Repórter
Publicado em 13 de junho de 2025 às 11h12.
A Tesla entrou com um processo contra o ex-engenheiro Zhongjie “Jay” Li, acusado de roubar informações confidenciais relacionadas ao robô humanoide Optimus e usá-las para criar uma startup concorrente. Segundo a empresa, Li transferiu arquivos sensíveis sobre o design avançado de mãos robóticas para dispositivos pessoais pouco antes de deixar o cargo. Dias depois, fundou a Proception AI, que desenvolve mãos humanoides com apoio da aceleradora Y Combinator.
A Tesla alega que Li violou políticas internas ao baixar documentos em dois celulares pessoais e continuar acessando os sistemas da empresa até seu último dia de trabalho. A ação judicial afirma que os dados roubados permitiram à Proception "encurtar significativamente o processo tradicional de desenvolvimento".
No centro da disputa está o design da nova mão do Optimus, o robô humanoide da Tesla. O projeto mais recente apresenta 22 graus de liberdade apenas nos dedos, e mais três no pulso e antebraço — o que, segundo a empresa, dobra a destreza da geração anterior. O segredo estaria na realocação dos atuadores (uma espécie de “músculo artificial”) para o antebraço, conectados aos dedos por estruturas similares a tendões, imitando a anatomia humana.
Optimus, da Tesla: fabricante promete que androide poderá se encarregar de tarefas que hoje somente humanos podem fazer (Future Publishing/Getty Images)
De acordo com engenheiros da Tesla, a mão representa “quase metade da complexidade de engenharia” do Optimus. Apesar disso, demonstrações públicas, como a que viralizou com o robô pegando uma bola de tênis, foram feitas por teleoperação e não de forma autônoma. A próxima etapa do desenvolvimento envolve sensores táteis mais amplos, para executar tarefas com maior delicadeza e precisão.
Fundada por Jay Li e com sede em Palo Alto, na Califórnia, a Proception AI se propõe a criar mãos robóticas humanoides de alta precisão, voltadas para pesquisa, saúde e logística. A startup já entregou um protótipo funcional em apenas quatro meses e afirma coletar dados a partir de interação humana direta, em vez de teleoperação — método que, segundo os fundadores, acelera o treinamento de modelos de IA.
A empresa faz parte do portfólio da Y Combinator, maior aceleradora de startups do mundo, e já levantou US$ 500 mil em uma rodada pré-seed. A ambição, segundo documentos, é desenvolver robôs humanoides completos com capacidade autônoma para tarefas complexas. Hoje, a Y Combinator apoia mais de 70 startups de robótica, refletindo o interesse crescente no uso de modelos fundacionais — sistemas amplos de inteligência artificial capazes de generalizar comportamentos.
A acusação contra Li não é um caso isolado. A Tesla tem histórico de adotar postura agressiva na proteção de sua propriedade intelectual. Em um processo anterior, a empresa conseguiu condenar Klaus Pflugbeil, engenheiro germano-canadense, por roubo de dados sobre baterias — ele foi condenado a dois anos de prisão após ação conjunta com o Departamento de Justiça dos EUA.
Outro caso envolveu Alexander Yatskov, ex-engenheiro térmico da Tesla, acusado de levar informações do projeto Dojo, sistema avançado de treinamento de IA. O caso foi encerrado com um acordo extrajudicial.
A empresa de Elon Musk afirma ter investido “bilhões de dólares e centenas de engenheiros” no desenvolvimento de suas tecnologias proprietárias, como o Optimus, e promete continuar vigilante. A disputa com a Proception deve ter desdobramentos nos tribunais nos próximos meses.