentos em energia renovável e conversão de maquinários.