Tecnologia

Microsoft rompe com espionagem israelense e corta acesso da Unidade 8200 a serviços de nuvem e IA

Empresa suspende serviços após investigação revelar uso de tecnologia para vigiar milhões de palestinos por hora

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 26 de setembro de 2025 às 10h03.

A Microsoft cortou o acesso da Unidade 8200, braço de inteligência das Forças Armadas de Israel, a serviços de nuvem e inteligência artificial após descobrir que a tecnologia vinha sendo usada para vigiar em massa a população palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. A informação foi revelada pelo jornal britânico The Guardian, em parceria com os veículos israelenses +972 Magazine e Local Call.

Segundo a reportagem, a Microsoft considerou que houve violação dos termos de uso da plataforma Azure, sua infraestrutura global de armazenamento e processamento de dados. A decisão foi comunicada diretamente ao Ministério da Defesa de Israel na semana passada.

A suspensão afeta apenas parte dos serviços fornecidos à Unidade 8200, mas marca a primeira vez que uma grande empresa de tecnologia dos EUA encerra formalmente uma parceria com o Exército israelense desde o início da ofensiva em Gaza, em 2023.

Monitoramento em massa e coleta de "um milhão de chamadas por hora"

De acordo com fontes internas da própria unidade, o projeto de vigilância usava a capacidade quase ilimitada da Azure para armazenar até 8.000 terabytes de ligações interceptadas de palestinos, que podiam ser ouvidas, analisadas e cruzadas com dados por meio de ferramentas de IA.

O programa era tão abrangente que o lema interno dos agentes da 8200 virou “um milhão de chamadas por hora”. A tecnologia, segundo as investigações, foi usada para selecionar alvos de bombardeio em Gaza — que já resultaram na morte de mais de 65 mil pessoas, segundo estimativas de agências humanitárias.

Após a publicação do escândalo em agosto, a Unidade 8200 retirou rapidamente os dados dos servidores da Microsoft na Holanda, transferindo-os para a plataforma da Amazon Web Services (AWS). Nem o Exército de Israel nem a Amazon comentaram o caso.

Crise interna e revisão de contratos estratégicos

A revelação causou pressão dentro da própria Microsoft, com protestos de funcionários e acionistas. O grupo “No Azure for Apartheid”, formado por colaboradores da empresa, organizou manifestações e exigiu o rompimento de contratos com o setor militar israelense.

O vice-presidente da Microsoft, Brad Smith, comunicou aos funcionários a decisão de encerrar os serviços à unidade militar. Em e-mail obtido pelo Guardian, Smith afirmou que a empresa “não fornece tecnologia para facilitar a vigilância em massa de civis” e que esse princípio “tem sido aplicado em todos os países há mais de duas décadas”.

A decisão foi baseada em uma segunda investigação interna, conduzida por advogados do escritório Covington & Burling, que analisaram mensagens e documentos internos da empresa. A Microsoft alegou que executivos da companhia, incluindo o CEO Satya Nadella, não tinham conhecimento prévio do uso da Azure para armazenar conteúdo de ligações interceptadas.

Impacto no modelo de negócios e armazenamento militar

Embora a suspensão atinja diretamente a Unidade 8200, ela não afeta contratos mais amplos da Microsoft com o governo israelense, que continua tendo acesso a outros serviços corporativos. A medida, no entanto, pode gerar novas discussões dentro de Israel sobre a prática de armazenar dados militares sensíveis em nuvens de empresas estrangeiras.

A ação da Microsoft também pode provocar um efeito cascata sobre outras big techs — como Amazon, Google e Oracle — que mantêm parcerias com governos em zonas de conflito. Até agora, nenhuma outra empresa de tecnologia dos EUA anunciou o rompimento de contratos semelhantes.

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