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A história do fracasso de uma gigante da internet que gastou US$ 200 milhões no Brasil

Criadora de um dos primeiros serviços de acesso e conteúdo online nos EUA, a AOL não conseguiu adaptar seu modelo ao mercado brasileiro e deixou o país após queimar uma pequena fortuna

Além do Brasil, AOL teve operações na Argentina, no México e em Porto Rico, todas fracassadas (Bloomberg)

Além do Brasil, AOL teve operações na Argentina, no México e em Porto Rico, todas fracassadas (Bloomberg)

Publicado em 10 de agosto de 2025 às 15h27.

Entre os anos 1990 e 2000, a internet comercial se massificou, com inúmeros serviços surgindo para atender ao crescente contingente de usuários. Naquele contexto, a já estabelecida norte-americana America Online (AOL), fundada em 1983, decidiu expandir sua atuação para a América Latina. No entanto, os planos fracassaram em poucos anos.

Por meio de uma joint venture com o Itaú e o Grupo Cisneros, da Venezuela, foi criada a AOL Latin America (AOLA), composta por subsidiárias em Brasil, Argentina, México e Porto Rico. Lançada em 1999, a AOL Brasil entrou no mercado com a ambição de se tornar a maior provedora de internet do país.

Apesar de um início promissor e de investimentos significativos – cerca de US$ 175 milhões –, a empresa não conseguiu competir com opções locais que ofereciam acesso gratuito e serviços de banda larga, como UOL, Terra, BOL e iG, enfrentando dificuldades de expansão e retenção de usuários.

O principal fator de rejeição à AOL Brasil foi seu modelo proprietário, uma tentativa de importar ao Brasil o que funcionava nos EUA. O software de acesso da AOL exigia instalação via CD e um navegador exclusivo, o que foi visto como pesado, problemático e pouco prático pelos usuários brasileiros, acostumados com provedores gratuitos e mais flexíveis no uso da internet.

Por isso, os hábitos locais não se adaptaram ao modelo importado. Em 2005, a base de assinantes estava estagnada em aproximadamente 125 mil clientes. Nesse cenário, a empresa já havia iniciado cortes de custos, encerrando contratos e demitindo funcionários.

Estima-se que a operação brasileira da AOL tenha consumido cerca de US$ 200 milhões ao longo dos anos, com grande parte desse valor investido em infraestrutura e marketing. No Rock in Rio III, por exemplo, realizado em 2001, a empresa foi a principal patrocinadora, gastando R$ 33 milhões (equivalente a mais de R$ 140 milhões, em valores atuais corrigidos pelo IPCA).

O fim da operação no Brasil foi oficializado em 17 de março de 2006, com a AOL Brasil recomendando que seus assinantes migrassem para o Terra, que adquiriu sua base de clientes. A transação envolveu o pagamento de valores entre US$ 750 mil e US$ 1,9 milhão à AOLA, dependendo de quantos usuários aderissem ao novo serviço.

Na madrugada do dia 17, em meio à crise, muitos funcionários e ex-funcionários se reuniram em um bar de São Paulo para “celebrar” o fim da operação. O evento simbolizou o término de uma era para o provedor de internet, que, apesar de seu impacto inicial, não resistiu às rápidas mudanças do mercado.

Dívida da AOL Latin America

No ano anterior ao fechamento da AOL Brasil, a dívida estimada da AOLA era de US$ 182 milhões, representando o fracasso da expansão da AOL para a região.

Assim como a operação brasileira, a AOL Argentina foi vendida por US$ 1 milhão para uma empresa local, a Datco, enquanto a mexicana foi negociada com a AT&T e a de Porto Rico passou a ser administrada diretamente pela AOL norte-americana.

Nos Estados Unidos, a AOL ainda existe e segue em funcionamento. Nos últimos dez anos, a empresa foi adquirida pela Verizon, em 2015, por US$ 4,4 bilhões e, posteriormente, vendida, juntamente com o Yahoo!, ao Apollo Global Management por US$ 5 bilhões, que adquiriu 90% de sua divisão de mídia.

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