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US$ 55 bilhões por The Sims e Fifa: negócio pode ter saído caro para compradores da EA

Silver Lake e aliados sauditas oferecem US$ 210 por ação da EA, no maior lbo da história, acreditando que IA pode multiplicar lucros da empresa até 2027

Publicado em 29 de setembro de 2025 às 14h43.

A maior aquisição alavancada de todos os tempos foi anunciada nesta segunda-feira, 29. Um consórcio liderado por Silver Lake, o fundo soberano saudita PIF e a Affinity Partners, de Jared Kushner (genro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump), comprará a Electronic Arts (EA) por US$ 55 bilhões, mais de 25 vezes o lucro estimado (GAAP) da companhia em 2026.

O grupo pagará US$ 210 por ação, valor que representa um prêmio de 25% em relação ao fechamento anterior ao rumor do negócio, segundo o site especializado Barron's. A operação será 100% em dinheiro, o que a torna também o maior acordo "all-cash" do ano até agora.

A EA é uma das maiores desenvolvedoras de games do mundo, com franquias como The Sims, Battlefield, Fifa, Madden NFL e EA Sports FC. A expectativa do mercado é que a empresa gere mais de US$ 8 por ação em lucro ajustado até o ano fiscal de 2026, enquanto o lucro GAAP — que inclui US$ 600 milhões em compensação com ações — deve girar em torno de US$ 3,50.

A estrutura da compra envolve US$ 36 bilhões em capital próprio e US$ 20 bilhões em dívida, financiada pelo JPMorgan.

O PIF, que já detinha 9,9% da EA, manterá sua participação no negócio. O alto volume de capital próprio reduz o risco financeiro, mas também limita o potencial de retorno do consórcio.

Segundo analistas do Citi, um LBO nesses moldes gera um retorno interno (IRR) estimado de apenas 3%, bem abaixo da meta de 15% normalmente perseguida em transações desse porte.

Com alavancagem de cerca de 7 vezes o Ebitda e estimativa de taxa de juros de 7%, a EA pagará até US$ 1,4 bilhão por ano em juros, contra um fluxo de caixa livre atual de aproximadamente US$ 1,8 bilhão.

A principal aposta dos compradores está no potencial de transformação da EA com uso massivo de inteligência artificial (IA).

A tecnologia já é utilizada para acelerar o desenvolvimento de jogos e testes automatizados, mas o grupo acredita que ela poderá substituir dubladores, gerar conteúdo dinâmico e personalizar experiências em tempo real. A expectativa é que o corte de custos operacionais via IA eleve margens e aumente significativamente o lucro da empresa, justificando o valuation elevado e a grande alavancagem.

O lançamento de Battlefield 6, previsto para 10 de outubro, também é visto como catalisador. O jogo vem sendo bem avaliado por analistas como Citi e Jefferies, que estimam vendas acima da média da franquia.

Apesar do otimismo dos compradores, nem todos no mercado veem o negócio como vantajoso. O Benchmark Capital considera que a oferta “subestima o valor intrínseco” da EA e elevou sua projeção para US$ 250 por ação, citando um pipeline capaz de adicionar US$ 2 bilhões em receitas recorrentes até 2028.

Outras casas rebaixaram suas recomendações após o anúncio: Wedbush: de Outperform para Neutro (target de US$ 200); Freedom Capital: de Compra para Manutenção (US$ 195); HSBC: de Compra para Manutenção (US$ 191); Baird: de Outperform para Neutro (US$ 210). Já o Goldman Sachs manteve recomendação neutra e preço-alvo de US$ 170, ponderando que o múltiplo pago (cerca de 17x Ebitda ajustado de 2027) é semelhante ao da compra da Activision Blizzard pela Microsoft.

Kushnber e PIF

O fundo soberano saudita PIF tem ampliado sua presença no setor de games desde a criação da Savvy Games Group, em 2021, com um orçamento de US$ 38 bilhões. A EA junta-se a um portfólio que inclui investimentos em Nintendo, Take-Two e títulos como Pokémon Go e Monopoly Go.

Fontes afirmaram ao Financial Times que Jared Kushner foi fundamental para destravar a negociação, convencendo o PIF a apoiar a oferta e ajudando a pavimentar o caminho junto ao CFIUS — órgão americano que avalia investimentos estrangeiros em empresas sensíveis. O CEO Andrew Wilson permanecerá no cargo. Durante sua gestão, a empresa dobrou a receita e multiplicou por cinco o valor de mercado, segundo a Silver Lake.

A Electronic Arts deixa o mercado público em um momento de euforia, com suas ações em máxima histórica após anos de estagnação, impulsionada pela expectativa de sucesso de Battlefield 6. Às 14h41, no horário de Brasília, as ações da empresa subiam 4,55%, com alta acumulada de 38,7% no ano até agora.

A decisão de vender agora surpreendeu parte dos analistas, que esperavam uma valorização maior caso a franquia confirmasse seu retorno de sucesso. Mas com o mercado de games cada vez mais dependente de megafranquias e receitas recorrentes, os novos donos preferiram garantir o controle agora — apostando que a IA fará o resto.

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