Casa de câmbio em Buenos Aires: argentinos ganharam poder de compra no exterior no governo Milei (Tomas Cuesta/Getty Images)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 20 de março de 2025 às 06h00.
O verão em Florianópolis foi marcado pela invasão argentina às lojas, que viram as vendas disparar. Só a unidade da Decathlon na ilha recebeu em torno de 5.000 clientes por dia, em busca de economia. No Brasil, uma camiseta de corrida da Adidas custa 129,99 reais. Na Argentina, um modelo similar sai por 45.000 pesos, cerca de 250 reais.
O peso argentino se estabilizou no ano passado, após o início do governo de Javier Milei. A moeda passou a ter uma desvalorização controlada, em torno de 2% ao mês, o que gerou uma queda de 21% diante do dólar no acumulado de 2024. No entanto, os salários em pesos e a inflação subiram acima de 100%, em média. Com isso, quem ganha na Argentina e gasta no país não teve muita vantagem, já que a inflação reduz o poder de compra, mas gastar no exterior ficou mais interessante.
O câmbio estável é uma das táticas do presidente Javier Milei para baixar a inflação. Ele funciona como uma âncora, ao trazer mais previsibilidade econômica. A inflação continua em queda, mas o cenário ainda traz incerteza. Milei negocia um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, para trazer mais dólares para as reservas do Banco Central (BC), que seguem muito baixas.
O presidente é cobrado para implantar as promessas de retirar as barreiras para a compra de dólares, o “cepo”. O governo Milei diz que pretende retirar o cepo em 2025 ou 2026, mas sem definir uma data. O BC argentino reduzirá a desvalorização mensal do peso para 1% neste ano, o que fortalecerá ainda mais a moeda local.
“Se o governo desvalorizar o peso, estará morto politicamente”, diz Ricardo Amarilla, economista sênior da consultoria Economatica na Argentina. “O governo está fazendo de tudo para que o dólar não incomode neste ano.” Haverá eleições legislativas na Argentina em outubro, e Milei terá um teste de peso nas urnas.