Fita Preta: vinícola portuguesa usa inox e ânfora (Jeronimo Heitor Coelho/Divulgação)
Repórter de Lifestyle
Publicado em 20 de março de 2025 às 06h00.
Na última edição do guia de vinhos Descorchados, um dos mais respeitados do mundo, dois vinhos argentinos conquistaram pela primeira vez em 26 anos de publicação os tão cobiçados 100 pontos. Os rótulos, das icônicas vinícolas Catena Zapata e Zuccardi, não têm apenas a nacionalidade em comum, mas também uma característica bastante curiosa: ambos não passam por barricas de carvalho.
Os enólogos responsáveis pela criação dos vinhos explicam que, para expressar de maneira mais fiel o terroir, foi necessário evitar os aromas e sabores conferidos pela madeira das barricas e, em seu lugar, usar tanques de concreto.
Esse movimento não é isolado e está ganhando força globalmente. Alguns produtores têm utilizado alternativas como talhas, semelhantes às usadas na antiguidade romana, ou até ovos de concreto. Mesmo no Brasil, vinícolas têm experimentado esse tipo de processo, desafiando a tradição da madeira.
No Chile, país onde o uso de barris de carvalho se popularizou, também se observa uma tendência crescente a reduzir seu uso. “Trabalhamos para que o vinho não tenha sabor de chocolate. Se ele tiver, deve vir das uvas”, afirma Cristián Vallejo, enólogo da vinícola VIK.
A popularização do uso de barricas de carvalho está atrelada ao célebre crítico de vinhos Robert Parker, cujas preferências pessoais influenciaram enormemente a indústria. Vinhos com forte presença de madeira registravam vendas astronômicas, o que levou diversas vinícolas a adaptar suas produções à predileção de Parker. Com o tempo, o gosto do público mudou. Até mesmo no Velho Mundo, uma tendência crescente aponta para o uso cada vez menor de barricas. João Maria Ramos, enólogo da renomada vinícola portuguesa João Portugal Ramos, responsável pela criação do aclamado Marquês de Borba, é um dos que abraçam essa mudança. “A cada ano, compro cada vez menos barricas”, afirma. Para produtores como Ramos, o vinho não é apenas um produto, mas um reflexo da terra, da história e da essência do homem que o cria.
“A expressão máxima do terroir.” Essa frase resume bem os dois rótulos que conquistaram os tão cobiçados 100 pontos no aclamado guia Descorchados. Segundo Patricio Tapia, jornalista que criou o guia e há décadas cobre o setor, o que levou os dois vinhos a alcançar a pontuação máxima foi um conjunto de fatores, mas o principal deles é o trabalho excepcional com a uva malbec.
1- Adrianna Vineyard Mundus Bacillus Terrae 2021, da Catena Zapata
Este vinho da renomada vinícola Catena Zapata é elaborado na região de Mendoza, a cerca de 1.400 metros acima do nível do mar, ao norte do Vale do Gualtallary. O que se destaca neste rótulo é o fato de ele não ser envelhecido em barris de madeira, mas em tanques de concreto, processo adotado pela primeira vez em 2011. Essa escolha proporcionou a expressão de aromas minerais e salinos. No Brasil, chega importado pela Mistral, com preço de 3.572,39 reais.
2- Finca Piedra Infinita Supercal 2021, da Zuccardi
Elaborado na região de Altamira, a cerca de 1.100 metros de altitude, esse rótulo é fruto do trabalho do experiente enólogo Sebastián Zuccardi, que optou por eliminar a doçura característica do Malbec utilizando colheitas precoces e solos ricos em cal. O resultado é um vinho com aromas extremamente florais e frutados, de caráter leve. No Brasil, o vinho é importado pela Grand Cru. A safra 2021 ainda não está disponível, mas a 2020 sai por 3.559,90 reais.