Repórter
Publicado em 30 de outubro de 2025 às 09h54.
*LISBOA | No terceiro dia do Atlantic Convergence, evento promovido pela alemã DE-CIX, o debate sobre infraestrutura e conectividade ganhou um novo tom — o da segurança e da soberania digital. Nesta quinta-feira, 30, o Observatório de Estratégia e Inteligência da Defesa (OEID) apresentou o paper “Strengthening Atlantic Security and Defense Cooperation”, com recomendações para fortalecer a cooperação entre países da região atlântica.
“O documento é direto, dividido em três partes — riscos estratégicos, oportunidades estratégicas e recomendações”, explicou Luís Bernardino, presidente do OEID. “Defendemos a criação de um Fórum de Segurança Atlântico, que reúna países e organizações de ambos os lados do oceano para definir prioridades e resolver desafios relacionados à conectividade digital”.
Entre as propostas, o paper destaca a criação de uma Iniciativa Atlântica de Resiliência Conjunta, reunindo governos, empresas e instituições de defesa para garantir infraestruturas mais resilientes e sustentáveis, especialmente no que diz respeito aos cabos submarinos e sistemas de comunicação.
Outra sugestão é o estabelecimento dos chamados “Corredores Azuis” (Blue Corridors) — zonas seguras por onde cabos submarinos poderiam atravessar com maior proteção e monitoramento, reduzindo riscos de sabotagem, pensando principalmente nos ataques aos cabos vindos de nações como a Rússia.
Cabos submarinos: funcionários produzem cabos submarinos na empresa chinesa Qingdao Hanhe Cable (Getty Images)
A ideia que isso aumente o número de instalações, ampliando a capacidade de tráfego. “Precisamos simplificar os processos de licenciamento e criar capacidades para reparar cabos no próprio Atlântico. Parece óbvio, mas ainda não existe uma estrutura coordenada para isso”, afirmou Bernardino.
A engenheira Nádia da Costa Ribeiro, membro do board do OEID, destacou a importância de harmonizar legislações e normas de cibersegurança entre os países atlânticos, especialmente diante do aumento do tráfego de dados entre Europa, África e América do Sul.
“Mesmo quando o tráfego é roteado diretamente entre África e Brasil, ele ainda carrega dados de empresas e cidadãos europeus, sujeitos a legislações da União Europeia. Isso mostra o quanto precisamos de um quadro jurídico harmonizado e de cooperação multilateral”, observou Ribeiro.
Segundo ela, Portugal tem papel estratégico nesse diálogo, tanto pela posição geográfica quanto pelos laços históricos e linguísticos que o conectam a África e à América do Sul. “O Brasil é hoje um hub relevante de conteúdo e exporta dados, sobretudo para países africanos de língua portuguesa. Mas boa parte desse tráfego ainda passa por Portugal — o que reforça a necessidade de redundância e de regras claras entre jurisdições. Não há conectividade global sem confiança e coordenação entre os dois lados do oceano".
O jornalista viajou a convite da DE-CIX.