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O plano B para financiar as safras no Brasil afora

Insuficiência de recursos do Plano Safra leva estados a apostar em Fiagros para aumentar o crédito rural

Fiagro: instrumento de financiamento para um dos principais setores da economia evidencia a complexidade do crédito rural no agro (andreswd/Getty Images)

Fiagro: instrumento de financiamento para um dos principais setores da economia evidencia a complexidade do crédito rural no agro (andreswd/Getty Images)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 22 de maio de 2025 às 06h00.

Diante da expectativa entre os produtores de que os recursos do Plano Safra sejam insuficientes, uma alternativa é apresentada pelos governos estaduais: os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Em abril deste ano, Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, lançou um Fiagro para captar 2 bilhões de reais para o setor. Na Agrishow, foi a vez de Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciar mais dois Fiagros, totalizando 115 milhões de reais, voltados para as áreas de infraestrutura e biocombustíveis — no ano passado, a gestão paulista anunciou um fundo de 50 milhões de reais. O próximo da lista pode ser Mato Grosso do Sul, que deve lançar seu Fiagro ainda neste semestre, segundo Eduardo Riedel (PSDB), governador do estado.

A escolha do Fiagro como instrumento de financiamento para um dos principais setores da economia evidencia a complexidade do crédito rural no agro, afirma Octaciano Neto, fundador da Zera.ag. Em um cenário de Selic a 14,75% ao ano e com a possibilidade de o governo elevar os juros de todas as linhas subsidiadas do próximo Plano Safra 2025/26, a saída pelo mercado de capitais é uma forma de driblar essa situação.

“O Plano Safra, por causa do problema fiscal do governo, não dá conta do financiamento da agricultura, e isso não é de agora”, afirma.

A questão orçamentária sempre foi uma dificuldade no âmbito do Plano Safra, e o próximo, que deve ser anunciado entre junho e julho, não está imune. No ano passado, o governo despendeu 15 bilhões de reais para o crédito subsidiado. Em 2025, com a Selic mais alta, esse valor pode chegar a 24 bilhões de reais, como já afirmou Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).   

O problema, segundo ele, é que não há flexibilidade orçamentária para elevar esse gasto. Para João Pedro do Nascimento, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regulamenta os fundos de investimento no Brasil, ao adotarem o Fiagro como forma de financiamento, os estados oferecem uma oportunidade para que o Plano Safra seja utilizado principalmente por pequenos e médios produtores, que enfrentam mais resistência de instituições financeiras quando buscam crédito.

“É um ciclo dinâmico de oportunidades para todos”, diz ele.

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) enviou uma proposta ao governo para um Plano Safra de 594 bilhões de reais, acima dos 475 bilhões de reais disponibilizados no ano passado.

O governo afirma que a medida deste ano será maior, mas precisa alinhar a proposta com a Selic e seu próprio orçamento.

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