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O 'novo Zuckerberg': como a virada política do CEO impactou a Meta

Após anos como ícone progressista, Mark Zuckerberg adota uma postura conservadora e se alinha a Trump

Mark Zuckerberg: fundador do Facebook passou por mudanças nos últimos anos (AFP / Correspondente autônomo/Getty Images)

Mark Zuckerberg: fundador do Facebook passou por mudanças nos últimos anos (AFP / Correspondente autônomo/Getty Images)

Publicado em 25 de junho de 2025 às 05h01.

Última atualização em 25 de junho de 2025 às 06h11.

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Quando Mark Zuckerberg surgiu no Vale do Silício em 2004, sua reputação era a de jovem prodígio, tecnicamente brilhante, mas com uma postura socialmente estranha. O jovem fundador do Facebook, então, conquistou rapidamente o título de "nerd do Vale".

Agora, mais de uma década depois, ele se transformou em um dos CEOs mais poderosos e o segundo homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 251 bilhões, segundo a Bloomberg. Em 2025, Zuckerberg se tornou um dos líderes mais polêmicos, com uma imagem renovada, uma nova postura política e um apetite aparentemente incansável por inovação.

Zuckerberg, que já foi visto como o símbolo da cultura progressista do Vale do Silício, fez uma virada política surpreendente no ano passado. De defensor de causas liberais, ele agora se aproxima do movimento conservador dos Estados Unidos, especialmente após sua aliança com o presidente Donald Trump.

No processo, ele reformulou as políticas de moderação de conteúdo da Meta e direcionou a empresa para se tornar uma gigante da inteligência artificial, um movimento que tem o potencial de redefinir completamente seu futuro.

O começo de Zuckerberg no Vale do Silício

Zuckerberg era considerado um jovem prodígio de Harvard quando fundou o Facebook, com uma visão de transformar como as pessoas se conectam.

"O Facebook não foi originalmente criado para ser uma empresa. Foi criado para cumprir uma missão social — tornar o mundo mais aberto e conectado", disse ele em uma carta para a abertura de capital (IPO) do Facebook em 2012.

Nos seus primeiros anos, Zuckerberg era visto como um visionário com um objetivo claro: utilizar a tecnologia para criar uma plataforma de comunicação global.

O Facebook, em sua essência, pretendia não apenas conectar indivíduos, mas também impactar de forma positiva a sociedade. "Acreditamos que um mundo mais aberto e conectado ajudará a criar uma economia mais forte com empresas mais autênticas que criam melhores produtos e serviços", disse ele na mesma carta.

Aos poucos, a missão do Facebook foi além do simples contato entre pessoas e passou a incluir a ideia de um espaço para o engajamento cívico, política e social. Em 2017, Zuckerberg escreveu: "Com a fundação que construímos, nosso próximo foco será desenvolver a infraestrutura social para comunidade — para nos apoiar, nos manter seguros, para nos informar e para inclusão de todos".

Mas a trajetória inicial da companhia não foi livre de conflitos. Zuckerberg foi acusado de se apropriar da ideia do Facebook, compartilhada com os gêmeos Winklevoss, que desenvolveram uma proposta semelhante. Após uma série de disputas legais, Zuckerberg alegou que a ideia não era original deles, conseguindo vencer o processo. Mas não parou por aí: sua decisão de expulsar o cofundador Eduardo Saverin gerou muitas críticas dentro da empresa, reforçando sua imagem de alguém disposto a tomar decisões drásticas para garantir o sucesso do projeto, sem hesitar em sacrificar relações pessoais para alcançar seus objetivos.

A própria construção da empresa foi marcada por estratégias agressivas, muitas vezes descritas como implacáveis, e um foco absoluto em crescimento rápido. Mesmo nas primeiras versões do Facebook, os conflitos entre os fundadores eram evidentes e muitos dos primeiros investidores da companhia se viram com pouca ou nenhuma influência à medida que Zuckerberg ganhava mais controle.

Além disso, as decisões de Zuckerberg, como permitir que usuários criassem perfis sem a necessidade de autenticação em plataformas externas e o uso de dados pessoais de forma ampla, também foram pontos de fricção.

