Gates e Linus: encontro inédito entre os ícones de Windows e Linux marca um capítulo simbólico de reconciliação na história da tecnologia (LinkedIn/Reprodução)
Repórter
Publicado em 23 de junho de 2025 às 07h28.
Após mais de 30 anos de competição entre os dois sistemas operacionais mais influentes do mundo, Bill Gates e Linus Torvalds se encontraram pessoalmente pela primeira vez.
O encontro, promovido por Mark Russinovich, criador do Sysinternals e diretor técnico da Microsoft Azure, reuniu também Dave Cutler, responsável pelo desenvolvimento do Windows NT.
A reunião, embora informal, marca um momento simbólico no fim de uma das maiores rivalidades da história da tecnologia, entre o modelo proprietário da Microsoft e a filosofia colaborativa do software livre.
A trajetória de Microsoft e Linux foi marcada por confrontos diretos.
Nos anos 1990 e 2000, a empresa de Gates via o sistema de Torvalds como uma ameaça à sua hegemonia. Internamente, isso ficou evidente nos chamados Halloween Documents, memorandos vazados em 1998 que detalhavam estratégias para conter o avanço do open source.
A Microsoft temia que o Linux minasse sua principal fonte de receita: o licenciamento de software proprietário. A empresa chegou a lançar campanhas de desinformação e acionou mecanismos legais para limitar a expansão do código aberto, especialmente no setor de servidores.
Nos últimos 15 anos, a relação entre os dois mundos mudou drasticamente. A Microsoft tornou-se uma das maiores contribuidoras do kernel do Linux, lançou produtos baseados em código aberto e integrou ferramentas Linux ao Windows, como o Windows Subsystem for Linux (WSL), hoje também de código aberto.
A empresa ingressou na Linux Foundation como membro Platinum em 2016 e passou a hospedar mais cargas Linux do que Windows em sua plataforma de nuvem, o Azure. O pragmatismo dos negócios e a força do modelo colaborativo levaram a uma reconfiguração da postura da gigante de Redmond.
Gates, fundador da Microsoft, defendeu desde o início a monetização do software e a proteção da propriedade intelectual. Em 1976, ainda como estudante, escreveu a famosa “Carta Aberta aos Hobbystas”, em que criticava o compartilhamento gratuito de programas por entusiastas da computação.
No texto, argumentava que esse comportamento desincentivava o desenvolvimento profissional de software e inviabilizava modelos sustentáveis de produção. Essa visão foi a base da estratégia da Microsoft nas décadas seguintes: consolidar o licenciamento como pilar do setor de tecnologia e estabelecer uma plataforma proprietária amplamente dominante, com o Windows e o pacote Office como principais símbolos.
Torvalds seguiu o caminho oposto. Ao criar o kernel do Linux em 1991, adotou uma licença de código aberto que permitia a qualquer pessoa estudar, modificar e redistribuir o sistema.
Essa abordagem colaborativa e descentralizada deu origem a um ecossistema global, impulsionado por contribuições voluntárias de desenvolvedores, empresas e universidades. O Linux cresceu rapidamente em ambientes onde confiabilidade, escalabilidade e custo eram essenciais — como servidores, data centers, supercomputadores, sistemas embarcados e, mais tarde, dispositivos móveis, como os que rodam o sistema Android.
O Windows ainda lidera o mercado de desktops, com cerca de 70–72% de participação, segundo dados da Statcounter. Já o Linux atingiu seu maior índice histórico, com cerca de 4,7% — número que pode ser subestimado devido ao uso de ferramentas de anonimato.
No setor de nuvem, o cenário se inverte: Linux domina como sistema operacional preferencial nos servidores de gigantes como AWS, Azure e Google Cloud.