Tecnologia

TV 3.0 transforma canais em aplicativos e deve ampliar receita das emissoras; saiba o que muda

Novo padrão, batizado de DTV+, traz imagem em até 8K, som imersivo e interatividade — e conta com decreto presidencial para começar a chegar aos lares antes da Copa de 2026

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 27 de agosto de 2025 às 12h40.

Na sala de estar, a cena parece comum: a televisão exibe um jogo de futebol, mas o controle remoto oferece opções além do volume ou da troca de canal. O espectador pode escolher a câmera, rever o gol por outro ângulo e até comprar a camisa do time com um clique. Não se trata de um serviço pago de streaming, mas da promessa da nova TV 3.0, batizada oficialmente no Brasil como Digital Television+ (DTV+).

A tecnologia, que une transmissão aberta tradicional com recursos digitais avançados, foi oficializada por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira, 27. O ato marcou o início da transição para uma geração de televisão que tenta ressignificar a TV aberta diante da avalanche dos streamings. Com qualidade de imagem em até 8K, som imersivo digno de cinema e possibilidades de personalização e compra em tempo real, o projeto é considerado o maior salto tecnológico da radiodifusão brasileira desde a chegada da cor, nos anos 1970.

Na prática, a TV 3.0 transforma canais em aplicativos, acessados diretamente nos televisores. Em vez de zappear com o controle, o usuário terá ícones que se assemelham ao ambiente das smart TVs. Essa mudança abre espaço para um novo modelo de interação: além da programação convencional, cada emissora poderá oferecer conteúdos sob demanda, séries, jogos, votações em tempo real e publicidade direcionada.

No limite, um telespectador que busca trocar de carro pode receber propagandas apenas de montadoras, enquanto outro, fã de culinária, terá anúncios de utensílios de cozinha.

Essa personalização só se torna plena quando o aparelho estiver conectado à internet. Ainda assim, o básico — qualidade de imagem em 4K ou 8K e som multicanal imersivo — estará disponível mesmo sem conexão. A promessa, segundo o Ministério das Comunicações, é manter a gratuidade e a característica universal da TV aberta.

A estratégia por trás da tela

O Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre definiu em 2024 o nome oficial DTV+. O Brasil, que já havia liderado a transição para a TV digital na América Latina, tenta novamente se colocar na vanguarda. O calendário prevê os primeiros sinais de transmissão até a Copa do Mundo de 2026, com uma transição estimada em até 15 anos para cobertura nacional.

A Globo, maior emissora do país, já iniciou testes em regiões específicas, tanto via antena quanto pelo Globoplay, exibindo parte dos recursos do novo padrão. Segundo especialistas, o alinhamento entre radiodifusores, fabricantes e governo foi crucial para não repetir os impasses da transição analógica-digital.

O Ministério das Comunicações confirma que fabricantes de televisores participam das discussões desde o início, preparando a integração da tecnologia nos novos aparelhos. Até lá, quem quiser experimentar os recursos precisará de um conversor. Ainda não há preço definido, mas protótipos já existem e o governo discute a possibilidade de subsídios ou distribuição gratuita para famílias de baixa renda, como ocorreu no passado com o sinal digital.

O que muda para o consumidor

A promessa é transformar a TV aberta em algo mais próximo da experiência digital à qual o público já se acostumou com os streamings, mas sem perder sua característica essencial: ser gratuita. Entre as mudanças concretas estão:

  • Melhor imagem, em até 8K, com contraste e brilho superiores;

  • Som envolvente, que simula áudio vindo de múltiplas direções;

  • Interatividade, como enquetes, escolha de ângulos de câmera, compras instantâneas de produtos exibidos e acesso a conteúdos extras;

  • Publicidade segmentada, baseada no perfil do espectador;

  • Integração plena com a internet, para quem quiser expandir a experiência.

Em termos práticos, não será preciso trocar imediatamente de televisão. O conversor garantirá a adaptação de aparelhos antigos, e, ao longo do tempo, os novos televisores já virão de fábrica com suporte embutido.

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