WhatsApp (Imagem gerada por IA/Freepik)
Agência de notícias
Publicado em 22 de agosto de 2025 às 13h34.
A Polícia Federal (PF) indiciou, na última quarta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por suspeita de coação no curso do processo e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Dentre os materiais utilizados para compor o relatório final da investigação, estão mensagens obtidas a partir do telefone do ex-mandatário que, mesmo apagadas pelo dono do aparelho, foram extraídas pelos peritos da PF. Em casos assim, o órgão tem aplicado o uso de ferramentas e técnicas avançadas.
Segundo a corporação, as conversas entre os dois comprovam a participação de ambos na articulação de sanções dos Estados Unidos sobre o Brasil. Os diálogos recuperados pelos agentes foram colhidos com o auxílio de um software de extração de dados e, de acordo com o relatório, "possuem relevância para o contexto investigativo".
"Cabe ressaltar que grande parte das mensagens, armazenadas no dispositivo apreendido foram excluídas pelo investigado, sendo recuperadas pelo software de extração de dados, permitindo a análise e contextualização com os fatos sob apuração", diz o documento.
Apesar do "êxito na recuperação de grande parte dos diálogos", a PF informou que diversos arquivos de mídia — áudios, fotos e vídeos — não puderam ser recuperados. "Isso se deve ao fato de que o banco de dados do WhatsApp não armazena os arquivos multimídia em si, mas apenas seus metadados, como nome do arquivo, caminho no sistema de arquivos, tipo de mídia e data/hora de envio", escreveram os policiais.
Apesar de explicar a extração no relatório, a corporação não especificou qual foi a ferramenta utilizada para coletar as informações divulgadas.
Em 2023, uma reportagem do GLOBO mostrou como o órgão age para recuperar conteúdos dos celulares dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, por exemplo. Após a apreensão, os aparelhos são desligados, lacrados e encaminhados imediatamente para o Instituto Nacional de Criminalística (INC), em Brasília.
Chegando ao INC, os telefones vão para um laboratório especializado. A primeira etapa do trabalho dos peritos é "descriptografar" os aparelhos para acessar os dados protegidos. Em seguida, é feita uma cópia forense de todo o conteúdo para os servidores da PF. As análises são feitas a partir dessa cópia, e não diretamente nos celulares apreendidos.
Se o conteúdo original foi apagado, os peritos usam softwares especializados para tentar recuperá-lo. Uma das ferramentas mais avançadas e conhecidas é a israelense Cellebrite Premium, que consegue desbloquear, extrair e analisar dados de celulares e tablets.
Ainda em 2023, a Diretoria Técnico-Científica da Polícia Federal (Ditec/PF) chegou a investir US$ 244 mil — cerca de R$ 1,3 milhão na cotação atual — para contratar a ferramenta forense americana GrayKey. O mecanismo também é utilizado para desbloqueio e análise de dados de dispositivos móveis com suporte para os sistemas operacionais iOS e Android.
Caso, mesmo com o uso da tecnologia, não seja possível acessar as informações, o órgão pode enviar um ofício a empresas como a Meta (dona de Facebook, Messenger, WhatsApp e Instagram) para solicitar os dados. E se o pedido for ignorado ou houver obstrução, a PF pode encaminhar a situação à Justiça para obter uma quebra de sigilo.
Mesmo que a PF não consiga acessar os dados do telefone por meio da quebra de sigilo, ainda é possível mapear os lugares por onde o aparelho em questão passou nos últimos dias, por exemplo. Informações como essas podem ser úteis à investigação, pois ajudam a revelar onde o dono daquele dispositivo esteve.
A criptografia de ponta a ponta do WhatsApp impede que as mensagens sejam lidas por terceiros enquanto estão sendo enviadas. Nem mesmo a Meta ou governos podem interceptá-las. No entanto, se a polícia tiver acesso físico ao aparelho de celular, ela consegue extrair o conteúdo das mensagens diretamente do dispositivo.
Isso acontece porque a criptografia protege a mensagem durante o trajeto, mas não no aparelho em si. É por isso que os peritos conseguiram acessar as mensagens de Bolsonaro, por exemplo, já que tinham o celular dele em mãos.