Revista Exame

‘O Último Azul’ vai fazer você repensar a forma como os idosos são tratados no Brasil

Filme de Gabriel Mascaro tem Denise Weinberg como protagonista e levou o Urso de Prata em Berlim, segundo maior prêmio do festival europeu

Santoro e Weinberg: nas águas do Rio Negro, na Amazônia (Vitrine Filmes/Divulgação)

Santoro e Weinberg: nas águas do Rio Negro, na Amazônia (Vitrine Filmes/Divulgação)

Publicado em 28 de agosto de 2025 às 06h00.

Última atualização em 28 de agosto de 2025 às 06h46.

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Na vastidão das águas do Rio Negro, cercado pela mata densa da maior floresta do mundo, um barco clandestino desliza devagar, sem fazer alarde. Dentro dele, um homem desiludido leva uma senhora de 77 anos que tenta escapar do destino de todos os idosos do Brasil: a ilha colônia de moradias para a terceira idade.

Não é assim tão difícil imaginar o cenário distópico que o diretor Gabriel Mascaro criou para O Último Azul, filme estrelado por Denise Weinberg e Rodrigo Santoro que teve sua estreia no 53⁠º Festival de Cinema de Gramado, em agosto. O longa conta, de forma tragicômica, a história de Tereza, que trabalhava em uma fábrica de carne de jacaré e passou toda a vida em uma pequena cidade industrializada na Amazônia. Um dia, ela recebe uma ordem oficial do governo: é considerada um “patrimônio vivo” do país — o que basicamente significa que está velha demais para viver em sociedade e precisa se mudar para a colônia dos idosos, de onde ninguém volta.

Na trama, além do governo, todos em geral são favoráveis ao destino dos idosos. Passada a idade de corte, o indivíduo perde a identidade, o direito de ir e vir, e até a própria casa. Se tenta fugir, é procurado pela polícia e levado à força — de cata-velho, um carro formulado para apreender as pessoas com mais idade — até a balsa que leva todos os idosos para a nova moradia.

O filme recebeu o Urso de Prata no 75o Festival de Cinema de Berlim. “Pensar nas referências foi muito difícil. Poucos filmes falam sobre o tema, abordam a complexidade da terceira idade”, disse Gabriel Mascaro, roteirista e diretor da obra, à Casual ­EXAME. “Quando existe, é geralmente sobre esse corpo que está na iminência da morte, se despedindo. Meio que a sociedade ficou rápida demais, a tecnologia se desenvolveu muito, e esse corpo já não pertence mais àquilo, é ultrapassado. E eu queria fazer um filme apaixonado pela vida.”

Quem dá vida a Tereza é Denise Weinberg, atualmente com 69 anos. “Trabalhei seis vezes por semana, 10 horas por dia, e foi tão bonito que eu rejuvenesci”, brincou ela. “Mas o que pegou para mim é que a Tereza tem uma pulsão de vida, ela foge de todos esses estereótipos, e eu nunca interpretei alguém assim. Para mim, como atriz, é uma maneira fresca de enxergar essa fase. Uma pessoa velha não tem de ficar assim ‘caquética’, ‘cocó’. Se você olhar, tem um monte de gente aí, atores com 90 anos em cartaz, no teatro, no cinema, fazendo história. É tão bonito isso, continuar a vida como ela merece ser continuada”, disse.

Santoro, que faz uma participação no longa, interpreta Cadu, o homem que leva Tereza no início da fuga de seu destino. “A gente precisa muito conversar sobre como olhamos e lidamos com o envelhecer. E esse roteiro aborda esse tema de forma bem-humorada, profunda. Foi um trabalho de imersão, sem tecnologia, apenas em contato com a força da natureza.”

O Último Azul | Rodrigo Santoro, Denise Weinberg, Miriam Socarras | 28 de agosto nos cinemas


SÉRIE

E o show continua

Jennifer Aniston na quarta temporada do The Morning Show

A quarta temporada de The Morning Show, série premiada do Apple TV+, chega ao streaming em setembro. Estrelada por Jennifer Aniston e Reese Witherspoon, o novo ano começa na primavera de 2024, quase dois anos após os eventos da terceira temporada. Com a fusão entre a UBA e a NBN concluída, a redação precisa lidar com novas responsabilidades, motivações ocultas e a natureza evasiva da verdade em uma América polarizada.

