Repórter
Publicado em 4 de abril de 2025 às 14h31.
Última atualização em 4 de abril de 2025 às 17h05.
A Apple estuda ampliar a montagem de iPhones no Brasil como forma de contornar as tarifas de importação anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segundo fontes ouvidas pela EXAME. Em favor do país, estão as tarifas recíprocas dos EUA menores e fixadas em 10%.
Na cadeia produtiva atual, dependendo em mais da metade dos envios vindos da China, o smartphone pode encarecer em até 40% para o consumidor americano. A Índia, que tem ganhado importância na estratégia da Apple nos últimos anos, e que dobrou a produção de aparelhos entre 2024 e 2025, também foi atingida: seus produtos enfrentarão uma tarifa de 26% a partir de 5 de abril.
A Apple vende mais de 220 milhões de iPhones por ano e tem nos Estados Unidos seu maior mercado. Com tarifas tão elevadas, a companhia enfrenta um impasse: absorver os custos e reduzir suas margens, ou repassar os valores aos consumidores — o que pode afetar diretamente a demanda. Segundo analistas ouvidos pela Reuters e pela agência Counterpoint Research, os preços podem subir de 30% a 40%.
A situação fez as ações da Apple despencarem mais de 8%, o pior resultado desde setembro de 2020.
A possibilidade de ampliar a fabricação no Brasil começou a ser estudada ainda no ano passado, com atualizações de maquinário e processos industriais. A Foxconn de Jundiaí (SP), parceira histórica da Apple, já monta os modelos base do iPhone 13, 14, 15 e, recentemente, recebeu autorização da Anatel para fabricar o iPhone 16.
A homologação brasileira, no momento, cobre apenas o modelo base, enquanto os modelos mais avançados, como iPhone 16 Pro e Pro Max, continuam sendo importados. Ainda assim, a infraestrutura nacional pode ganhar protagonismo se a Apple precisar redistribuir sua produção global para reduzir custos tarifários.Fábrica da Foxconn em Jundiaí (Fabiano Accorsi/EXAME.com)
A Foxconn no Brasil opera sob regime especial que permite abatimento de impostos locais, mas até hoje essa produção nacional não resultou em queda significativa nos preços finais dos iPhones no país. Sendo assim, o foco pode se tornar outro: usar o Brasil como ponto de montagem para exportar ao mercado americano — onde as tarifas são menores que as aplicadas a China e Índia.
Um relatório da Counterpoint destaca que o aumento nas tarifas pode forçar a Apple a repensar seus planos de longo prazo para a Índia. “Se as tarifas mais altas persistirem para iPhones feitos lá, isso terá impacto na demanda nos EUA”, dizem os analistas da consultoria. Para o Brasil, isso pode representar uma rara janela de oportunidade.
A decisão da Apple dependerá da capacidade de Jundiaí absorver uma fatia maior da produção sem comprometer prazos, logística e controle de qualidade.
Além disso, analistas apontam que a Apple pode considerar rotas indiretas — como exportar a partir de países com tarifas mais baixas ou negociar isenções com o governo dos EUA. Consultada, a Apple não quis comentar o assunto.