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Jack Dorsey: uma trajetória a 140 caracteres

Relembre a jornada empresarial do criador e, até esta segunda-feira, 29, presidente do Twitter

Jack Dorsey, ex-CEO e fundador do Twitter (Chesnot/Getty Images)

Jack Dorsey, ex-CEO e fundador do Twitter (Chesnot/Getty Images)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 29 de novembro de 2021 às 18h48.

Última atualização em 21 de fevereiro de 2025 às 07h27.

Com cerca de 200 milhões de usuários, o Twitter, se fosse um país, teria quase o tamanho do Brasil em número de habitantes. É natural, portanto, que cada mudança em sua governança provoque barulho — ou produza debate entre seus habitantes, ou, mais apropriado para este caso, usuários. Foi o que se viu nesta segunda-feira, 29, com o fim da 'Era Jack Dorsey', uma gestão que durou seis anos e que permitiu o retorno e a redenção do excêntrico fundador da rede social, famosa por ter um verbo próprio para sua plataforma.

Dorsey nasceu em Saint Louis, no estado americano do Missouri, em 19 de novembro de 1976. Visto como uma criança e adolescente tímido, começou a se interessar por computadores assim que ganhou um PC. Sozinho, aprendeu a programar e, aos 15 anos, já era considerado um prodígio nas linguagens de computador.

Talvez por isso, sua trajetória acadêmica seja típica de inovadores do Vale do Silício. Nos anos 1990, depois de um curto período estudando na Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri e na Universidade de Nova York, seguiu os passos de outros grandes fundadores da big tech americana, como Steve Jobs e Mark Zuckerberg, e abandonou a graduação no último semestre do curso.

A fundação do Twitter

Dali para frente, saiu em busca de trabalho. Entre 1999 e 2005, Dorsey passou por diversas empresas, sempre atuando na criação de softwares, no período da bolha do pontocom. Em meados de 2005, conheceu Evan Williams, um conhecido empreendedor da internet que havia vendido a Blogger, uma das primeiras plataformas de publicação de blogs, para o Google dois anos antes.

Depois da venda, Williams fundou a Odeo, uma startup que permitia que usuários criassem e compartilhassem podcasts. Para colocar o serviço no ar, a empresa buscava jovens talentos da programação, e Dorsey foi um deles.

Em busca de uma nova identidade para a empresa, a Odeo abriu espaço para que seus programadores apresentassem ideias. Em uma dessas oportunidades, Dorsey tirou do papel um conceito antigo, que combinava mensagens de texto, populares nos EUA, com o formato de redes sociais como o MySpace. Em 2006, nasceu o Twitter.

O primeiro tweet, feito no projeto piloto da rede, ainda está lá. Publicado em 21 de março de 2006, na conta @jack, a primeira da plataforma, Dorsey escreveu: “Just setting up my twttr” — “apenas configurando meu Twitter”, em tradução livre.

Crescimento e polêmicas

Nas eleições americanas de 2008, que levaram Barack Obama à presidência dos EUA, o microblog serviu como um meio de atualização quase em tempo real para apoiadores das campanhas tanto do democrata quanto de seu oponente, John McCain. Esse momento foi um marco para a internet e demonstrou o potencial da plataforma.

Em 2010, o Twitter já contava com 105 milhões de usuários, que postavam 55 milhões de mensagens por dia. Com esse crescimento explosivo, a empresa enfrentava dificuldades para manter a infraestrutura do site, que frequentemente saía do ar. A tela da "fail whale", que informava sobre a indisponibilidade da plataforma, tornou-se comum para os usuários.

Nesse período, Dorsey já havia sido afastado da rotina da empresa. Evan Williams assumiu a presidência, afirmando que o Twitter entrava em uma fase mais desafiadora e precisava de um líder único e focado.

O jovem fundador seguiu para outros negócios. Em 2009, tornou-se investidor da rede social Foursquare, num período em que o compartilhamento de dados de geolocalização em tempo real ainda não era tão debatido. Também criou, junto com Jim McKelvey, a Square, uma empresa de serviços financeiros e pagamentos móveis. Em 2015, a Square abriu seu capital na bolsa, e Dorsey segue como seu CEO desde então.

Em novembro de 2013, a fortuna de Dorsey se multiplicou com o IPO do Twitter. As ações da empresa começaram a ser negociadas a 26 dólares, e, poucas horas depois, chegaram a 45 dólares. Dono de mais de 23 milhões de ações, Dorsey tornou-se bilionário.

Desafios recentes

Quando retornou ao cargo de CEO em 2015, Dorsey já enfrentava dificuldades e polêmicas. Foi a partir desse período que políticos republicanos começaram a acusar o Twitter de censurar vozes conservadoras. A figura mais proeminente entre os críticos foi o ex-presidente Donald Trump, que usou a plataforma para ameaçar regulá-la e para atacar adversários. Após a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, o Twitter baniu Trump da rede.

Nos últimos anos, o baixo lucro da empresa e seu crescimento lento trouxeram outra dor de cabeça para Dorsey. Em 2020, o fundo de investimento Elliott Management, que havia adquirido uma fatia relevante do Twitter, pressionou pela saída do fundador do cargo de CEO. O principal argumento era de que ele não se dedicava exclusivamente à empresa.

Em tempos pré-pandemia, Dorsey passava as manhãs no Twitter e, no período da tarde, atravessava a rua para trabalhar na Square. Para se manter no cargo, aceitou adicionar dois novos membros ao Conselho de Administração da companhia, que passaram a avaliar sua liderança e a estrutura organizacional da empresa.

O anúncio de sua saída, nesta segunda-feira, e a entrada de Parag Agrawal como novo CEO marcam o desfecho desse processo. Agrawal assume a liderança em um momento intenso para o Twitter, que busca atingir 315 milhões de usuários ativos diários monetizáveis e dobrar sua receita anual até o fim de 2023.

Parag, no entanto, é uma escolha de Dorsey e deve dar continuidade ao seu legado. Ao contrário do Facebook e outras gigantes, o Twitter não apostou fortemente na publicidade baseada em dados sensíveis dos usuários. "Eu tenho uma profunda confiança em Parag para assumir o comando do Twitter. Seu trabalho nos últimos 10 anos foi transformador. Sou grato pelo seu talento e sensibilidade. É a sua vez de liderar", declarou Dorsey em sua despedida.

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