Colheita da soja em Mato Grosso: no sul do estado a lucratividade da soja deve crescer de 13% para 21% em 2025/26, estima a Datagro (Alexis Prappas/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.
A produção de soja do Brasil na safra 2025/26 deve renovar o recorde da temporada 2024/25. A expectativa é de que o país produza 177,6 milhões de toneladas, um crescimento de 3,5% em relação ao ciclo anterior, estima o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) — no total, a produção brasileira de grãos deve aumentar 0,8%, para 354,7 milhões de toneladas.
Não se questiona, na maioria das casas de análise, a renovação do recorde. As dúvidas, no entanto, pairam sobre o lucro. Segundo relatório da consultoria agrícola Datagro, os agricultores devem aumentar em 2% a área plantada com o grão, impulsionados pela lucratividade bruta da soja – ou seja, quanto eles devem ganhar com a venda do grão antes de descontar despesas fixas.
Mesmo recuando de 28% no ciclo anterior para 17% nesta safra, a lucratividade deve se manter positiva em relação a outras culturas — e até melhorar em algumas regiões do país.
Ou seja, para cada 100 reais arrecadados com a oleaginosa, o agricultor deve obter 17 reais de lucro bruto, levando em consideração o preço base de Rondonópolis (MS), média para o país.
“O produtor avalia se compensa investir naquela cultura. Enquanto for positivo, ou seja, não ficar igual ou próxima a zero, ele vai preferir plantar soja em vez de milho ou algodão. Há incentivos para ampliar a área”, afirma a consultoria.

Segundo a Datagro, o norte do Rio Grande do Sul, por exemplo, deve sair de uma lucratividade de -7% na safra passada para 25% nesta temporada. No Sul de Mato Grosso do Sul, a expectativa é de crescimento de 13% para 21%.
“Nos demais estados, como Goiás, Mato Grosso e Paraná, a previsão é de ligeira queda, mas ainda em níveis acima da média histórica — o que permite alguma diluição dos custos por hectare”, segundo a consultoria.
A confirmação do La Niña pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), contudo, pode comprometer esses números.
Nesse evento climático, a temperatura do Oceano Pacífico tropical fica abaixo da média, provocando efeitos como chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas regiões da América do Sul. Nesse caso, as atenções se voltam — de novo — para o Rio Grande do Sul, um dos principais produtores de soja do Brasil.
“Os modelos já indicavam um cenário de déficit de umidade no Sul, o que pode gerar períodos de estiagem. Mas as consequências desses fenômenos estão sempre sujeitas a pequenas variações”, diz Willians Bini, meteorologista e head de Novos Negócios da Metos Brasil, que fornece soluções de monitoramento para o agronegócio.