Repórter
Publicado em 2 de julho de 2025 às 19h20.
Última atualização em 2 de julho de 2025 às 20h10.
O ataque hacker que desviou cerca de R$ 400 milhões usando o Pix nesta semana chamou a atenção não só pela quantia, mas também pela complexidade para a invasão e também recuperação de parte dos valores nas transações fraudulentas. A invasão ocorreu por meio da C&M Software, uma empresa veterana do setor e que conecta bancos ao Banco Central, e mostrou como o Mecanismo Especial de Devolução (MED), criado para combater fraudes, tem certa eficácia, mas ainda enfrenta barreiras para funcionar de forma plena.
A C&M atua como provedora de serviços de tecnologia para bancos e fintechs, operando como um elo entre instituições financeiras e o sistema de liquidação do Pix. Ao explorar credenciais indevidas, hackers acessaram contas reservas mantidas no Banco Central e conseguiram enviar valores de forma fraudulenta para outras contas — muitas delas controladas ou usadas como “laranjas” para pulverizar o dinheiro.
Segundo relatos, parte dos valores foi rapidamente convertida em criptomoedas, impedindo o rastreamento posterior. Ainda assim, uma fração menor do montante pôde ser bloqueada e devolvida usando o MED — ferramenta criada justamente para conter esse tipo de golpe.
Para lidar com o crescimento de fraudes no Pix desde o lançamento em 2020, o Banco Central criou o Mecanismo Especial de Devolução em 2021. Ele funciona como um procedimento formal para reverter valores mesmo depois de uma transferência concluída:
O sistema também conta com o Bloqueio Cautelar, que congela recursos por até 72 horas quando há indícios imediatos de fraude.
Esses mecanismos já permitiram recuperar milhões de reais em fraudes menos sofisticadas — mas o ataque à C&M escancarou como eles podem falhar quando o crime é bem articulado e veloz.
Embora o MED tenha sido acionado, a maior parte dos R$ 400 milhões desviados escapou ao bloqueio. Isso ocorreu porque os criminosos transferiram o dinheiro para várias contas e converteram parte dele em criptomoedas antes que os bancos conseguissem emitir alertas.
Fontes do setor financeiro criticaram a segurança do Banco Central, questionando como valores tão altos puderam sair sem disparar alertas internos. Um ponto central foi a própria natureza flexível do Pix, pensada para facilitar transferências rápidas, mas que acabou se tornando vulnerável em operações coordenadas.
A arquitetura do Pix apresenta aberturas que dificultam a detecção imediata de fraudes de grande porte:
O MED só consegue bloquear valores que ainda estejam na conta do recebedor quando o pedido de devolução chega. Se o dinheiro já tiver saído dali — seja via novas transferências ou conversão em criptomoedas —, não há como recuperá-lo.
Para lidar com isso, o Banco Central planeja lançar uma nova versão do MED com rastreamento em múltiplos níveis, para tentar seguir o dinheiro mesmo quando ele é pulverizado em contas “laranjas”.
A meta é detectar repasses suspeitos em cadeia, aumentar o poder de bloqueio preventivo e melhorar o compartilhamento de alertas entre instituições.