Revista Exame

O superciclo do biocombustível

SuperAgro da EXAME desembarca em Mato grosso do sul para discutir o enorme potencial transformador DOS biocombustíveis

Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul (à direita): “O estado tem se tornado cada vez mais um polo de bioenergia, especialmente por causa do nosso ambiente de negócios”, disse durante a abertura do evento (Eduardo Frazão/Exame)

Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul (à direita): “O estado tem se tornado cada vez mais um polo de bioenergia, especialmente por causa do nosso ambiente de negócios”, disse durante a abertura do evento (Eduardo Frazão/Exame)

Publicado em 24 de abril de 2025 às 06h00.

Mato Grosso do Sul vive uma expansão acelerada nos últimos anos. A economia local cresceu acima da média nacional e, para 2025, a projeção é de alta de 4,8%, 2,8 pontos percentuais acima da estimativa do produto interno bruto (PIB) brasileiro. O estado já vive uma situação de pleno emprego — em muitos casos, o maior desafio é encontrar mão de obra. Parte desse crescimento se deve à expansão acelerada da agroindústria de biocombustíveis. Segundo a Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), o estado registrou uma produção histórica de 4,2 bilhões de litros de etanol na safra 2024/25, o que o posiciona como o quarto maior produtor do país. Em dois anos, os sul-mato-grossenses miram ostentar o título de segundo maior produtor de etanol do Brasil, atrás apenas de São Paulo, seja da cana-de-açúcar, seja do milho. Foi para entender como esse crescimento acontecerá que a EXAME desembarcou em Campo Grande para uma edição especial do SuperAgro, evento de agronegócio voltado para o setor de biocombustíveis. “Mato Grosso do Sul é um exemplo de como o setor de biocombustíveis tem evoluído. O estado tem se tornado cada vez mais um polo de bioenergia, com excelentes perspectivas para o futuro, especialmente por causa do nosso ambiente de negócios”, disse Eduardo Riedel, governador do estado durante o painel de abertura do SuperAgro.

Para uma publicação de negócios e economia com 57 anos de tradição, foi um ­momento oportuno para se conectar com os leitores locais e, em especial, aprender sobre a realidade regional. Nos últimos anos, a EXAME tem investido em se comunicar diretamente com mercados fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, com eventos em Cuiabá, Vitória e Brasília, por exemplo, nos quais promove debates de alto nível sobre negócios regionais e seu caminho de nacionalização.

A escolha por Campo Grande é respaldada pelos números do setor de biocombustíveis, que falam por si. Com 22 usinas de bioenergia em operação — 19 delas processando cana e três utilizando milho —, o setor emprega 30.000 pessoas por lá e representa 17% do PIB industrial do estado. “Mato Grosso do Sul tem sido um exemplo de resiliência e inovação. O etanol de milho, por exemplo, trouxe uma verdadeira revolução para o setor, e nossa capacidade produtiva continua a crescer, mesmo diante de desafios climáticos e logísticos”, afirmou Amaury Pekelman, presidente da Biosul, em painel.

No geral, as previsões para o setor de biocombustíveis no país são alvissareiras. A expectativa é de que a produção de etanol cresça de 35 bilhões para 48,5 bilhões de litros até 2034, com destaque para o etanol de milho, que representará 30% do total. No mesmo período, a demanda por biodiesel passará de 9,2 bilhões para 13,6 bilhões de litros, com mistura obrigatória de 20% no diesel em 2030 e crescente uso no transporte aquaviário.

Na avaliação de Henrique Araújo, diretor de relações institucionais da Copersucar, esse crescimento será sustentado pela aprovação da Lei do Combustível do Futuro, aprovada em 2024 e em vigor a partir deste ano. “Esse marco regulatório, junto com o Renovabio, representa um avanço importante para o setor de biocombustíveis”, afirmou o executivo em painel sobre etanol e biodiesel. As perspectivas também são positivas para o diesel verde e o SAF (combustível sustentável de aviação), que deverão atingir até 6,5 bilhões de litros por ano até 2037.

Os números reforçam a vocação do Brasil para liderar uma transição energética sustentável, disse Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), no ­SuperAgro. Contudo, apontou Campos, é vital que tanto a iniciativa pública quanto a privada desenvolvam instrumentos de financiamentos­ para alavancar o setor, como o Plano Safra, essencial em um momento de juros altos. “A expectativa é de que o setor de biocombustíveis receba um olhar mais plural no futuro, com foco também em armazenagem e logística”, afirma.

Em 2023, o setor de bioenergia movimentou 320 bilhões de dólares, contribuindo com 10% da expansão do PIB mundial. Somente no segmento de biocombustíveis foram criados 2,8 milhões de novos postos de trabalho, parte de um crescimento total de 18% no setor, que gerou 16,2 milhões de novas vagas, segundo a Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês). A projeção é de um crescimento de 22% na demanda global por biocombustíveis até 2027. O Brasil — em especial Mato Grosso do Sul — será protagonista desta transformação.



Acompanhe tudo sobre:1274

Mais de Revista Exame

Uma das maiores influenciadoras do país, Silvia Braz reflete a importância de ficar offline

Supersafra a caminho

Por que a China precisa aumentar o consumo interno para enfrentar as tarifas de Trump

Com o consumo de vinho em queda no mundo, Brasil se torna porto seguro para vinícolas