Repórter
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 08h41.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 13h00.
LISBOA | “Não construímos infraestrutura digital por construir. Construímos para servir empresas, usuários e salvar vidas”, afirmou o búlgaro Ivo Ivanov, CEO da DE-CIX, ao descrever a missão — muitas vezes invisível — da operadora alemã de pontos de troca de tráfego (Internet Exchange, ou IX) na sustentação da economia digital. Com atuação global, a empresa tem ampliado sua presença no Brasil, onde já opera hubs estratégicos em São Paulo e no Rio de Janeiro, e busca agora adaptar suas redes para suportar as novas exigências impostas pela inteligência artificial generativa.
Durante o Atlantic Convergence, evento da empresa que acontece nesta quarta-feira, 29, em Lisboa, Ivanov propôs o aprofundamento das parcerias tecnológicas entre América Latina, Europa e África para promover investimentos em cabos submarinos, centros de dados e plataformas de interconexão digital. Nesse modelo, segundo ele, Portugal se torna um ponto de entrada resiliente, sustentável e neutro para conectar continentes e suportar aplicações críticas de IA, como a medicina à distância.
O executivo defendeu a criação de uma nova camada de colaboração, chamada AI Exchange — ou AI-IX —, uma comunidade virtual que integra diferentes pontos da cadeia de inteligência artificial, do treinamento à inferência de modelos. Essa abordagem busca aproximar o processamento de dados de onde ele é mais necessário, especialmente em casos em que cada milissegundo conta.
Ivanov destacou o papel da infraestrutura digital no suporte à saúde de forma direta: “Estamos falando de ambulâncias conectadas em tempo real, com robôs cirúrgicos operados por especialistas a quilômetros de distância. Isso não é ficção científica. Já acontece”, afirmou.
Em um dos exemplos citados, uma cirurgia remota bem-sucedida foi realizada por um médico em Miami em um paciente em Angola, com apoio de redes redundantes e interconexões confiáveis.
Ivanov apresentou ainda o conceito de controle adaptativo por IA em robôs cirúrgicos. Nessa modalidade, a máquina não apenas executa os comandos do médico, mas os otimiza em tempo real, podendo inclusive oferecer retorno tátil, permitindo que o cirurgião sinta a resistência do tecido e ajuste o procedimento remotamente.
Em sua análise, Ivanov alertou para a discrepância no acesso a serviços de saúde globalmente. “Cerca de 50% da população mundial não tem acesso essencial à saúde, e 40% não consegue chegar a um hospital em até uma hora”, destacou. A falta de infraestrutura digital nesses locais compromete o potencial de impacto da IA.
O desafio é acentuado quando se observa a distribuição de grandes centros de dados, os chamados hyperscalers. Enquanto os Estados Unidos concentram centenas dessas unidades, a América Latina conta com apenas dez, e o continente africano, apenas um. “A computação está centralizada, mas os dados estão por toda parte. Precisamos levar os dados ao poder computacional de forma segura e eficiente”, explicou.
A proposta da DE-CIX é apoiar essa descentralização por meio da interligação de pequenos e médios data centers regionais, criando uma comunidade virtual capaz de oferecer GPU as a service — infraestrutura de processamento gráfico sob demanda, essencial para aplicações de IA.
Ao propor a integração atlântica, Ivanov posiciona Portugal como elo logístico e simbólico entre continentes. A infraestrutura de cabos submarinos e os investimentos em conectividade neutra e sustentável no país tornam Lisboa um ponto natural de articulação entre Europa, África e América Latina.
Para ele, a responsabilidade do setor vai além da inovação técnica: “Cada segundo que passamos navegando no Google hoje já envolve inteligência artificial. Isso está em nossos bolsos, em nossas casas, nas estradas. A questão agora é garantir que essa tecnologia beneficie todos”, concluiu.
O jornalista viajou a convite da DE-CIX.