The Morning Show | Apple TV+ | Lançamento dia 17 de setembro


LIVRO

Percepções históricas

Abolição | Angela Y. Davis | Companhia das Letras | 89,90 reais

Em 1970, Angela Y. Davis integrava a lista dos foragidos mais procurados pelo FBI, com acusações de conspiração, sequestro e homicídio. Após um ano e meio de cárcere, a ativista foi inocentada pela corte, mas as prisões assumiriam um papel fundamental em sua obra. Em seu novo livro, Abolição, Davis repensa os significados da democracia, com uma linha do tempo desde a escravidão ao sistema prisional, com reflexões sobre a relação entre o cárcere e o capitalismo, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo.


ARTE

Bienal histórica

Com abertura em setembro, a 36a Bienal de São Paulo será a edição mais longa em 70 anos | Julia Storch

Obra da Bienal: 36a edição terá quatro meses de duração (Bienal/Divulgação)

De regiões próximas a rios como o Tâmisa, o Amazonas, o Hudson, o Limpopo, o Essequibo, além da Baía de Matanzas, foram escolhidos os participantes da 36a Bienal de São Paulo — Nem Todo Viandante Anda Estradas/Da Humanidade Como Prática. “Foi por esses caminhos que conseguimos reunir artistas de todas as regiões do mundo para a Bienal. A água é fundamental para a existência humana e é a base da vida”, diz Bonaventure Soh -Bejeng -Ndikung, curador-geral do evento, que começa em 6 de setembro.

Com o título inspirado em um verso de Conceição Evaristo, “Nem todo viandante anda estradas, há territórios que só a poesia penetra”, do poema Da Calma e do Silêncio, os mais de 120 participantes apresentarão suas artes em diferentes formatos, como performance, vídeo, pintura, som, instalação, escultura, escrita e experimentações coletivas e musicais. Muitos participantes também trarão investigações com base em práticas comunitárias, ecologias, oralidades e cosmologias não ocidentais.

Neste ano há duas novidades históricas. Esta será a primeira edição em 70 anos a ser entregue por uma mulher, com Andrea Pinheiro (presidente) e Maguy Etlin (vice-presidente) à frente da Fundação Bienal de São Paulo. E pela primeira vez a Bienal terá duração de quatro meses, se estendendo até 11 de janeiro de 2026. “A iniciativa tem como objetivo ampliar o acesso do público, promovendo cultura e educação para uma quantidade maior de visitantes”, diz Pinheiro.

36a Bienal de São Paulo — Nem todo viandante anda estradas/Da humanidade como prática| De 6 de setembro de 2025 a 11 de janeiro de 2026 | Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo. Entrada gratuita


Um lugar para COMPRAR VELAS...

...em São Paulo (Brasil)

Guilherme Haji é arquiteto e designer de interiores e fundador da Haji Essentials, marca nacional criada com o objetivo de desenvolver fragrâncias feitas no Brasil. Suas velas aromáticas são produzidas com base vegetal e mineral e pavio de fios 100% algodão, garantindo uma queima limpa e melhor dispersão dos aromas.

...em Paris (França)

Fundada em 1643, a Cire Trudon é a mais antiga fabricante de velas do mundo. Fornecedora da corte de Luís XIV e de grande parte das igrejas francesas nos séculos 17 e 18, a marca continua sendo sinônimo de luxo em home care, reconhecida pelas fragrâncias sofisticadas, ingredientes de alta qualidade e embalagens icônicas.

...em Lisboa (Portugal)

A Caza das Vellas Loreto nasceu em 1789 e mantém a tradição artesanal. As velas são feitas a mão em moldes próprios, com criações especiais que vão de peças natalinas a modelos em formato de ovos de Páscoa. Administrada pela mesma família há gerações, equilibra o respeito à herança com novas ideias para atualizar suas coleções.


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