Tecnologia

Brasil virou oportunidade para a Logitech, diz CEO da gigante suíça

Em entrevista exclusiva à EXAME, Hanneke Faber detalha como IA, comunidade gamer e B2B devem impulsionar a marca no país

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 16h09.

Última atualização em 17 de novembro de 2025 às 16h09.

Hanneke Faber, CEO global da gigante dos acessórios para computador Logitech, desembarcou em São Paulo este mês pela primeira vez desde que assumiu o comando da companhia, no fim de 2023, e decidiu transformar a viagem em mais do que uma agenda corporativa. Em entrevista exclusiva à EXAME, e primeira para o Brasil, ela conta que veio ao país para entender, de perto, como os produtos idealizados na Suíça se encaixam na rotina do mercado que hoje desponta como uma das maiores oportunidades da marca.

Entre reuniões com executivos e clientes, Faber incluiu um gesto incomum para uma líder global: visitou a casa de usuários da marca para entender de perto a usabilidade dos produtos pelos consumidores. Depois de ver estúdios improvisados, setups criativos e criadores gravando conteúdo em diferentes formatos, saiu com uma convicção rápida: “No Brasil, todo mundo é influenciador”. A percepção, parte curiosidade, parte análise estratégica, reforçou sua leitura de que entender hábitos locais será crucial para moldar a empresa em sua reinvenção.

Faber, holandesa e veterana de multinacionais como Procter & Gamble, PepsiCo e Unilever, assumiu a Logitech com um duplo desafio: renovar o portfólio de uma empresa fundada há 40 anos, líder mundial em periféricos, e reposicionar a marca numa era em que hardware, sozinho, já não é suficiente. É esse pensamento, menos ligado a acessórios e mais ao que ela chama de “conexão entre pessoas e computadores”, que orienta seu plano de expansão no país.

Hanneke Faber, CEO da Logitech: empresa mira expansão no Brasil com foco em IA, durabilidade e produtos premium (Divulgação/Logitch)

À EXAME, a executiva conta que a operação brasileira entrou no núcleo das prioridades globais. Os motivos são concretos: o país soma 230 milhões de dispositivos de computação, segundo dados internos da empresa, um volume superior ao número de habitantes estimado pelo IBGE, de 213 milhões. E uma pesquisa conduzida pela própria Logitech identificou que 92% dos brasileiros usaram alguma ferramenta de inteligência artificial no último mês.

A partir desse cenário, quatro grupos se tornaram fundamentais na estratégia local: o mercado corporativo, no qual a Logitech lidera globalmente em videoconferência; os usuários avançados, nos quais se enquadram engenheiros, arquitetos, desenvolvedores; trabalhadores que buscam ergonomia para evitar dores e afastamentos; e, sobretudo, a comunidade gamer.

Essa última é vista como a âncora estratégica da Logitech e, no Brasil, essa frente ganha contornos particulares. Para Faber, a presença da empresa entre gamers brasileiros vai muito além da venda de teclados e mouses: trata-se de uma comunidade que molda tendências, pressiona por inovação e frequentemente antecipa comportamentos que só mais tarde se tornam globais.

A executiva descreve o ecossistema brasileiro como “um dos mais intensos, expressivos e conectados” do mundo. Essa intensidade se revela não apenas no consumo de jogos e equipamentos, mas na produção de conteúdo: jovens streamers que montam seus primeiros estúdios com criatividade; jogadores profissionais para os quais periféricos viram extensão do corpo; criadores que transformam tutoriais, gameplay e análises técnicas em rotina. É um cenário que Faber testemunhou com os próprios olhos durante as visitas às casas de usuários.

A marca tem se apoiado nesse movimento. A Logitech investe em eventos, ativações locais, desafios presenciais e no fomento de comunidades, uma estratégia desenhada para um país onde a cultura gamer cruza entretenimento, influência e carreira. “Temos muitos ‘logilovers’ aqui”, afirma a CEO. “Mas isso existe porque a equipe local está próxima da comunidade.”

Segundo ela, essa combinação de paixão, domínio técnico e presença digital cria um ponto de vantagem competitivo: cada novo periférico lançado no país tende a gerar feedback detalhado, vídeos comparativos, testes independentes e ondas orgânicas de influência. O Brasil se torna, assim, um laboratório vivo, e veloz, para ajustes de design, ergonomia, software e durabilidade.

O conceito do “mouse para sempre”

Desde que assumiu a liderança, Faber tem defendido publicamente o conceito de um “mouse para sempre”, um periférico que seria tão durável quanto um Rolex, capaz de atravessar anos sem perder relevância graças a atualizações de software.

Esse pensamento já aparece nos lançamentos recentes, todos com software como centro estratégico. A câmera Site, projetada para ambientes híbridos, utiliza IA para focar automaticamente em quem está falando, ignorar movimentos irrelevantes e alternar ângulos conforme a dinâmica da conversa. Outro produto é o headset cocriado com a McLaren, apresentado no Brasil em outubro, que combina cancelamento de ruído com algoritmos de interpretação ambiental.

Na linha de produtividade, a estrela é o novo MX Master 4, um mouse voltado a engenheiros, arquitetos e criadores que demandam precisão milimétrica. “Com ele, esses profissionais chegam a ser 50% mais rápidos”, afirma Faber.

O bom momento da Logitech

No primeiro trimestre fiscal de 2026, a Logitech superou expectativas do mercado, com lucro por ação ajustado de US$ 1,26 e receita de US$ 1,15 bilhão, um crescimento de 5% ano sobre ano. A previsão anual foi revisada para cima, agora entre US$ 4,39 bilhões e US$ 4,47 bilhões.

A performance se explica, em parte, pela diversificação da cadeia de suprimentos. A empresa produz hoje em seis países, mantendo 30% da operação concentrada nos Estados Unidos, movimento que reduziu os efeitos das tarifas impostas durante o governo de Donald Trump.

Agora, com as margens protegidas num setor sensível à logística, o Brasil deve ganhar mais protagonismo no mapa da Logitech, uma empresa que tenta, além de vender hardware, ressignificar o elo que une tecnologia e seus usuários.

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