“O parlamento do Nepal agora é o Discord”, disse Sid Ghimiri, de 23 anos, criador de conteúdo em Katmandu (Fabian Sommer/Getty Images)
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Publicado em 12 de setembro de 2025 às 13h58.
Após a queda do governo do Nepal nesta semana, motivada por protestos iniciados contra uma tentativa de banir as redes sociais, o aplicativo popularizado por gamers Discord se transformou no centro do debate político no país. Mais de 145 mil cidadãos aderiram a um canal criado pela ONG Hami Nepal, que passou a funcionar como uma convenção digital para discutir a escolha do próximo líder.
A mobilização começou depois que protestos contra desigualdade, corrupção e a tentativa de banir redes sociais no país deixaram mais de 30 mortos em Katmandu. Com o parlamento incendiado, o primeiro-ministro fora do cargo e o exército no controle da capital, os nepaleses migraram para o aplicativo para organizar discussões sobre o futuro político.
“O parlamento do Nepal agora é o Discord”, disse Sid Ghimiri, de 23 anos, criador de conteúdo em Katmandu. As conversas, feitas em voz, vídeo e texto, ganharam repercussão em TVs e sites locais.
Embora o poder esteja nas mãos dos militares, os organizadores do canal foram convidados a sugerir nomes para um governo de transição. Após enquetes e debates, o grupo indicou a ex-chefe da corte suprema, Sushila Karki, que já se reuniu com o presidente Ram Chandra Poudel e o comandante do exército, segundo o New York Times.
Para Shaswot Lamichhane, recém-formado no ensino médio e um dos moderadores, o canal funciona como intermediário informal entre cidadãos e o exército. “Tudo o que é dito no Discord chega ao quartel-general”, afirmou.
O crescimento rápido do servidor também trouxe dificuldades típicas de plataformas abertas: discussões desorganizadas, brigas internas e infiltração de trolls. Moderadores precisaram conter mensagens de ódio e pedidos de violência, ao mesmo tempo que corriam para chegar a um consenso.
Especialistas consideram inédito o uso político do Discord no Nepal, seja pela escala ou pela finalidade. No entanto, para Steven Feldstein, do Carnegie Endowment, o episódio reforça o poder das plataformas digitais para mobilização, mas também expõe suas limitações para a criação de estruturas políticas estáveis a longo prazo — sobretudo quando 145 mil pessoas têm voz ao mesmo tempo.