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O xadrez da safra 25/26: do recorde de grãos ao desafio da rentabilidade

O Brasil deve renovar recorde na produção de soja na safra 2025/26, mas cenário global e Trump trazem — ainda mais — incertezas

Safra 2025/26: aumento dos custos deve manter margens para o produtor apertadas no novo ciclo (Nani Gois/AFP/Getty Images)

Safra 2025/26: aumento dos custos deve manter margens para o produtor apertadas no novo ciclo (Nani Gois/AFP/Getty Images)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 31 de julho de 2025 às 20h00.

A produção brasileira de soja deve atingir um novo recorde na safra 2025/26, que começou em 1o de julho deste ano e vai até 30 de junho de 2026. As estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam para uma produção de 175 milhões de toneladas, um novo marco para o grão. Já a produção de milho é estimada em 131 milhões de toneladas — em linha com a produção de 131,9 milhões de toneladas de 2024/25.

Ainda que o ano agrícola esteja no início, os mapas climáticos da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) indicam, neste momento, um cenário de neutralidade climática, sem a atuação de La Niña ou El Niño, pelo menos até o período de fevereiro a abril de 2026, durante a colheita em alguns estados brasileiros, o que favorece a produção.

Mas, embora os primeiros cálculos indiquem um desempenho positivo na produção, as margens para o agricultor devem permanecer apertadas diante da conjuntura global.

Segundo o Itaú BBA Agro, as incertezas macroeconômicas e geopolíticas, combinadas com os preços baixos das principais commodities agrícolas, tornam o ambiente desafiador para a nova safra.

“Será essencial manter uma postura vigilante na gestão dos riscos pela possibilidade de reviravoltas em muitas variáveis”, afirma Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do banco.

Uma dessas variáveis é o fertilizante, insumo do qual o Brasil é dependente — 85% do necessário é importado. Segundo projeção do Itaú BBA, os gastos com fertilizantes — principais responsáveis pela elevação do custo operacional — para a nova safra devem subir cerca de 20%.

Potássio e fósforo subiram quase 20% nos últimos 12 meses, aumentando o custo por hectare. Além disso, a ureia, utilizada na produção de milho, teve alta de 30% no semestre.

“As importações de nitrogenados devem crescer ao longo do segundo semestre, à medida que os compradores brasileiros intensificarem as aquisições destinadas, principalmente, à safrinha de milho 2025/26”, diz Tomás Pernías, especialista da consultoria StoneX.

Além disso, a safra recorde testará, mais uma vez, o limite da logística nacional para escoar a produção. “A tendência é de aumento nos preços, pois haverá maior volume de cargas e menos caminhões disponíveis, além da alta no preço do diesel, que subiu 10% até junho”, afirma Federico Veja, CEO da Frete.com. Aproximadamente 40% do custo do produtor rural é formado pelos fretes.

Com o preço dos insumos mais alto e a Selic a 15% ao ano, além de um Plano Safra com taxas subsidiadas mais caras, o retorno para o agricultor fica comprometido.

“O produtor precisa analisar cuidadosamente as oportunidades de comercialização, especialmente considerando uma margem adequada para cobrir seu custo de produção”, diz Guilherme Bastos, coordenador da FGV Agro e ex-secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária. “É uma situação delicada, que exige cautela.”

Cenário climático, crédito, preço dos insumos e fatores econômicos sempre fizeram parte da dinâmica agrícola. Contudo, no ciclo 2025/26, essas variáveis enfrentam ainda mais volatilidade por causa da guerra tarifária em curso, liderada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Nesse contexto, commodities como soja e milho, negociadas em bolsas de valores, enfrentam maior oscilação de preços. “Este é um ano de tensão geopolítica, o que trará uma gangorra de preços constante. Isso impactará negativamente as margens”, afirma André Guillaumon, CEO da BrasilAgro.

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