Revista Exame

Os planos de Roberto Rodrigues — o homem do agro — para a COP30

Enviado especial da Agricultura para a COP30, Roberto Rodrigues, professor da FGV e ex-ministro da Agricultura, detalha o papel do Brasil — e do agro — no evento

Roberto Rodrigues: enviado especial para a COP (Arquivo pessoal/Divulgação)

Roberto Rodrigues: enviado especial para a COP (Arquivo pessoal/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.

Roberto Rodrigues é um nome forte no agronegócio brasileiro. Ex-ministro da Agricultura entre 2003 e 2006, ele foi escolhido como enviado especial para a COP30 — parte de um seleto grupo de 29 notáveis designados pela organização da conferência —, que acontecerá em novembro, em Belém. Em entrevista à EXAME, o professor explica como pretende tratar das questões relacionadas ao agronegócio durante a COP30, entre elas clima e financiamento, e compartilha um sonho pessoal para o maior evento climático do ano.

Como enviado especial para a COP30, quais temas relacionados ao agro pretende endereçar no evento?

Quero compartilhar o conhecimento acumulado no Brasil para ajudar outros países tropicais, como os da América Latina e da África, a aprimorar sua produção agrícola e enfrentar desafios como a segurança alimentar e a desigualdade social. Também desejo abordar a necessidade de fortalecer o cumprimento das leis ambientais no Brasil, separando o trabalho ilegal das práticas legítimas dos agricultores, a fim de preservar a imagem positiva do agronegócio brasileiro.

A COP30 é o espaço adequado para o agronegócio brasileiro projetar sua imagem para o mundo? 

Temos de garantir que a imagem do agronegócio brasileiro não seja contaminada. Quem desmata ilegalmente é bandido, não é agricultor. Quem invade terras é bandido, não é agricultor. Quem põe fogo na floresta é bandido, não é agricultor. É importante separar o banditismo da atividade rural para que a imagem do setor não seja usada de forma negativa. Muitas vezes, concorrentes aproveitam práticas ilegais para distorcer a percepção do produtor brasileiro e, assim, tentar conquistar nosso mercado.

O senhor tem defendido que, sem investimento, não há descarbonização no agro. Pretende levar isso para a COP?

Não é possível transferir tecnologia sem crédito ou financiamento. Isso mostra a necessidade de o mundo financiar os países emergentes para que possam replicar e implementar os processos de tecnologia sustentável, como foi feito no Brasil. Também é necessário que haja uma discussão profunda sobre as regras comerciais, flexibilizando o protecionismo atual dos países desenvolvidos, para que os emergentes possam acessar o mercado. Para isso, é preciso adotar uma visão de financiamento e comércio mais livres e liberais.

Que legado o senhor pretende deixar com a sua atuação na COP30?

Eu tenho dito que esta é uma COP do clima, e não do agro. No entanto, o mundo estará com as atenções voltadas para o Brasil. Temos, portanto, uma oportunidade de mostrar o que foi feito aqui com ciência, tecnologia, empreendedorismo e políticas públicas, e como isso pode ser replicado para que o agro tropical seja um grande motor para a descarbonização. Se eu conseguir contribuir de alguma forma para isso, sinto que minha missão estará cumprida.

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