Revista Exame

O modelo único que fez da Kapitalo uma “constelação de hedge funds”

Gigante de 24 bilhões de reais dispensa a figura do CIO — e leva autonomia das equipes a ferro e fogo para garantir bons resultados

Carlos Woelz, cofundador e diretor: processo de “desglobalização” é a grande incerteza no mercado — e deve gerar diversas oportunidades de investimento (Leandro Fonseca/Exame)

Carlos Woelz, cofundador e diretor: processo de “desglobalização” é a grande incerteza no mercado — e deve gerar diversas oportunidades de investimento (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 16 de fevereiro de 2025 às 10h58.

Fundada em 2009, a Kapitalo opera com um modelo único no mercado brasileiro. A equipe de mais de 140 pessoas está espalhada em 11 mesas, com estratégias de investimento e times diferentes, que atuam de modo 100% autônomo — como se cada uma fosse uma -asset independente. Na metáfora cunhada pelo cofundador João Pinho, a asset de 24 bilhões de reais é uma “constelação de hedge funds”.

Os carros-chefe da casa, os multimercados Kappa e Zeta, aplicam os recursos captados nessas mesas, ponderando o risco e a participação de cada uma delas de acordo com seu desempenho. Desde a origem, a proposta sempre foi ter a maior diversidade possível de visões, para minimizar as correlações entre as diversas estratégias e garantir o melhor resultado em cenários distintos.

Se todo mundo busca a diversificação, na Kapitalo ela é levada a ferro e fogo. “Para garantir efetivamente uma diversidade de pensamento, é preciso ter um núcleo intelectual mais fechado dentro de cada área”, diz o cofundador e CEO Carlos Woelz, que foi tesoureiro do antigo banco BBM, um celeiro de grandes gestores hoje independentes.

Apesar do amplo conhecimento de mercado — ele mesmo é cogestor em quatro das 11 mesas —, ele nunca quis ter na Kapitalo a posição de CIO, ou chefe de investimentos, comum em outras casas. “Meu papel não é ditar para onde vai o investimento; é coordenar a liberdade e a potência de todas as mesas.”

Na constelação da Kapitalo, ao longo dos anos, cada estrela foi ganhando vida própria. Nesta edição do Melhores do Mercado, o que garantiu o título de uma das gestoras do ano foi o brilho de duas de suas estrelas: o -Tarkus, na categoria de ações long only, e o K10 Prev, em multimercado previdência. Ambos os produtos nasceram apenas como mesas internas, mas hoje têm também vida própria.

O poder dessa estratégia ficou claro num ano difícil para a indústria de multimercado. A Kapitalo fechou 2024 com 24 bilhões de reais sob gestão, ante 28 bilhões no começo do ano — uma queda bem mais suave que a de muitas grandes gestoras da categoria. Enquanto -Kappa e Zeta sofreram com resgates, o K10, que vem numa janela mais positiva, captou e terminou o ano com 13 bilhões de reais sob gestão.

No Tarkus, de ações, foi mais a visão holística e “sem preconceitos” que garantiu um desempenho positivo, na contramão da indústria, num ano de Ibovespa em queda de 10%.

Depois de atravessar relativamente bem a tempestade perfeita para a indústria de fundos local, Woelz se mostra otimista com as perspectivas para os próximos anos, especialmente por causa dos produtos de previdência. “É uma avenida muito grande de crescimento, sou bastante otimista no médio prazo”, afirma o CEO, que não se rende às lamúrias sobre o avanço de produtos de crédito incentivado ou o curto-prazismo dos investidores. “No final das contas, o que temos de fazer é entregar retorno para o cliente, essa é a base de tudo.” Woelz concedeu a seguinte entrevista.

A Kapitalo é conhecida por suas apostas mais macro, especialmente no mercado internacional. Como você está vendo as tendências para 2025?

Tivemos uma grande questão que dominou os últimos anos: os ciclos monetários coordenados no mundo todo, que deixaram tudo muito correlacionado e tornava difícil fazer operações que de fato diversificassem. Acho que isso ficou para trás, o que nos permite fazer apostas mais individualizadas nos países e ter uma gama de operações maior. A principal incerteza hoje é como o processo de “desglobalização” vai acontecer. Se vai ser por tarifas unilaterais, nos Estados Unidos contra a China, por exemplo. Isso tem um impacto bem grande em atividade econômica. A maneira como você implementa essa desglobalização faz muita diferença nos mercados em termos de atividade econômica e câmbio — e isso nos dá muitas oportunidades para investir.

E em termos de bolsa americana? Você é do time que acha que está muito caro ou ainda tem bastante espaço para andar?

O dólar eu tenho mais facilidade em comprar, porque acho que a perspectiva para os Estados Unidos é boa. Mas, em bolsa, é um mercado que não me dá vontade de operar taticamente, porque o preço é ruim. Fui muito comprado em Estados Unidos quando estava barato, mas agora é o contrário. Eu tenho um pouco de dificuldade de comprar coisa cara. Estamos comprados em exportadores, mas em bolsa americana estamos mais leves.

No Brasil, a situação fiscal está nublando bastante o cenário, com juros de longo prazo altos e a bolsa com múltiplos muito descontados em relação à média histórica. É hora de entrar?

A situação fiscal do Brasil é muito ruim, há uma falta de diagnóstico muito grande. Os dados mais recentes de atividade econômica vieram mais fracos e têm mostrado que a política do Banco Central está fazendo efeito, o que de alguma forma ajuda a ancorar um pouco melhor o juro de equilíbrio e dá certo alívio no curto prazo. Se a atividade continuar vindo fraca, aumenta a chance de mudança de política econômica — mas é um risco para os dois lados. Aumenta a chance de você ter uma resposta eleitoral do governo [via mais gastos fiscais], e aumenta a chance de você ter uma troca de política econômica daqui a dois anos. Mas ainda falta bastante tempo para a eleição e é uma incerteza grande, por isso estamos com uma posição bem leve no Brasil.

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