"Mark sempre foi um excelente estrategista, mas a forma como ele conduziu certas decisões, como no caso de Eduardo e dos Winklevoss, mostrou uma disposição em cortar custos pessoais e éticos em nome da sobrevivência e do sucesso da empresa", disse uma fonte que preferiu se manter anônima ao Financial Times."Ele era alguém com uma energia única, totalmente focado em ganhar. No início, parecia que ele estava tentando se encaixar em um modelo de CEO tradicional, mas dentro dele, sempre existiu essa visão de domínio", afirmou.

Uma virada à direita

Ao longo da década de 2020, no entanto, a figura de Zuckerberg passou por uma transformação.

Sua política, antes voltada para a filantropia e o progressismo, foi sendo gradualmente substituída por uma postura mais pragmática e, por vezes, de alinhamento com posições conservadoras.

O marco da mudança veio com a reeleição de Donald Trump no ano passado. Em 2024, após um atentado contra o então candidato à presidência, Zuckerberg expressou apoio público ao ex-presidente, descrevendo sua reação ao incidente como “uma das coisas mais corajosas” que ele já viu.

Com a ascensão de Trump ao poder, Zuckerberg fez movimentos estratégicos para se aproximar do governo. Ele coorganizou um evento para a posse de Trump e fez uma doação substancial de US$ 1 milhão para o evento. Depois, quando Trump foi eleito, anunciou a alteração das políticas de moderação de conteúdo da Meta, que passou a favorecer uma postura de “liberdade de expressão”.

Além disso, Zuckerberg, em um episódio de janeiro de 2025 do Joe Rogan Experience, comentou sobre o que ele considerava ser uma “energia neutra” na cultura corporativa americana, reclamando que a corporação estava excessivamente focada em “energia feminina” e deveria incluir mais “energia masculina”. "Eu acho que a energia masculina é boa, e obviamente a sociedade tem bastante disso, mas acho que a cultura corporativa realmente tentou se afastar disso", afirmou.

As mudanças não passaram despercebidas. Internamente, muitos funcionários da Meta se sentiram desconfortáveis com esse novo rumo, com alguns descrevendo o momento como uma "vingança dos nerds", segundo o Financial Times.

Embora a mudança política tenha gerado críticas, o impacto no mercado foi positivo para a Meta. O preço das ações da empresa subiu de US$ 585,51 em dezembro de 2024 para US$ 712,20 em junho de 2025, refletindo uma alta de 21% no ano.

Para Gene Munster, cofundador da Deepwater Asset Management, em entrevista ao Yahoo Finances, a relação de Zuckerberg com Trump parece ser parte de um esforço consciente para minimizar riscos regulatórios e garantir que a Meta se posicione de forma vantajosa no cenário político. "Primeiro, as empresas de tecnologia reconheceram que seu futuro é significativamente influenciado por Washington, levando-as a buscar uma colaboração mais estreita com a administração. Segundo, Trump valoriza a lealdade, e as contribuições financeiras são uma maneira de os indivíduos demonstrarem sua fidelidade a ele. Para ser levado a sério, é necessário se envolver no 'pague para jogar'", afirmou.

Em declarações recentes, Zuckerberg explicou as mudanças na política da Meta, incluindo seu alinhamento com o governo Trump, como uma estratégia para defender a liberdade de expressão e proteger os interesses da empresa diante das crescentes pressões regulatórias globais. "Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando para censurar mais," afirmou ele em pronunciamento em janeiro deste ano. "A única maneira de resistir a essa tendência global é com o apoio do governo dos EUA," disse ele, mencionando a Europa, a América Latina e a China como exemplos de regiões onde, segundo ele, estão sendo institucionalizadas a censura e restrições às plataformas digitais.

Zuckerberg não está sozinho nesse movimento. Outros líderes do setor, como Jeff Bezos (Amazon) e Sergey Brin (Google), também têm buscado estabelecer laços com a administração Trump. A razão para essas aproximações é comum: fomentar um ambiente regulatório mais favorável, reduzir o controle antitruste e garantir vantagens em contratos governamentais. Para os analistas, essas iniciativas visam evitar represálias e criar um cenário mais seguro para os negócios das big techs.

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