Crise na Bolívia: ex-presidente Evo Morales estimula protestos contra o governo de Luis Arce, um ex-aliado (Aizar Raldes/AFP/Getty Images)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 31 de julho de 2025 às 20h00.
Uma Bolívia insatisfeita e em busca de mudanças, com um forte racha na esquerda, votará em 17 de agosto para escolher um novo presidente. O país vive uma crise, com inflação alta e dólares em falta, e a troca de comando gera expectativas. “Esperam-se mudanças que tragam correções na economia e gerem confiança internacional, além de empréstimos, alívios da dívida e chegada de capitais à Bolívia”, diz Carlos Carrafa, diretor do curso de ciência política da Universidade Católica Boliviana.
Há grandes chances de mudança, pois o atual presidente, Luis Arce, de esquerda, desistiu da reeleição. As pesquisas indicam favoritismo de nomes de centro e de direita, que defendem abandonar o modelo nacionalista, adotado desde 2005, e abrir o país ao exterior.
A oposição se divide entre vários perfis, como o empresário Samuel Medina e o ex-presidente Jorge Quiroga. Do outro lado, o partido MAS será representado pelo ministro Eduardo del Castilho, que aparece com chances baixas de chegar ao segundo turno, marcado para 20 de outubro.
A Bolívia vive uma crise em grande parte provocada pelos subsídios, como para a gasolina, pagos pelo governo e que geram dívida em dólares. A medida foi adotada no governo de Evo Morales (2006-19), marcado por um boom na economia do país e por um aumento da distribuição de renda. Arce, ex-ministro de Evo, não conseguiu manter a boa fase ao chegar à Presidência. “Arce é um marxista tradicional, enquanto Evo era mais pragmático e político na economia”, diz Daniel Lansberg, fundador da consultoria Aurora Macro Strategies e professor na Universidade Northwestern.
Arce e Evo hoje são inimigos. O ex-presidente, impedido de competir, comanda protestos de rua contra o governo e tenta desestabilizar a disputa. Analistas dizem que há grande risco de alguma tentativa de ruptura e de questionamento de resultados. A Bolívia precisa achar saí-das para duas crises, política e econômica, ao mesmo tempo.